Aulas, financiadas pelo Fundo Municipal de Cultura, são ministradas na antiga estação ferroviária, no centro da cidade, pela autora do projeto Primeiro Foco
Local de partidas e chegadas, a estação ferroviária de Anápolis guarda histórias há mais de 85 anos. Mas nesta última semana do mês de outubro que o lugar marcou o início de uma nova história na vida de Michely Pereira, de 21 anos. O destino escolhido por ela foi o da fotografia. Desempregada, Michely viu no curso Primeiro Foco – O Jovem e a Fotografia Digital uma oportunidade de aprender, se profissionalizar e trabalhar com o que mais gosta.
O que para ela, a princípio, pareceu um obstáculo para iniciar o curso, se tornou força: a presença da filha de dois meses que ainda amamenta. “Não tenho com quem deixar minhas filhas porque uma eu amamento. Conversei com a professora e perguntei se eu poderia levá-las junto com meu esposo para que ele pudesse cuidar delas. Ela deixou sem nenhum problema. Geralmente, mães não podem levar seus filhos para a sala de aula”, diz.
Porcos poderão fornecer rins para transplante em humanos
Radassa Vitória, de dois meses de vida, Sophia Oliveira, de 6 anos e Marcos Vinícius, de 26, embarcaram no projeto de Michely. Toda a família apoiou a estudante nessa nova trajetória. “Faltei o serviço para acompanhá-la e para olhar as crianças. O curso foi a alegria dela porque ela sonha ter um trabalho que não seja preciso sair de perto das filhas”, contou o marceneiro Marcos Vinícius, marido da estudante. Eles estão juntos há cinco anos.
“Pedi muito a Deus para ser selecionada quando me inscrevi. Graças a Deus eu consegui. Quando recebi a ligação fiquei muito feliz porque poderei ser uma profissional e trabalhar com o que amo: que é a fotografia”, conta a estudante. Segundo ela, a fotografia desperta o que há de melhor no ser humano seja qual for a situação. “Faz olhar a vida a partir de outros olhos, um olhar mais detalhista. O propósito da foto é inspiração, transformação e revolução”, afirma.
Conexão e sonhos em comum
De acordo com a professora do curso, Inaê Ribeiro, o objetivo da primeira aula foi evidenciar que a fotografia vai além de um simples clique. “São intenções, gera transformações e evoluções. O ponto alto da aula foi a conexão que fizemos com os alunos através de uma dinâmica de apresentação. Eles contaram um pouco sobre suas histórias e o motivo de estarem ali”, conta.
Para ela, todos os selecionados estão guiados pelo mesmo propósito: aprender sobre foto e ter uma carreira na área. “Mães que sonham em proporcionar para seus filhos um futuro melhor. Jovens recém-formados no ensino médio que ainda não têm o primeiro emprego; pessoas que têm o sonho de aprender, mas que não têm condições financeiras de pagar um curso”, afirma, agradecida ao recurso do Fundo Municipal de Cultura de Anápolis, edital 2020, que viabilizou a realização do curso.
Resgate Histórico
Todos os sábados, das 14 às 18 horas, professora e alunos se dedicam a aprender e reproduzir técnicas da fotografia digital na antiga estação. Os resultados deixaram o historiador Jairo Leite impressionado. Segundo ele, os que se formarem serão, sem dúvida, profissionais muito bem preparados para seguir carreira na como fotógrafos. “Tenho acompanhado o empenho do grupo e as fotos que já pude ver tem me deixado muito feliz, afinal, esse lugar representa muito pra mim”, revela ele, que é o coordenador do Museu Histórico e Estação Ferroviária de Anápolis.
Para Jairo, que também é presidente do Conselho Municipal de Patrimônio Histórico e Cultural De Anápolis – COMPHICA e presidente Fundador do Instituto de Patrimônio Histórico e Cultural Professor Jan Magalinski, o Foco Digital também tem servido para valorizar a história de Anápolis pelo ângulo da ferrovia. São 86 anos de detalhes importantes, compreendidos desde a inauguração dos trilhos em 1935 até hoje. “Como ponta da linha da estrada de ferro Goiaz, ela teve impacto direto na economia, cultura, e imigração local, cujos reflexos são bastante nítidos até hoje”, explica o historiador.
Através desse trabalho, ele espera tornar ainda mais conhecido o projeto que desenvolve para tornar a estação o Museu dos Ferroviários. “Queremos incluir o local no turismo histórico de Anápolis, proporcionando experiências únicas aos visitantes, abrigando uma exposição permanente sobre o período e também oferecendo espaço para exposições culturais diversas, de caráter temporário”, vislumbra. Também está prevista a restauração de um vagão da época do transporte de passageiros, que será transformado num charmoso café. As aulas de fotografia vão até o dia 4 de dezembro, quando os alunos devem apresentar ao público as fotos tiradas durante o curso. “Ficarão todos surpresos e encantados”, concluiu Jairo.