Intervenção incisiva na defesa dos pobres e no serviço da justiça e da solidariedade. Esta é a premissa da cartilha sobre as eleições de 2022, editada pelo Regional Sul 2 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). O documento nada tem a ver com campanha partidária-eleitoral ou mesmo apresenta qualquer tendência favorável ou contrária a este ou àquele candidato ou partido. Mas, sim, um instrumento que aponta caminhos para a construção de uma sociedade melhor.
No início da cartilha a CNBB reforça que a legislação eleitoral proíbe que seja feita campanha eleitoral nas igrejas e que nenhum candidato pode usar a igreja para pedir votos. Uma norma que soa meio surreal nos dias de hoje em que muitas igrejas são abertamente envolvidas no processo eleitoral e usadas como palanques em benefícios de candidatos e partidos.
As orientações da CNBB apresentam às pessoas critérios básicos, estabelecidos em questões ligadas à dignidade da pessoa humana, na liberdade de expressão do eleitor e na defesa da democracia. E, a propósito da realidade atual no âmbito das comunicações sociais, orientam os cidadãos para quem saibam identificar uma falsa informação e evitar que por ela sejam influenciados.
A cartilha cita o Papa Francisco que, em suas manifestações sobre o tema coloca a política no nível da caridade e que, para ser autêntica, “precisa estar presente nos campos sociais”. Neste ponto todos podemos colaborar, cobrar dos governantes a criação de políticas públicas que, de forma especial, beneficiem os pobres e marginalizados.
A Igreja Católica é incisiva na defesa dos pobres e no serviço da justiça e da solidariedade. O documento da CNBB sobre as eleições evidencia a visão da Igreja que percebe a política como “uma sublime vocação”. E, no campo dos princípios, defende a dignidade da pessoa humana, da concepção à morte natural.
É neste ambiente dos valores que a CNBB sugere critérios para que os eleitores escolham os candidatos em quem pretendem votar. São cinco: caráter, valores, ser defensor da vida, ter projeto de governo e competência.
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A Igreja entende que o político nunca deve ter se envolvido em corrupção, que tenha conhecida sua história pessoal e familiar, que defenda a vida da concepção ao fim natural, que não se esqueça dos pobres e mais fragilizados, e que seja competente para liderar e administrar os recursos públicos.
No momento em que se multiplicam as manifestações em todo o país em defesa da democracia, uma lembrança essencial e relevante é destacada pela CNBB em sua cartilha: “o poder de governar vem do povo”. A exortação da Igreja ao povo sobre esse tema específico se ancora nos princípios da liberdade, da participação e do compromisso de todos.
A entidade máxima de representação da Igreja Católica no Brasil inclui a Fake News entre os malefícios que enfraquecem a democracia. E, como dica para que as pessoas identifiquem se uma notícia é verdadeira ou confiável, apresenta a Fórmula Q³COP, do professor Rogério Carlos Born, inspirada na técnica de jornalismo (Lead), que consiste em responder seis perguntas quando se deparar com uma notícia duvidosa: O que foi noticiado? Quem escreveu? Quando foi escrita? Como foi escrita? Onde ocorreu o fato? Por que a notícia foi publicada?
Um dos tópicos do documento informa que, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), do ano de 2020, aproximadamente 12 milhões de pessoas vivem na pobreza extrema (menos de R$ 150 por mês). E mais de 50 milhões na pobreza (menos de R$ 450 por mês). E reconhece que programas sociais criados durante a pandemia evitaram que os números fossem mais expressivos.
Por fim, além de orientar o eleitor sobre questões técnico-jurídicas como cálculo do quociente eleitoral, financiamento de campanhas e legislação eleitoral, a cartilha da CNBB busca despertar os jovens para que assumam “o protagonismo da própria vida” e para que se comprometam “com um mundo mais justo e fraterno”.
Desde o ano passado várias campanhas de chamamento aos jovens foram realizadas, sob a liderança de instituições como o STF, o TSE, o Ministério Público, a Ordem dos Advogados do Brasil, entre outros. Em Anápolis, por exemplo, a Câmara Municipal, por meio do programa ‘O Legislativo na Escola’, participou desta mobilização.
Essas ações de incentivo à participação dos jovens no campo da cidadania e da elaboração de políticas públicas que atendem as pessoas em situação de vulnerabilidade, se aproximam do desejo manifestado pelo Papa Francisco, para que os jovens sejam “lutadores pelo bem comum”, “servidores dos pobres”, “protagonistas da revolução da caridade e do serviço”, e “capazes de resistir às patologias do consumismo e do individualismo superficial”.