Quem acompanhou os jogos da Copa do Mundo (a maioria absoluta da população nacional) constatou uma curiosidade: o elevado número de brasileiros que foram ao Qatar, país que fica do outro lado do mundo, com passagens, hospedagens e deslocamentos a preços absurdos e que, nem assim, chegou a intimidar a fanática multidão verdeamarela. As agências de viagens faturaram horrores com pacotes e mais pacotes vendidos a milhares e milhares de nossos compatriotas. A pergunta que fica, então, é: quem é esse pessoal que não está nem aí para crise, que não sabe o que seja desemprego, que gasta fortunas em dólares, simplesmente para ver algumas partidas de futebol? Quanto, na verdade, custou, em média, a cada um (em grande parte, foram grupos familiares, compostos de pais, mães, filhos, netos, agregados, etc.) que, pelo menos, nos primeiros dias, se deliciaram com o time brasileiro até que surgiu uma tal Croácia pela frente.
Mas, e por aqui no Brasil? Quem são os que ficaram, que não puderam ir ao Qatar, que, nesse meio tempo ralaram para garantirem o mínimo da sobrevivência? Realmente, não tem como explicar e economia brasileira. De um lado, contemplam-se mais de oito milhões de pais e mães de famílias desempregados. De outro, a gastança nacional, principalmente no mundo oficial, como os integrantes dos três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) a viverem uma vida surreal, no bem-bom, com salários estratosféricos que eles próprios se dão ao direito de aumentar assim que se lhes apertam as correias. A desigualdade social no Brasil tem um fosso cada vez mais largo e mais profundo. Até quando isso vai durar, ninguém sabe. O certo é que como diz a canção: “O pobre cada vez fica mais pobre e o rico cada vez fica mais rico”.
Meses atrás, surgiram os “pacotes de bondades” com a queda de juros, redução de tributos, e tudo mais, claro, até que chegassem as eleições. No dia seguinte, o rumo da prosa mudou. Os mais observadores veem, diária e, constantemente, a elevação lenta e gradual do custo de vida, nos seus mais diferentes aspectos. Mas, ocorrem, também, fatores intrigantes no comportamento consumidor do nosso povo. Por exemplo, em outubro último, as pesquisas apontaram que nós, os brasileiros, gastamos mais em diversões e entretenimento (9%), do que com supermercados (8 %). Mesmo com a elevação dos preços, como de loja e artigos diversos (7%), prestadores de serviços (4%), combustíveis e restaurantes (4%) e por aí vai.
Entretanto, a grande dúvida que voltou a povoar a cabeça da maioria é o que vai acontecer de agora em diante com a esmagadora massa de gente que, em grande parte, já perdeu a esperança. Vem aí, um novo Governo Federal, um novo Congresso, novas assembleias legislativas, novos governos de estado. Vai mudar o quê? As promessas de campanha serão, pelo menos, em parte, cumpridas ou assistiremos ao velho filme de que “tudo passa, tudo passará”? Teremos mais empregos, menos violência, melhores escolas, ou, esperança de uma vida melhor? Só o tempo dirá.