Questões como eficácia das vacinas e a diferença entre elas são frequentemente levantadas nas redes sociais e por leitores do Contexto
José Aurélio Mendes
Na medida em que o trabalho de vacinação se aproxima da base da pirâmide etária em Anápolis, composta por pessoas entre 18 e 40 anos, intensificam-se as dúvidas e questionamentos sobre a diferença e a eficácia dos imunizantes Coronavac, AstraZeneca e Pfizer.
Leitores do CONTEXTO e vozes atuantes nas redes sociais demonstram ainda certo desconhecimento sobre os mecanismos de atuação das vacinas. Apesar da maciça divulgação dos veículos de comunicação, muitos desprezam as informações com medo de se tratarem de fake news ou mesmo por julgarem as mesmas imprecisas ou tendenciosas.
Pensando nisso, o CONTEXTO procurou o farmacêutico e advogado Carlos Eugênio, um dos administradores da Clínica Multiaplic, especialista em imunização em Anápolis, para esclarecer a principal dúvida enviada por leitores à redação. Qual é a diferença entre o modo de ação das vacinas Coronavac, AstraZeneca e Pfizer. E também, se vale à pena usar uma ao invés de outra.
Eugênio é categórico ao afirmar que todas tem alto índice de eficácia e que não é necessário optar entre uma e outra, principalmente pelo fato de ainda não existirem doses suficientes para permitir tal escolha. Mas ele afirma que há sim diferença na forma de agir de cada uma delas e também nas reações que podem causar em organismos mais sensíveis.
Coronavac
As vacinas de vírus inteiros inativados como a do Butatan/Sinovac, cujo nome comercial é Coronavac são feitas a partir do vírus inativo. É a forma mais comum de se produzir. A inativação é feita com o auxílio de substâncias químicas que destroem o material genético do vírus, impedindo sua multiplicação dentro do corpo. Uma quantidade é injetada no indivíduo, mas não é suficiente para que a doença se desenvolva.
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“Esse processo, no entanto, mantém íntegra a cápsula do vírus, onde está a proteína S, responsável pela ligação e penetração em nossas células. Uma vez no organismo, o vírus vacinal é percebido como um agente estranho e desencadeia a resposta do sistema imunológico”, explica o farmacêutico.
AstraZeneca
Já as vacinas baseadas em vetores virais não replicantes, como a vacina de Fiocruz/Oxford, de nome comercial AstraZeneca, tem um processo de produção diferente. Os pesquisadores usam apenas o gene que codifica a produção de proteína S, responsável pela ligação do novo coronavírus com as nossas células. Eles inserem esse gene dentro de outro vírus que não causa doença em humanos. Esse vírus também recebe tratamento para ser incapaz de se replicar dentro do nosso organismo.
Após a vacinação da AstraZeneca e a entrada do vetor na célula humana, esse gene que codifica a proteína S é transformado em uma molécula chamada RNA mensageiro (mRNA), que contém instruções para a produção de proteínas S, o que ocorre fora do núcleo das nossas células, onde está o nosso genoma. Essas proteínas produzidas se fixam na superfície celular.
A partir desse momento, o sistema imunológico começa a atuar em diferentes frentes. É por isso que uma parte das pessoas reclama das reações mais pronunciadas desse tipo de vacina.
Os chamados linfócitos T auxiliares detectam o agente estranho e recrutam os linfócitos B, que produzirão anticorpos específicos contra a proteína S. Eles também entram em contato diretamente com a proteína S da superfície das células “vacinadas” e produzem os anticorpos. Outro tipo de linfócitos T, chamados citotóxicos (ou assassinos), também são recrutados e destroem diretamente qualquer estrutura que exiba a proteína S. “As células vacinadas, ao morrerem, liberam fragmentos da proteína S que também são identificados pelo nosso sistema imune, desencadeando toda a resposta vacinal”, detalha Eugênio.
Pfizer
Finalmente, as vacinas baseadas em mRNA (RNA mensageiro), como as da Pfizer e da Moderna usam uma tecnologia mais aprimorada de RNA mensageiro (mRNA). Em laboratório, os cientistas desenvolvem o mRNA sintético, que ensinará ao nosso organismo a fabricar a proteína S do Coronavírus, responsável pela ligação dele com as nossas células. Por ser muito instável, o mRNA é recoberto por uma capa de gordura.
Segundo Eugênio, é essencial deixar claro que a molécula não contém outra informação, não é capaz de realizar qualquer outra tarefa e não penetra no núcleo de nossas células. Então, não consegue causar a COVID-19 ou qualquer alteração em nosso genoma. “Uma vez que a vacina é injetada e capturada pelas células apresentadoras de antígeno, a partir das instruções do mRNA são fabricadas as proteínas S do novo coronavírus que, então, são transportadas até a superfície da célula, onde os processos de defesa são desencadeados”, declara.
Por fim, o diretor da Multiaplic esclarece que são absolutamente falsas as informações divulgadas por redes sociais de que existem chips sendo injetados em pessoas e que as vacinas contêm elementos magnéticos capazes de segurar na pele moedas ou aparelhos celulares. “Não existe nenhuma conspiração mundial em andamento ou interesse na perda ou controle de vidas humanas. Apenas cientistas dando o melhor para trazer de volta a normalidade às nossas vidas”, finaliza. O Farmacêutico Carlos Eugênio (esquerda), é co-autor de um guia de vacinação, disponibilizado pela Multiaplic para esclarecer essas e outras dúvidas sobre a pandemia.