A data 27 de novembro é marcada como o Dia Nacional de Combate ao Câncer. Dentro das ações relacionadas, na semana entre os dias 16 e 22, ocorre a Campanha Contra o Câncer de Mama – o tipo dessa moléstia com maior incidência e a que causa o maior índice de mortes entre mulheres no Brasil. A detecção precoce é de vital importância e garante altos índices de cura, com menores sequelas físicas e emocionais.
Segundo o médico João Bosco Machado da Silveira, membro da Sociedade Brasileira de Mastologia – Região Centro-Oeste, “essa campanha tem abrangência nacional e seu objetivo é conscientizar as mulheres sobre a importância do exame regular na prevenção e no combate a doença, assim como alertá-las sobre os riscos a que estão expostas”. O Câncer de Mama é o que tem maior prevalência entre a população feminina, e, também, o que mais mata, afirma o especialista. Para atingir essa meta, a campanha conta com a divulgação massiva de informação através dos meios de comunicação; e geralmente é amadrinhada por uma artista – papel que, esse ano, coube à atriz Giovanna Antonelli, da Rede Globo de Televisão.
Fatores de risco
Outra grande preocupação dos médicos é o fato de o Câncer de Mama atingir a mulheres de todas as idades, e com menos frequência, os homens. “Muitas pessoas não sabem que jovens também podem ter câncer de mama. A incidência é maior após os 40 anos de idade, a partir de quando se deve fazer mamografias anualmente. Mas, a partir dos 25 anos é necessário fazer visitas regulares ao especialista”, orienta Dr. João Bosco. Quem ainda não chegou aos 25, mas tem vida sexual ativa, também deve estar atenta. A causa do Câncer de Mama não é conhecida, qualquer mulher pode desenvolvê-lo. Algumas são mais propícias do que outras, e entre os fatores que contribuem para o aumento do risco, estão: ter mãe ou irmã com câncer de mama – fator hereditário; nunca ter tido filhos; ter tido o primeiro filho após os 30 anos; histórico de exposição à radiação; fumar; terapia hormonal (estrogênio); uso excessivo de álcool; e obesidade. “Geralmente cânceres genéticos (hereditários) acometem pacientes mais jovens, abaixo dos 40 anos, antes da menopausa. Entretanto, somente 20% dos cânceres têm alguma ligação com o fator genético”.
“A idéia central é alertar às mulheres para que elas procurem seu médico, mesmo antes de encontrar qualquer sinal que possa indicar um possível câncer. O diagnóstico precoce ainda é a melhor arma na luta contra a doença”, observa o Dr. João Bosco. Ainda segundo o médico, outra maneira de se prevenir, ou diminuir as chances de se desenvolver câncer de mama é ter filhos mais cedo. Isto porque a mama termina de amadurecer durante a amamentação. “Até então, ela é imatura, e mamas imaturas são mais susceptíveis ao desenvolvimento de alterações genéticas, mutações”.
Para o médico, o aumento no número de casos de câncer de mama nos últimos anos está relacionado ao aumento na expectativa de vida das brasileiras. Há alguns anos, a média de vida da população no Brasil era de 40 anos. Morria-se de várias doenças cuja cura, atualmente, é simples, como a tuberculose. “Com os avanços tecnológicos e de medicamentos, a mulher vive, hoje, aproximadamente, 72 anos. O câncer é uma doença crônica. Quanto mais tempo se vive, maiores as chances de desenvolvê-la”, explica. As agressões que o organismo sofre durante a vida – stress, poluição, alimentação ruim, infecções – acabam por contribuir para o aparecimento desse mal.
Prevenção
Hábitos saudáveis são recomendados na prevenção de todo os tipos de doença. Com o câncer de mama não é diferente. Algumas atitudes simples podem ajudar a preveni-lo. Entre elas estão: evitar a ingestão de comidas muito gordurosas e carnes vermelhas; não fumar; consumir alimentos saudáveis, como vegetais, frutas e legumes; diminuir a quantidade de bebida alcoólica – tomar menos de uma dose de bebida alcoólica por dia, como um cálice de vinho. Por outro lado, ajuda a prevenir este tipo de câncer. Praticar exercícios físicos regularmente também é essencial para evitar problemas de saúde. O exercício físico normalmente diminui a quantidade de hormônio feminino circulante. E como este tipo de tumor está associado a tal hormônio, fazer exercício regularmente diminui o risco de se contrair câncer de mama, principalmente em mulheres que fazem ou fizeram exercícios regulares quando jovens.
