O objetivo é desativar os genes que causam a rejeição aguda nos humanos. As células modificadas do porco, então, passam por uma técnica de clonagem
Pesquisa brasileira com porcos transgênicos pretende criar em dois a três anos as condições para transplantar rins dos animais em pessoas. São os chamados xenotransplantes (transplantes de órgãos e tecidos entre espécies diferentes). A técnica promete menor índice de rejeição.
Nesta semana, cientistas do Centro de Pesquisa sobre o Genoma Humano e Células Tronco da Universidade de São Paulo (USP) anunciaram que produziram alguns embriões e planejam iniciar testes em seres humanos a partir de 2023.
Os primeiros porquinhos transgênicos devem nascer entre maio e junho do ano que vem, em São Paulo. Ernesto Goulart, pesquisador do Centro de Estudos do Genoma Humano e Células-Tronco da da Universidade de São Paulo (USP) anunciaram que produziram alguns embriões e planejam iniciar testes em seres humanos a partir de 2023.
O objetivo é desativar os genes que causam a rejeição aguda nos humanos. As células modificadas do porco, então, passam por uma técnica de clonagem. A partir dessa célula, é gerado um embrião que vai se desenvolver na barriga de um animal, com órgãos compatíveis para o transplante em pessoas.
Quando o embrião se mostrar viável, através de exames laboratoriais, ele é transferido para uma leitoa que será uma barriga de aluguel até o nascimento dos filhotes. Se tudo der certo, a expectativa é ter porquinhos nascendo em seis a oito meses.
Criatório especial
Os porcos gerados para xenotransplantes devem nascer em um local especial chamado pig facility, que é um criadouro biosseguro, onde as leitoas e os filhotes possam viver em condições sanitárias especiais. Eles não podem ser criados nas mesmas condições de um animal para a produção de carne.
Os xenotransplantes ganharam repercussão nesta semana após o anúncio de que cientistas do Centro Médico Langone Health, da Universidade de Nova York, nos Estados Unidos, anunciaram o sucesso em um procedimento em que conectaram o rim de um porco aos vasos sanguíneos de um homem com morte encefálica.
O xenotransplante, de acordo com a equipe, foi bem-sucedido. A criação de porcos transgênicos não é uma novidade. Em dezembro do ano passado, a Food and Drug Administration (FDA), órgão que corresponde à Anvisa no Brasil, liberou a comercialização de suínos transgênicos ‘sem açúcar’, o GalSafe.
O animal não produz um tipo de açúcar chamado alfa-gal e evita alergias alimentares alimentares e dermatológicas em consumidores. À época da liberação, cientistas do FDA anunciaram que o porco tem carne mais segura e que seus órgãos e tecidos eram mais confiáveis para a realização de transplantes.
No início do ano, a FDA anunciou que três humanos intolerantes à alfa-gal estavam tratando queimaduras de pele com a pele do GalSafe no Massachussetts General Hospital.
A empresa que criou o GalSafe é a mesma que produziu, nos anos 1990, a ovelha Dolly. Em 2009, a FDA aprovou um anticoagulante feito a partir do leite de cabras transgênicas para pacientes de uma doença rara conhecida como deficiência hereditária de antitrombina.