O incidente da estudante de turismo que foi vaiada e hostilizada do campus da Uniban em São Bernardo provocou várias reações, moralistas e liberais nas discussões. Cerca de 700 colegas expulsaram uma moça que resolveu usar uma saia muito curta para ir à Escola. Educadores e pedagogos saíram em campo para analisar o tema.
O que poucos tem perguntado e o que considero mais importante, sem entrar no mérito conservador ou não, é o que está por detrás deste cenário, e que implicações psicológicas um evento aparentemente corriqueiro em nossos campus universitários provoca no universo sociológico da questão. O que este incidente aponta? O que existe nos bastidores da alma social brasileira?
Rollo May afirmou que “a impotência gera violência”. Não faz sentido um grupo de universitários vaiar uma pessoa por usar um estilo peculiar, por mais escandaloso e provocativo que seja. Afinal, universidade é um lugar de idéias plurais, relativas e subjetivas, no qual se admite conceitos, posições e ideologias diferentes. Mas o que está por detrás é o fato de que a sociedade vive no limite de uma discussão crítica: Até onde vão os limites da liberalidade? Até onde pode-se afirmar que isto deve ser aceito no universo plural? Até onde, em nome da tolerância, é possível aceitar ou não um determinado comportamento atípico ou exagerado?
Recentemente Gilberto Gil compôs uma música, que tem o discurso de pastores e padres, sobre a questão da liberação moral dos pais na educação dos filhos. Sua música por ser acessada no you tube, ou sua letra pode ser encontrada no google, com o título: “Os pais”. Percebe-se que alguém resolve discutir a questão de forma artística e poética. O tema é palpitante. Pedras clamam!
Sociedades estabelecem normas e convenções, e precisam encontrar seus limites, seu ponto de equilíbrio.
A questão da corrupção dos sistemas e poderes públicos no Brasil e o tratamento que é dado aos aposentados no Brasil, por exemplo, são temas provocativos. Mais cedo ou mais tarde, a sociedade se mobiliza, de forma até irracional, como foi o incidente da universidade, para dizer que é necessário um mínimo de equilíbrio e bom senso para a sobrevivência grupal (ou, se os antropólogos preferirem, tribal). A grande aldeia suporta novidades até certo ponto, mas então, entra num ponto de desequilíbrio e se organiza, ou desorganiza, de acordo com suas necessidades de manutenção.
A saia curta não é o ponto. A saia curta é o pingo d‘água numa sociedade. Aquela jovem foi execrada por estar na confluência destes movimentos inconscientes e coletivos da sociedade. Deu no que deu. Saia curta, saia justa!
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