Projetos considerados fundamentais para o desenvolvimento do Município esbarram na falta de objetividade. Além disso, é dinheiro público que está sendo gasto nas obras
A mais enigmática de todas as obras inacabadas em Anápolis é a Plataforma Logística Multimodal, inaugurada há mais de uma década e que, até hoje, nunca teve qualquer utilização, em que pese haver consumido uma incalculável soma (não se tem, ao certo, quantos milhões de reais foram aplicados ali) retirada do Tesouro Estadual. À época de sua concepção, ela era vista como o “divisor de águas” da economia do Centro Oeste, pois enfeixaria um somatório de projetos econômicos, interligando rodovia/ferrovia/aerovia, além de ser ocupada por armazéns gerais, grande galpões e outras dependências que concentrariam a maior parte da movimentação de bens e serviços para toda a região.
Todavia, passados mais de 13 anos, a Plataforma consiste em uma supervalorizada área, com sistema de captação de águas pluviais, energia elétrica, arruamento asfaltado e outras estruturas necessárias para o cumprimento de seu objetivo original. Estas propostas, entretanto, devem repousar em alguma gaveta, ou quem sabe, estejam perdidas no emaranhado de papeis oficiais nas prateleiras do descaso. Em resumo, a Plataforma Logística Multimodal de Anápolis nunca saiu do papel e não se sabe quando (ou, se) vai sair.
Ela, entretanto, não é a única proposta multimilionária que, ainda, não disse ao que veio por aqui. Alguns anos depois, foi anunciado o Aeroporto Internacional de Cargas que, passados cinco anos, se resume à pista, por sinal, ameaçada pelas erosões. Os governos (o anterior e o atual) não disseram à comunidade econômica de Goiás, muito especialmente à de Anápolis, a que se prestará tal aeroporto. Se ele vai ser, mesmo, para embarque e desembarque de cargas, se será misto (passageiros e cargas) ou, se, ainda, não existe uma conclusão sobre seu destino final. Enquanto isso, o tempo não para de correr e já existe certa demonstração de desânimo por parte de importantes setores da comunidade sobre sua conclusão.
Outros projetos
No eixo dessas enigmáticas obras existem outras, também, de significativa importância. A ampliação do Distrito Agro Industrial, por exemplo, é uma incógnita, em que pese seguidos anúncios de que ela estaria na iminência de acontecer. Esta iminência, entretanto, dura, pelo menos, de três a quatro anos e, nada de ampliação. Também importante, embora bem mais barata, e que não tem data de conclusão, é a obra do famigerado Anel Viário do DAIA, projetado para ser uma variante do escoamento do tráfego daquele parque industrial, para ganhar a BR 060 que, embora tenha sido considerada de fácil execução, dormita por conta de desarranjos burocráticos e, até, judiciais. Promessa de concluí-lo já foram feitas diversas.
Isto, sem se falar no Centro de Convenções que, de fato, tem parte da primeira etapa finalizada e que, até, já foi utilizada em ocasiões fortuitas. Mas, falta grande parte da logística operacional e da estrutura. A começar pela inexistência do projeto de energia elétrica. Os eventos ali realizados tiveram a improvisação de grupos geradores. Sem contar que, passado quase um ano de sua “entrega”, o Centro de Convenções não tem um comando oficial. Ou seja, ninguém sabe que órgão será responsável pelo seu funcionamento e sua manutenção. É a grande incógnita do momento.
E, para não ficar, apenas, no âmbito estadual, há de se ressaltar que o DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura e transportes) anunciou, por diversas vezes, obras estruturais no sistema viário do Município, dentre eles, a duplicação da BR 414 nos perímetros urbano e semiurbano, inclusive com a exposição de maquetes eletrônicas onde constavam dois viadutos, pistas auxiliares e um moderno sistema de sinalização. Isto, entretanto, não passou de uma reunião feita às pressas, em 2015, na Associação Comercial e Industrial de Anápolis. Sem se falar no contrato com a empresa administradora da BR 060, que previa a construção de, pelo menos, mais três viadutos (‘trevo da Catarinense’ “Oswaldo Almeida Santos”, ou Trevo “Leleco”), proximidade do câmpus da UEG e proximidades do Posto Presidente, além de uma terceira pista entre Anápolis e Goiânia. Nenhum deles, sequer, teve projeto revelado.
Últimos grandes investimentos
A rigor, há mais de uma década Anápolis não recebe investimentos de grande porte oriundos do Governo Estadual. A história mostra que o derradeiro deles foi o Hospital de Urgências “Doutor Henrique Santillo”, ampliado, recentemente, mas que, a bem da verdade, foi só no aspecto físico. No setor de saneamento, por exemplo, a última grande aplicação de recursos foi quando se implantou o Sistema Piancó e a rede de coleta e tratamento de esgotos, isto, na década de 80. De lá para cá foram, apenas, arranjos. Há quase 20 anos o Governo Estadual não constrói uma nova escola em Anápolis; No campo da Educação, consta a criação do Núcleo Central da Universidade Estadual de Goiás (UEG), todavia, realização ocorrida há quase 15 anos.
A Polícia Civil, ainda, não tem uma sede definitiva e a Polícia Militar tem, apenas, um batalhão específico: o Quarto BPM. Mesmo assim, com o prédio central tendo sido edificado com o apoio da comunidade. O 28º BPM, na Vila Jaiara, ocupa uma área onde, antes, funcionava a Prefeitura de Aeronáutica, ligada à antiga Base Aérea e a CPE (Companhia de Policiamento Especial) funciona em uma dependência que, antes, servia de depósito para o sistema telefônico da Cidade.
São demandas evidentes que, com o correr dos anos, chegam a cair no esquecimento da comunidade. Ressalte-se que se trata do segundo maior PIB (produto interno bruto) de Goiás e a segunda maior fonte geradora de tributos (principalmente ICMS) do Estado. Neste caso, fazendo-se a conta “na ponta do lápis” subentende-se que o Município de Anápolis tem crédito de sobra para reivindicar a conclusão das obras inacabadas e o início de outras que justifiquem a contrapartida do Governo Estadual ao que ele arrecada, diariamente, em forma de variados tributos do povo anapolino.