Neste Brasil varonil, muita coisa, ainda, precisa ser mudada. A partir da ‘imbecilização’ de grande parte de nós, os brasileiros. Uma moça que ganhou 1,5 milhão de reais ao participar de um programa de TV, virou heroína nacional. Celebridade das mais festejadas, como se isso fosse mudar o rumo das coisas, fosse aumentar, ou, diminuir, a cotação do dólar. O Brasil inteirinho parou, e grande parte continua parada, para saber detalhes sobre a vida privada da sortuda e, mais do que isso, alguns “astrólogos de plantão” querem adivinhar ou, mesmo, programar o futuro da jovem.
Ora, ela se inscreveu no programa, concorreu, teve méritos, venceu e abocanhou o prêmio. Nada mais do que isso. Ocorre que a mediocridade de grande parte dos nacionais, entende ser ela uma sumidade, uma pessoa fora do comum, uma coisa nunca antes vista. Não é bem assim. Ao que consta, falta mais objetividade na vida de muitos de nós. Estamos a nos contentar com pouca coisa. A vitória da moça da TV foi, para muitos, bem mais importante do que os fatos que ocorreram no Brasil, desde a saúde pública em frangalhos, até a falta de comando em diferentes setores da vida nacional.
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E, para completar, veio o “Caso Lázaro”, que dominou o noticiário e prendeu a atenção do País inteiro. Um criminoso caçado pela polícia (que estava, apenas, a cumprir com a sua obrigação constitucional de proteger a sociedade, e, de fato, assim o cumpriu) fez com que, também, o Brasil parasse para acompanhar, estupefato, o que mais parecia um filme de aventura policial. Não era. Foi um episódio sangrento, com mortes, choro, luto e muita dor. As emissoras de TV, rádio, os jornais, as revistas e, principalmente, a redes sociais, não se ocuparam de outra coisa durante 20 longos dias.
No epílogo da aventura, com a morte do procurado, surgiram heróis de todo lado. Políticos; policiais; jornalistas; moradores do, então, desconhecido povoado de Girassol; analistas; psicólogos, terapeutas e outros profissionais, cada um a analisar, à sua maneira, o antes, o durante e o depois de Lázaro.
É inegável que foram episódios atípicos. Mas, não foram os primeiros e, nem foram os últimos. Amanhã devem surgir novos ganhadores de prêmios milionários na TV e novos criminosos cruéis. De novo, a mídia vai cerrar fileiras em torno do assunto, as autoridades vão tirar proveito político e a sociedade brasileira vai ser, mais uma vez, a plateia desses espetáculos grotescos. Assim é a vida.