A unidade de ensino, após mais de oito décadas de funcionamento ininterrupto, anunciou que as suas atividades deverão ser encerradas. Confira histórias e depoimentos
Despedidas, em geral, carregam marcas de emoções, lágrimas, saudades e, mesmo, de alegrias. Ou seja, é um turbilhão de sentimentos que se misturam em nosso emocional.
Muito mais sentimentos estão envolvidos, quando a despedida representa o fim de um ciclo, de uma história. E, sobretudo, quando essa história e esse ciclo se referem à escola, o local onde passamos uma boa parte de nossas vidas construindo conhecimentos, fazendo amizades que, em muitos casos, se mantêm no tempo, além das salas de aulas.
Recentemente, foi anunciado que o Colégio Auxilium estará encerrando as suas atividades em Anápolis. É uma despedida que põe fim a um ciclo de oito década, mais precisamente, 83 anos de uma história que se confunde com parte da própria História do Município.
O “Colégio das Meninas” foi fundado um ano após a chamada Reforma Capanema, instituída pelo Decreto-lei nº 4244, de 9 de abril de 1942, originando a Lei Orgânica do Ensino Secundário. Aquela reforma, na época, fundamentou as bases do ensino ginasial no Brasil, tendo dentro de seu bojo uma atenção especial para a educação feminina.
Antes ainda, na raiz do Colégio Auxilium, já havia a contribuição da chamada escola doméstica, um traço do contexto histórico e social dos idos da década de 1940.
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Ao longo dos anos, o Colégio Auxilium passou por mudanças, dentre muitas delas, tornou-se uma instituição de ensino mista, portanto, recebendo alunos dos sexos masculino e feminino. Mas, ao longo dessa trajetória, a escola nunca se distanciou do seu propósito de oferecer um bom ensino curricular e extracurricular, aliado com a formação de valores humanos e cristãos.
Ao longo de mais de oito décadas, o Colégio Auxilium contribuiu para a formação de profissionais nas mais diferentes áreas. Participou, com os seus atletas, nos jogos estudantis, como os Jogos da Primavera. Também, colaborou com a participação nos tradicionais desfiles cívico-militares da Cidade.
Para o educador, pesquisador e escritor, Antônio de Deus, a contribuição do Colégio Auxilium no contexto educacional de Anápolis e de Goiás é imensurável, com a educação de qualidade que a unidade buscou e pela importância que o ensino religioso ou confessional teve e ainda tem no Município através, principalmente, do próprio Colégio Auxilium, do Colégio São Francisco de Assis e do Colégio Couto Magalhães.

Conforme analisa, a paralisação das atividades do Auxilium ocorre num momento em que no País, se observa um movimento de “esvaziamento” na educação, por conta de fatores diversos como a pandemia do coronavírus, pelo contexto da crise política e social e, também, pela mudança de cultura das famílias que, outrora, priorizavam a formação educacional e a conquista do diploma universitário. “Hoje, as prioridades são mais consumistas”, pontua Antônio de Deus.
Ele acrescenta que o Colégio Auxilium deixa um grande legado, por sua contribuição à educação, pelas pessoas ali formadas, pelo seu corpo de profissionais. São muitas histórias em uma só.
Ainda não se sabe, entretanto, se a questão do encerramento das atividades é definitiva ou se há alguma possibilidade de que o colégio possa permanecer funcionando.
De qualquer forma, é uma situação que causa uma espécie de comoção. Inclusive, nas redes sociais, há um grupo que tem colocado postagens de despedidas de alunos, professores e funcionários.
Assim, pode ser uma despedida. Mas com aquele sopro de esperança de que algo possa acontecer para mudar essa realidade.
Caso não ocorra, há muita coisa para se lembrar, há muita história para ser contada. Há muitas alegrias a serem compartilhadas e, também, lágrimas a serem derramadas.
Certamente, que se assim for o destino, o Colégio Auxilium terá cumprido sua missão e deixará um legado, que é um legado de várias gerações que passaram pelos bancos das salas de aulas, que aprenderam para viver e aprenderam para a vida. Nada mais nobre!
As narrativas de quem viveu e vive a glória de um colégio e suas histórias
O professor Marco Aurélio trabalhou por 13 anos no Colégio Auxilium, dando aulas de filosofia, ensino religioso e sociologia. Ele afirma ter tomado um “susto enorme”, quando soube do encerramento das atividades da unidade de ensino.
Sua ligação é ainda maior, porque há anos, é também vizinho do colégio, onde ele ajudou na formação de vários e vários estudantes.
“Vai fazer muita falta. Parabéns pela iniciativa do jornal. Espero que essa reportagem faça o devido reconhecimento da cidade ao Colégio Auxilium”, destaca Marco Aurélio.
Diretora institucional e pedagógica do Colégio Auxilium desde 2019, a irmã Raquel Vieira da luz viveu os dois lados da história da unidade de ensino, já que também foi aluna.
“Tenho muito a agradecer pelos anos vividos aqui. Aprendi muito com as irmãs, que me passaram valores e princípios para que eu pudesse ser uma pessoa feliz e engajada na minha missão educadora”, relata.
Irmã Raquel conta que trabalhou como irmã Salesiana por seis anos, de 1993 a 1998; e como vice-diretora e coordenadora também no mesmo período. Anos vividos intensamente, segundo conta, quando o Colégio Auxilium tinha 1400 alunos do maternal ao ensino médio.
“Havia uma equipe engajada e comprometida com a formação e a educação das crianças, adolescentes e jovens”, destaca, sublinhado que nos seus 83 anos, o colégio “vem educando para o vestibular da vida, preparando o ser humano para ser um agente transformador da sociedade”. “Sou feliz por ter feito parte dessa trajetória de sucesso do Colégio Auxilium, que tanto amo”, completa.
