De acordo com o último censo sobre status civil do Instituto Brasileiros de Geografia e Estatística (IBGE), em 2021, o número de pessoas solteiras no país era de 81 milhões – o levantamento não inclui viúvos, divorciados nem pessoas em outros tipos de união conjugal. O mesmo censo aponta que o número de pessoas solteiras é maior que a quantidade de pessoas casadas – segundo o IBGE, em 2021, eram 63 milhões de casados no Brasil.
Leia também: Melhore sua comunicação no WhatsApp: Dicas do que fazer e evitar
Os motivos para se estar solteiro são variados, mas, ao contrário do que muitos podem pensar, ficar fora de um relacionamento amoroso – seja namoro ou casamento – não significa tristeza e solidão. A analista de dados Márcia Priscila, 39, é defensora dessa opinião.
Solteira há nove anos, ela conta que o status representa liberdade e que, nesse período, aprendeu a valorizar sua individualidade, sem se sentir sozinha ou pressionada a estar com alguém. “Ninguém é responsável pela minha felicidade. Hoje me considero uma pessoa extremamente completa. Gosto do que faço, da minha casa, dos meus amigos e de poder ir aonde quero”, afirma.
Pensamento semelhante é compartilhado pelo profissional autônomo Roberto**, 40. “Amo estar solteiro. Para mim, é uma paz”, garante ele, que está “sozinho” há 11 anos. Questionado sobre a busca por um relacionamento, ele responde: “Não procuro relacionamento. Tudo pode acontecer, inclusive nada”. Roberto explica que tanto o mundo quanto as pessoas são mutáveis e que é melhor não ter expectativas em relação a ninguém. “Não tenho paciência para ter um relacionamento, se é que podemos chamar assim hoje em dia”, frisa ele.
Neurocientista e especialista em comportamento, relacionamentos e hipnoterapia, Thiago Porto explica que o amadurecimento e a autoaceitação são essenciais para viver plenamente a solteirice. “Quando você está solteiro, precisa conviver consigo mesmo, com seus pensamentos e sua rotina. A base para essa convivência saudável é a autoaceitação e o autoconhecimento”, pontua. Ele observa que a falta dessa autoaceitação pode ocasionar uma busca constante em estar em relacionamentos, como se fosse a única forma de validação.
Porto acrescenta que o amadurecimento e a autoaceitação são importantes para lidar com as cobranças sociais por um relacionamento – comportamento que ele classifica como tóxico. “São cobranças que podem prejudicar a saúde emocional, a saúde mental de uma pessoa, porque geram conflitos. A pessoa está decidindo uma coisa para a vida dela, e a sociedade está cobrando outra”, destaca.
Redes sociais
O comportamento das pessoas na internet é um fator que tem contribuído para que muitas optem por estar solteiras. O analista contábil Matheus Francisco, 26, revela que nunca namorou e, apesar de não utilizar suas redes sociais para conhecer pessoas, conta que a maneira como alguém se comporta nas redes e suas publicações podem ser fatores decisivos para um encontro. “A intenção da rede social não é para conhecer pessoas, tanto que minha conta é privada. Porém, já houve flertes lá. Com certeza, dependendo do que a pessoa posta ou não, me desanima”, afirma.
Segundo Thiago Porto, antes das redes sociais, a primeira impressão ao conhecer alguém era formada pela maneira como a pessoa se vestia, sua postura. Agora, é possível saber se alguém se expõe muito ou se tem um perfil mais reservado apenas pelas fotos que compartilha. Ele esclarece que casos de exposição excessiva da felicidade pode provocar uma resistência do “pretendente” em mostrar suas fragilidades, situação que pode levar até a um quadro de adoecimento.
“As redes sociais criam uma camada de falsidade, pois as pessoas formam uma primeira opinião muito mais complexa com base em fotos e vídeos, que mostram quem realmente são, mas também podem esconder a verdadeira essência”, detalha o especialista. Para ele, as redes sociais facilitam a comunicação e a aproximação ao oferecer ferramentas de contato, mas essa facilidade pode gerar opiniões tóxicas e uma comparação constante entre os usuários.
Encontros sem compromisso
Estar solteiro, no entanto, não significa estar “sozinho” o tempo inteiro ou somente rodeado de amigos. Head de marketing do Ysos – aplicativo para casais e solteiros marcarem encontros –, Gustavo Ferreira Bento revela que a plataforma reúne muitas pessoas solteiras que estão em busca de encontros sem compromisso.
“A crescente valorização da solteirice na sociedade atual tem influenciado a forma como o aplicativo é projetado. As pessoas estão entendendo que podem se fazer felizes em muitos aspectos da vida, sem depender de um modelo imposto”, comenta.
Segundo ele, os usuários solteiros estão percebendo que existem outras pessoas interessantes com o mesmo status civil em busca de boas experiências e que esse grupo solteiro está valorizando os momentos.
*Sob supervisão de Renato Lombardi
**Nome fictício
Fonte: Maria Cecília Almeida / O Tempo.