Os últimos dias foram de indignação e perplexidade nas redes sociais e na mídia. O motivo é mais um exemplo de violência sexual praticada em âmbito doméstico, dessa vez a vítima foi uma criança de 10 anos que teve uma gestação confirmada, sendo o agressor o seu próprio tio, que mesmo sendo da família roubava a inocência da menina desde os seus 6 anos de idade.
Apesar da ilegalidade e da imoralidade que é manter relações sexuais com menores de 14 anos, o número de casos bárbaros como este crescem a cada ano. De acordo com Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2019, no Brasil são cometidos 180 estupros todos os dias, sendo a maioria das vítimas (50,3%) crianças com até 13 anos de idade.
A violência sexual anda conjuntamente com a violência contra a mulher. O machismo enraizado na nossa cultura faz com que existam questionamentos e posicionamentos inaceitáveis como tentar culpar a vítima por ter “provocado” ou por ter se silenciado por muito tempo e, portanto, “consentindo” com a violência sofrida.
Nossa sociedade patriarcal reforça tais ideias a tal ponto que muitas vezes a vítima deixa de se manifestar por medo de como será vista pela sociedade e até mesmo pela própria família. Normalizar o abuso e a violência de gênero é um fenômeno que eu, como mulher, combato diariamente e que deve ser confrontado por todas, para que finalmente as mulheres possam se sentir seguras, tanto nas ruas quanto em suas casas.
A violência doméstica possui múltiplas faces e formas, seja ela sexual, física, psicológica ou financeira. Sendo assim, uma criança que está imersa em um ambiente de violência irá crescer e achar que abuso é algo que deve ser tolerado e dessa forma a violência que se inicia na infância acaba dando lugar a violência de gênero que é perpetrada por toda a sua vida.
Os impactos negativos que a violência sexual causa na infância e no processo de desenvolvimento de uma criança são incontáveis. Dessa forma, a prisão do abusador, ocorrido na terça-feira (18), não exime o estado da responsabilização pela falta de apoio a uma criança que era violentada há quatro anos. Nós falhamos com essa menina e com tantas outras crianças que tem sofrido esse mau, temos falhado como sociedade, falhado como família e como mulheres.
O fim de atrocidades como esta somente será possível com politicas públicas de rastreio e combate a violência sexual e a violência contra a mulher. Utilizar espaços como as escolas e as igrejas para atuar como a interface primária entre o poder público e as crianças seria uma maneira de aproximar as pequenas vítimas de abuso de justiça e amor.
Além disso, é importante atuar no seio da família, com educação e suporte às vítimas para que possam se ver livres da dominação; seja ela física, psicológica ou financeira; de um monstro que se passa por um familiar.