De há muito, os brasileiros perderam o medo de se endividarem. Com raras e honrosas exceções, os nacionais não se intimidam em se envolverem nos mais diferentes projetos de negociações. Muitos compram de tudo um pouco, mesmo que não seja necessário. Mesmo que tenham de passar grande parte da vida pagando a despesa. Alguns gastam por necessidade, outros, por vaidade, outros sem justificativa plausível. Mas, gastam e se envolvem, cada vez mais, nas linhas de crédito que se lhes apresentam. Assim sendo, mais da metade da população brasileira encontra-se endividada atualmente. No entanto, apenas 11% dessas famílias se consideram muito endividadas.
A maioria delas não enxerga seu grau de endividamento como um problema. Isto, por sinal, permite que muitos, ainda, venham a contrair dívidas, se a oferta de crédito assim permitir. É aí que reside um problema, ainda, mascarado pelo crescimento econômico: o risco de banalização do crédito e da sua utilização sem medidas pode se constituir num aumento generalizado de endividamento, inadimplência e, assim, em um aumento da taxa de juros do comércio, penalizando, em médio prazo, o crescimento econômico sustentado o que, aliás, já acontece. A Taxa Selic confirma isso.
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O crescente endividamento das famílias, segundo os analistas, passa precisamente pela maior oferta de crédito para financiamento da casa própria, de automóveis e do crédito consignado que receberam grande impulso com o crescimento da renda formal e a ascensão de milhões de pessoas para as classes C e D. Estudos recentes do instituto Data Popular do Brasil aponta para a entrada de milhões de brasileiros na sociedade do consumo nos últimos anos, o que mudou o perfil da classe média nacional. Pessoas com renda entre R$ 1.800 e R$ 5.900 já representam metade da população do País, em que pese os estragos provocados por algumas crises, a mais grave delas, a pandemia da covid-19, que deixou muita gente “na lona”.
E, nessa brecha, entram as instituições financeiras, que têm investido, ao oferecerem linhas de financiamento em um grande número de prestações, o que contribui para que a demanda reprimida dessa grande parcela da população possa ser liberada e convertida em consumo. Todavia, muitas das vezes é um consumo feito de forma não consciente, não adequado à renda do endividado. Estima-se que 88% do público endividado ganhe, até, quatro salários mínimos e, 74% dessa população têm, até, 40 anos. Ainda dentro dessa categorização, as causas do endividamento e da inadimplência recaem no desemprego (38%) e no descontrole dos gastos (14%).
O quadro não é animador para muitos segmentos, uma vez que, com o fim dos programas emergenciais de ajuda a diferentes categorias de trabalhadores (caminhoneiros, taxistas e outros), previsto para dezembro, além do afrouxamento de determinadas atividades tributárias dos três níveis de governo (municipais, estaduais e Federal), principalmente por se estar em ano eleitoral, sinaliza que viria por aí, um arrocho econômico e, quem não estiver preparado para ele, vai ter muitas dificuldades. O recomendável, portanto, é pagar o máximo das dívidas que se puder pagar e esperar o novo ano, com novo governo e novas propostas. Cautela, então…