Sintomas
O Câncer de Mama normalmente não dói. A razão mais comum que leva as pacientes até o consultório são os nódulos (ou caroços). Mas, a deformidade nas mamas, ou as mamas assimétricas também estão associadas à sintomatologia do câncer. Ou ainda pode haver descarga mamilar sanguinolenta – líquido sanguinolento saindo pelo mamilo. “Cerca de 80% das mulheres que procuram ajuda médica o fazem depois de achar um nódulo no seio. As outras 20% ao notar a secreção sanguinolenta do mamilo”, avalia o Dr. João Bosco.
Na maioria dos casos, a mulher é a responsável pela primeira suspeita de um câncer. É fundamental que ela conheça as suas mamas e saiba quando alguma coisa anormal está acontecendo. As mamas se modificam durante o ciclo menstrual e ao longo da vida. Porém, alterações agudas e sintomas como os relacionados acima, devem fazer a mulher procurar o seu médico rapidamente. Só ele pode dizer se estas alterações podem ou não ser um câncer.
Tratamento
Mais uma vez, as evoluções tecnológicas contribuem para tornar o tratamento menos evasivo e traumático. A primeira opção ainda é a cirurgia, mas, hoje, essa intervenção é menos radical e retira apenas o nódulo e a parte circundante a ele – e não mais todo o seio. “As primeiras providências após o diagnóstico são a mastectomia e a quadratectomia – que retira um quadrante da mama, na região circundante ao nódulo, como medida de segurança”, explica o médico. A antiga técnica de esvaziamento da axila também já não ocorre. “A descoberta e retirada de tumores com até dois centímetros eleva as chances de cura a 92%”.
De acordo com o médico, o câncer, de maneira geral, demanda uma equipe multidisciplinar para cuidar do paciente. Devido às incertezas da doença e de seu prognóstico. Deve haver o acompanhamento de psicólogos, fisioterapeutas, enfermeiros, nutricionistas e médicos, complementa. Se a operação foi conservadora – se não houve retirada da mama – inicia-se o processo de radioterapia. Há ainda a o tratamento quimioterápico ou sistêmico. “A quimio é um mal necessário. Ela aumenta as chances de sobrevivência do paciente em 20 a 30%”, analisa Dr. João Bosco, ao comentar a resistência de algumas pessoas em relação a esse tipo de tratamento. Em alguns casos específicos da doença pode-se, ainda, fazer uso da hormonioterapia.
Realidade
Toda mulher brasileira tem garantido por lei o direito à mamografia preventiva gratuitamente. O tratamento do Câncer de Mama hoje é fornecido pelo Sistema Único de Saúde – SUS, e as equipes do Programa Saúde da Família – PSF orientam a população e ensinam como realizar o auto-exame.
A cidade de Anápolis é, junto à Capital, referência no tratamento do câncer e recebe pacientes de todo o Estado. Graças à Unidade Oncológica “Dr. Mauá Cavalcante Sávio”, a população tem acesso a todos os exames e tratamentos disponíveis na área. “Os recursos estão disponíveis, precisamos repassar o máximo de informação”, finaliza Dr. João Bosco.
Oito recomendações contra o câncer de mama
Cerca de duas mil mulheres reunidas no I Fórum Saúde Mulher, em Gramado (RS), começaram a colher assinaturas para a Carta de Gramado, espécie de manifesto que propõe oito linhas de ação que visam a redução da mortalidade por câncer de mama no País. A Carta de Gramado, que foi elaborada por especialistas, representantes de organizações não governamentais, e conta com a chancela da Sociedade Brasileira de Mastologia, foi divulgada no dia 16 passado, no último dia do Fórum que coloriu a cidade de Gramado da cor rosa-choque, símbolo mundial da luta contra o câncer de mama.
O documento apresenta uma lista de oito recomendações referentes a:
1) acesso a novos medicamentos;
2) qualidade das mamografias;
3) grupo de participação na gestão municipal da saúde;
4) medidas para invalidez;
5) reconstrução mamária;
6) acesso universal a exames de prevenção de qualidade;
7) mobilização social; e
8) readaptação funcional.