Quanto mais envelhecemos, maior é a tendência de não acreditarmos em sonhos, promessas e narrativas. Na minha infância acreditava que a declaração de um livro refletia a verdade, afinal, porque alguém escreveria um livro sem que tivesse uma clara intenção de esclarecer, orientar e dar sabedoria ao leitor?
A pandemia tornou mais acentuada a questão de como a verdade é aquilo que se deseja ser, para atender a interesses de monopólios, ideologias, religiões. Nem mesmo a ciência escapa do poder do capital. A medicina tem se tornado uma meretriz para atender a poderosos laboratórios cujo interesse essencial é o lucro. Hilton Japiassu já denunciou isto muitos anos atrás no seu livro “O Mito da Neutralidade Científica”.
Toda esta ausência de valores pode nos tornar amargos, cínicos e céticos. É fácil se desorientar e suspeitar até mesmo de verdades comprovadas e de boas intenções. Jogamos fora a água suja da bacia, com a criança que estava dentro dela. Como discernir o falso do verdadeiro, a luz das trevas, o mal do bem? A ausência de convicções enfraquece o que é bom e belo. Apesar da simpatia que temos por Raul Seixas, o poeta maluco beleza, não dá para viver como uma metamorfose ambulante. Precisamos de parâmetros, de símbolos, de Norte.
No Estado da Flórida (EUA), há um fenômeno conhecido como sinkhole, que ocorre esporadicamente. São buracos por debaixo da terra, desconhecidos dos construtores e projetistas, que ficam muito abaixo da superfície e cujos efeitos são devastadores para a construção civil, já que não é (ou não era) possível de serem detectados por causa da sua profundidade, mas depois da obra concluída, os terrenos cediam e construções eram tragadas lentamente por este buraco.
É sobre a ausência de fundamentos sólidos que no antigo livro de sapiência judaica o salmista escreve: “Ora, destruídos os fundamentos, que poderá fazer o justo?” (Sl 11.3). Esta é uma pergunta extremamente importante para a geração pós moderna, desconstrucionista, relativista, pluralista e subjetivista. O que pode acontecer para uma civilização e cultura se os fundamentos da cidadania, moral e ética forem destruídos? O que pode acontecer para uma sociedade se ela resolver abolir os valores e princípios que até então eram considerados espinha dorsal no pensamento social e ético? O que acontecerá com a cultura que despreza Deus e os valores morais?
Só temos duas opções: viver com cinismo ou com esperança. Nas virtudes teologais do cristianismo, a esperança – junto com a fé e o amor – compõe o tripé que rege, sustenta e motiva a vida. Diante dos paradoxos, vale a pena considerar mais atentamente a esperança, porque ela afeta a forma de viver e isto atinge emoções e até mesmo a saúde. A esperança potencializa o nosso viver.
Numa recente pesquisa, 17% dos brasileiros escolheram a palavra esperança para 2022. Charles de Gaulle afirmou que “o fim da esperança é o começo da morte.” Que a esperança alimente seu coração neste tempo de incertezas. FELIZ 2022