Cerca de cinco horas depois de o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, ter anunciado em uma coletiva com a imprensa o seu pedido de demissão do cargo, o presidente Jair Bolsonaro, também convocou a imprensa para, segundo ele, “restabelecer a verdade” em relação a saída de Moro.
Logo no início do pronunciamento (que não foi uma entrevista coletiva, pois não houver perguntas e respostas dos jornalistas), Bolsonaro disse: “Sabia que não seria fácil. Uma coisa é você admirar uma pessoa, a outra é você conviver e trabalhar com ela”. Por duas vezes, o presidente citou que, pela manhã, tomou café com um grupo de parlamentares e, na ocasião, ele disse que todos conheceriam “a pessoa que tem compromisso com si só, com o seu ego e não com o Brasil”. Mais adiante, repetindo o encontro, Bolsonaro disse: “Hoje vocês vão conhecer quem não me quer na cadeira de Presidente e essa pessoa não está no Judiciário ou no parlamento.”
Durante o discurso, Bolsonaro fez questão de relatar o seu primeiro encontro com Sérgio Moro, então Juiz que comanda em Curitiba, as decisões judiciais no âmbito da operação Lava Jato. Bolsonaro contou que encontrou com Moro no aeroporto de Brasília, foi ao seu encontro, mas foi ignorado. Isso, quando ainda “era um humilde deputado”. Tempos depois- continuou- o próprio Moro fez uma ligação para se desculpar. “Doeu a consciência”.
Bolsonaro disse que recebeu um interlocutor que queria marcar um encontro entre ele e Mouro, mas estava no auge da campanha e não queria que o encontro tornasse público, pois soaria que queria tirar proveito da popularidade do então magistrado. Esse encontro só ocorreu depois de ele ser eleito no segundo turno e, dali, surgiu o convite, numa reunião que foi presenciada por Paulo Guedes, atual ministro da Economia.
O presidente disse que, de fato, deu autonomia para Moro, mas, segundo ele, essa autonomia não poderia ser confundida com “soberania”. E, disse estranhar o fato de Moro ter levado para Brasília, para compor sua equipe, delegados de Curitiba.
Na sequência de sua narrativa, que durou também cerca de 50 minutos, como a de Moro, Bolsonaro disse que nunca pediu que a Polícia Federal blindasse ele próprio ou alguém de sua família e, inclusive, citou casos envolvendo os seus filhos, a ex-mulher, a atual e a sogra.
Citou, ainda, que queria que a PF tivesse o mesmo empenho do caso Marielle e do porteiro no condomínio onde mora, para investigar quem seria o mandate de Adélio, que lhe feriu com um golpe de faca num ato de campanha. E, também, a conversa que teve com o ex-auxiliar na manhã desta sexta-feira, 24. De acordo com Bolsonaro, Moro teria levado mais nomes para a direção da PF e teria dito que a troca deveria acontecer em novembro, depois de sua indicação do Supremo Tribunal Federal (STF). O que Bolsonaro teria rechaçado, embora, disse, reconhecendo a capacidade do ex-juiz e ex-ministro.
Sobre a demissão do delegado-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, estopim para a saída de Moro do Governo, Bolsonaro ressaltou que desde o início do ano, o próprio Valeixo já se queixava que estava cansado e, por isso, começou a fazer gestões para a mudança. Bolsonaro contrapôs a fala de Moro, dizendo que Valeixo falou com ele na noite de quinta-feira, 23, sobre a saída. “Não venha me chamar de mentiroso”, disparou Bolsonaro, que disse, de forma reiterada, que a legislação lhe dá a prerrogativa de indicar o diretor geral da PF. “Se posso trocar um ministro, porque não posso o diretor da Polícia Federal?”, indagou o presidente, afirmando que deve ser observado o princípio da hierarquia.
“Estou decepcionado e surpreso com o seu comportamento [de Moro], porque ele não me procurou, preferiu uma coletiva para anunciar a demissão”, disse, acrescentando que a PF sempre terá a sua autonomia preservada, “porque o Brasil é maior do que nós”, arrematou.
Depois do pronunciamento, Bolsonaro leu o discurso escrito que já estava pronto para a ocasião. No início da noite, Sério Moro deixou as dependências do Ministério da Justiça.