Os brasileiros “importam” resíduos de plástico, papelão e vidro, para o abastecimento da fabricação desses mesmos materiais na indústria nacional. Uma parte da matéria prima deles é originada do próprio resíduo. Exemplo: o papelão novo, tem um percentual de papelão velho. Faz parte do processo industrial, disse Marcus Vinicius Silveira, diretor executivo do Instituto Atmosfera de Estudos e Pesquisas Ambientais. Oficialmente, entre as importações registradas no semestre, 13,7 mil toneladas foram de papel e papelão para a reutilização e outras 8,9 mil, cacos de vidro. A comercialização é facilitada pela baixa tributação, pois, não há alíquota de importação para o vidro incolor e os resíduos de papel, enquanto o lixo plástico tem uma alíquota de 11,2%.
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Repercussão
Um estudo recente mostra que o Brasil produz, em média, cerca de 80 milhões de toneladas de resíduos todos os anos. Os dados são do Sindicato Nacional das Empresas de Limpeza Urbana, mas, os índices de reciclagem desse montante estão em 4% ao ano, ou seja, 3,2 milhões de toneladas. A porcentagem de reutilização contrasta com os números de nações como Alemanha (cerca de 60%), Coreia do Sul (59%) e Áustria (58%) que, ainda assim, exportam parte de seu lixo para países menos desenvolvidos, como o Brasil. A baixa tributação é um incentivo para o pequeno investimento na reciclagem e gera efeitos de curto prazo para as empresas, mas produz consequências ambientais e sociais significativas para o país.
A principal dúvida, entretanto, é no campo ambiental, ou seja, saber-se para onde vão os 96% de resíduos que o Brasil não recicla. São descartados, de forma irregular, no mar, em rios e lixões. E, socialmente, há, por volta de um milhão de brasileiros que têm a coleta de lixo como fonte de renda, e perdem oportunidades com a importação do “lixo estrangeiro”. O Instituto Atmos assegura que o primeiro passo para se buscarem soluções é levar a discussão ao debate público: “Nossa esfera pública não discute nenhum desses impactos, mesmo que seja para chegar à conclusão de que as empresas continuarão a investir na importação”, diz a publicação. Algumas instituições ligadas ao assunto começaram a se mobilizar para a reversão do quadro. No último dia 22 de julho, a União Nacional das Organizações dos Catadores e Catadoras de Materiais Recicláveis do Brasil divulgou uma nota oficial defendendo a proibição da importação de cacos de vidro.
Caso de Anápolis
Estudos apontam que cidades de portes médio acima (caso de Anápolis) no Brasil, perdem grandes oportunidades econômicas por não haverem sido despertadas, ainda, para esta lucrativa atividade. Com um potencial invejável de empresa comerciais, industriais e prestacionais de serviços, diariamente são descartadas grandes tonelagens plenamente aproveitáveis de variadas espécies de resíduos. Muito desse material vai parar, diretamente, no Aterro Sanitário e/ou em locais indevidos, como estradas vicinais, margens de córregos e lotes baldios. “É dinheiro desperdiçado, jogado fora”, diz o ambientalista Robson Guimarães.
Tem-se como certo que caso houvesse uma campanha de incentivo, conscientização e esclarecimento sobre o assunto, o lixo urbano, ou, resíduo sólido, em grande parte, poderia ser transformado em dinheiro para o sustento de muitas famílias anapolinas, sem contar o alívio que causaria no sistema de coleta e destinação desses materiais, hoje operado por uma empresa particular. Em resumo, falta interesse em se desenvolver uma política sanitária ecologicamente correra na Cidade.