Dias atrás passava um documentário na TV sobre a atriz e cantora francesa Brigitte Bardot. Ela, que foi ícone de beleza e sensualidade por pelo menos duas décadas (a de 60 e 70), hoje é uma grande ativista dos direitos dos animais. Foi cultuada em mais de 50 filmes. Badalada de um modo que deve assustar hoje até a Madonna. Venerada como a mulher ideal … Anos mais tarde, se deu conta da própria velhice. Hoje vive o fim da vida por uma causa pessoal maior do que todo estereótipo do belo que ela mesma foi. Uma das coisas que mais me impressionou foi a imagem de multidões atrás dela. Em uma cena assustadora, mostra-se a musa desmaiando no meio de uma legião de pessoas. Ela sai carregada nos braços de policiais que furam o coro de fanáticos, paparazzis, malucos e curiosos. Isso o que? Em 1967, por aí. Brigitte Bardot é uma mulher espetacular, é verdade. Nem atingiu com força o cinema americano por conta de seu inglês parco, por Hollywood já ter Marilyn Monroe como sua concorrente e pelo perfil um tanto erótico que ela traduzia em seus biquínis de época. Como ela casava e descasava direto, tentou o suicídio algumas vezes, amava roupinhas curtas, era boêmia e jovem, claro! Foi ficando infeliz e cada vez mais questionadora de sua existência de musa. Pouco antes de completar 40 anos, anunciou sua aposentadoria. Decidiu potencializar sua fama para defender os bichos. E, coisa mais impressionante: como estava farta de ser a mulher mais linda do mundo sempre, optou por ser a mais feia. Envelheceu sem fazer uma plástica e sem aplicar um botox sequer. Hoje é uma idosa largada, de cabelos desgrenhados, dentes judiados por muitos cigarros e aparência cansada. Que coisa mais louca a Bardot. Que aflitiva sua história. A mais bonita. Um dia deve encher o saco mesmo. Esse dia chegou para BB. Que coragem a dela. Ser ela mesma, dando uma banana para a indústria cinematográfica, um adeus à fútil idealização estética – a mesma que nela encontrava um ícone. De todo glamour fake da artista triste nasce uma causa pelos animais. E ela se doa de corpo e alma a isso. Ela leiloou tudo que tinha de mais precioso para erguer a “Fundação Brigitte-Bardot”. Mas quem aqui pode negar que sua história é fantástica? Quantos de nós nos entregamos de corpo e alma a uma causa maior e sacrificamos nossos caprichos por isso? Bardot está velha, feia, pobre, cansada. É triste ver a cena da musa de outrora hoje, andando com dificuldade, amparada por duas muletas. Mas ela nem liga. Já foi bizarro negar toda essa indústria estética e sair do campo das aparências. É ainda mais bizarro brigar com o mundo todo, se preciso, por uma causa que não lembra em nada o glamour de tempos passados. Eu, que hoje me pego em situações onde a vaidade tem tanto impacto, tanto reconhecimento, e a beleza tanta importância, confesso: me senti perdida no meu sistema de vaidades e caprichos quando conheci mais a história de Brigitte Bardot.
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