Recentemente li uma matéria na Folha de São Paulo, que me deixou encucada. E a palavra é esta mesma, como define o dicionário: “ficar cismado, ruminando uma ideia”. O texto trazia o depoimento de moradores de uma cidade brasileira, que chegavam a unidade de saúde para se vacinarem e quando eram informados que ‘só tinha’ a AstraZeneca/Oxford, iam embora sem a tão cobiçada, esperada e sonhada agulhada!
O repórter chegou a entrevistar alguns destes inusitados brasileiros, que responderam terem “medo da reação da vacina, como febre, dor de cabeça e mal estar”. Foi então que meu espanto se uniu ao meu ‘encucamento’, no sentido denotativo de “ter muita preocupação com algo; não conseguir esquecer um problema, dificuldade ou episódio ruim; remoer”.
Imediatamente me lembrei das crianças e daquele calendário vacinal fantástico. Febre alta ou moderada, irritabilidade, vermelhidão, choro, coceira, sono excessivo, falta de apetite, dor no local. Fala aí mamães, quais as reações que seus filhos tiveram quando foram vacinar?
A BCG é a primeira da fila. Para combater a tuberculose a ‘picadinha’ pode resultar em uma reação que pode perdurar até dois meses. E mais, um nódulo vermelho pode surgir e se tornar uma ferida na pele do bebê, que será coberta por uma casquinha e se tornará uma cicatriz.
A Tríplice contra difteria, tétano e coqueluche também pode resultar em febre, nádegas doloridas, avermelhadas e inchadas. Enquanto a Tríplice Viral contra caxumba, sarampo e rubéola, pode resultar em reação febril até 12 dias após a vacinação. A Penta, dentre os sintomas já apresentados, ainda pode resultar em problemas gastrointestinais como diarreia e vômito.
O Coronavírus chegou atropelando, esbofeteando, moendo no doze (no pior sentido), arrebentando com tudo, no tapetão. A gente achava que aquela surra que levamos naquele fatídico dia 8 de julho de 2014, em pleno Mineirão, de 7×1, da Alemanha, foi humilhante? Esquece! O Covid zombou, surrou, esculhambou. Nos levou mais de 414 mil pessoas amadas, que não estava na hora de morrer!
A agência Reuters divulgou que a AstraZeneca tem eficácia de 86,6% logo na primeira dose. Sim, houve registros de complicações sanguíneas em 37 pacientes. Mas atenção para estes números: apenas no Brasil a Fiocruz, que tem uma longa trajetória e tradição de mais de 70 anos na produção de vacinas, já entregou 26.500.000 doses.
Voltando ao meu encucamento, quero enfatizar todo o respeito aos que tem medo, receio, ressalva de se vacinar. Mas eu tenho mesmo é vontade! Ansiosa: quero Pfiser, AstraZeneca, Coronavac ou qualquer outra cuidadosamente testada e liberada pela Anvisa. A única escolha que faço é não morrer de Covid!
Letícia Jury é jornalista e mestra em Comunicação pela UFG.