Um exemplo
Com 30 anos de currículo de educadora no Auxilium, Dôra Di Clemente relata um exemplo efetivo dos postulados que orientam a Rede Salesiana de Ensino. Ele dá um exemplo ocorrido dentro da própria família.
A situação foi relacionada ao acolhimento de um sobrinho seu, Étore Di Clemente e Silva, que em virtude de lesão cerebral, dispensava cuidados especiais. Numa época em que quase não se conhecia ou ouvia o termo “inclusão”, conta ela, a escola recepcionou a criança que, então, já havia sido refutada por outras instituições de ensino.
A atitude do colégio – ressalta – “ensejou não apenas à minha família, mas a toda comunidade local, uma lição de esperança, motivação e amor”. Como reza o dito popular: “um exemplo, às vezes, vale muito mais que mil palavras”.
Amorevolleza
A coordenadora pedagógica da Educação Infantil e Fundamental I, Ecleane Jesus de Oliveira, está há menos tempo na instituição. Segundo diz, são dois anos de muita “salesianidade que deixará saudades”.
Ecleane destaca que sua chegada no Auxilium, em 2019, foi de acolhimento por parte dos alunos, professores, da direção. “Fui recebida por quem carrega a essência de Dom Bosco, “esse, que em sua vida sempre citou o bem maior que o ser humano deve carregar dentro de si: religião, razão e amorevolleza. Esta última palavra, amorevolleza, não iremos encontrar o seu significado nos dicionários, mas significa, segundo Dom Bosco, bondade”.
Ela ressalta que os que passaram pelo Colégio são frutos de uma geração privilegiada, “pois receberam uma educação no mais rico dos valores: o cristão”. E encerra: “Quando uma despedida é difícil é porque valeu a pena. E digo, com toda segurança e verdade, valeu a pena ser Salesiana!”
Na casa de Maria
A Orientadora Educacional, Renata Silva Lima, veio como reforço para a equipe da irmã Raquel, em 2019. “Me encantei com a escola, eu como admiradora e devota de Nossa Senhora me senti em casa, e na casa de alguém que sempre amei: Maria”, diz.
Com formação em psicologia e psicopedagogia, Renata afirma que, desde então, fez do Auxilium a sua própria casa, inclusive, fechou o escritório profissional, para dedicar-se à nova missão.
Entretanto, ela lembra que a pandemia veio e “atropelou” o trabalho que estava e poderia ser feito.
“Não nos deram tempo, e eu chorei sim, e ainda choro e lamento. O Auxilium fez parte da vida de muitas pessoas, muitas delas estudaram somente no Colégio”. A coordenadora agradece por ter feito parte da história e pelo aprendizado que teve com os alunos da instituição.
História e tradição
Assim como o colega Marco Aurélio, o professor Leandro Frederico da Silva faz parte do quadro profissional do Auxilium há 13 anos.
Professor de matemática, Leandro, também, faz um retrospecto positivo de sua passagem na escola: “O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso, existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e com certeza estes anos de Colégio Auxilium irão me acompanhar por toda a vida”.
Conforme destaca, o Auxilium tem muitos diferenciais, dentre eles, o de trazer uma pedagogia contemporânea, “aliando tecnologias com história e tradição”. Na sua avaliação isso é latente de ser visto em cada geração de alunos que passou pela escola, sempre com “engajamento e respondendo ao processo de aprendizagem com entusiasmo”.
Como dito lá no início da reportagem, as despedidas também têm momentos felizes. E eles, certamente, são em maior número nessa história de “salesianidade” e de “amorevolleza”.
História
O Colégio Auxilium é dirigido pelas religiosas, Filhas de Maria Auxiliadora – Irmãs Salesianas – pertencentes à Província Madre Mazzarello (presente em Minas Gerais, Goiás e Distrito Federal) uma das nove Províncias do Brasil, é uma Instituição de caráter Educacional que contribui com a construção da sociedade através da educação e formação de crianças, adolescentes e jovens.

Em 03 de maio de 1937 Irmã Thereza Quadros e Irmã Zita Lanna, ao convite das Autoridades Civis e Eclesiásticas, vieram para dirigir a então Escola Normal de Anápolis, já em funcionamento e dirigida por leigos. Em 1938 as Autoridades entregaram definitivamente a Escola Normal de Anápolis à administração e direção das Irmãs Salesianas. A prefeitura fez a doação de um terreno com duas casas para residência das Irmãs e funcionamento da escola. Mais tarde, as irmãs adquiriram mais espaço para ampliar a escola.
A fundação oficial aconteceu no dia 03 de fevereiro de 1938 quando foi denominada Escola Normal “Nossa Senhora Auxiliadora” realizando o sonho de muitas famílias que se preocupavam com a formação e o futuro de suas filhas. A partir de 1943 recebe o nome de Ginásio Auxilium e em 1973 passa a Colégio Auxilium, portanto, 79 anos de dedicação educacional à juventude Anapolina.
Sua proposta educativa é fundamentada no Sistema Preventivo de Dom Bosco, marca pedagógica-pastoral da educação salesiana. Com sua proposta, atualiza o carisma e o sonho missionário de Dom Bosco e Madre Mazzarello respondendo, assim, à sua identidade de formar crianças e jovens como honestos cidadãos e cristãos engajados, comprometidos com o bem social e com o desenvolvimento da vida.
O Colégio Auxilium faz parte Rede Salesiana de Escola (RSE), que reúne cerca de 90 mil alunos e cinco mil professores em mais de 110 escolas de 70 cidades brasileiras. (Informações do site do Colégio Auxilium)
Muitas histrias lindas das pessoas q por la passaram. A saudade será eterna.