Golpista some com o dinheiro enquanto vendedor e comprador ficam brigando
Imagine a oportunidade de comprar aquele carro por um preço de ocasião. O vendedor justifica o valor baixo dizendo que está recebendo o veículo como pagamento de uma dívida e pede que o você concretize o negócio diretamente com o tal devedor, que é o dono do carro. Tudo corre como o planejado até que você percebe que pagou o valor para um golpista e não para o dono do veículo, que agia de boa fé. É o golpe do “estelionato cruzado”, que tem acontecido todos os dias na cidade de Anápolis. As informações são do 1º Distrito Policial, que está registrando a média de 1 caso a cada 24 horas. A modalidade é nova por aqui, mas já é bastante praticada em grandes centro, como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e cidades do Nordeste brasileiro.
ENTENDA O GOLPE – A reportagem do Portal Contexto ouviu uma dessas vítimas, que contou como tudo aconteceu. João (nome fictício) anunciou um utilitário num famoso site de vendas pelo preço de R$ 60 mil. No dia seguinte, recebeu o contato de Marcos (nome fictício) dizendo querer fechar negócio e solicitando que o anúncio fosse retirado do ar, o que foi feito por João. Marcos é o golpista! Antes de entrar em contato com João, ele copiou as fotos e os dados do anúncio. Quando João retirou o anúncio do ar, Marcos o colocou novamente mas, desta vez, em seu nome e pelo preço de R$ 40 mil. Imediatamente Paulo (nome fictício) se interessou.
Em contato com Marcos, fechou negócio. Estranhou o baixo valor, mas recebeu como explicação que se tratava de um pagamento de dívida e daí o abatimento, por causa da urgência em resolver. Consultados os documentos, tudo ok. O golpista então fala com João, o dono do carro. Explica que vai mandar um intermediário, para fechar o negócio, e manda Paulo para realizar a transação, com a orientação de não comentar nada sobre a dívida, para não constranger João. Paulo faz uma transferência bancária para Marcos, no valor de R$ 40 mil. No momento de entregar a documentação do veículo, Marcos envia, pelo celular, um comprovante de agendamento de transferência bancária para João, que acredita ter recebido o dinheiro e concretiza o negócio. Paulo, vai embora com o carro.
Mais tarde, João percebe que o dinheiro não entrou. Tenta falar com Marcos, que já desapareceu com os R$ 40 mil. Posteriormente, procura Paulo e ambos percebem que caíram num golpe. O desdobramento é uma disputa judicial entre as duas vítimas para decidir quem fica com o veículo, o que pode levar anos, e a abertura de inquérito para identificar e localizar o golpista, algo muito difícil já que não existem dados bancários reais. Apenas os de laranjas, que geralmente estão em outros estados. Situação que tende a se tornar um beco sem saída para a polícia e um enorme constrangimento para os dois que agiram de boa fé e, em regra, não gozam de boa situação financeira, principalmente nesse momento de crise, precisando dispor de ainda mais recursos de tempo e dinheiro com advogados.
COMO EVITAR – A delegada titular do 1º Distrito Policial, Gêinia Maria Eterna, explica que esse tipo de estelionato só é possível por causa de três fatores que se alinham: a pressa, a desatenção e a necessidade financeira, o que acaba baixando as defesas das pessoas honestas, que acreditam ingenuamente que as outras pessoas também são. Segundo ela é preciso entender que preços muito abaixo do mercado são um forte indício de golpe. Outra recomendação é jamais fazer negócio com intermediários, mas somente com o dono do carro, cujo nome está nos documentos. Finalmente, a delegada pede que as pessoas compreendam a diferença ente uma transferência efetiva e um agendamento de transferência. No caso do agendamento, o comprovante é apenas uma promessa de que o dinheiro será transferido na data determinada, o que só vai ocorrer se houver saldo na conta do comprador, ou se o mesmo não cancelar o agendamento. Na dúvida, evite fechar negócio do dia pra noite e consulte o gerente do seu banco sobre o recebimento. “Desconfie sempre de tudo e de todos, pois os golpistas precisam da ingenuidade para sobreviverem”, completa Gêinia.