Na primeira quinzena de julho, senti muito a morte de dois brasileiros: o diplomata Paulo Tarso Flecha de Lima e meu amigo Josarte. Para alguns, pode não haver relação entre a perda de uma figura importante da diplomacia brasileira e de um ex-morador de rua recuperado pela Missão Vida. Para mim, há uma conexão singular nesses dois fatos e que demonstram a vulnerabilidade humana.
Flecha de Lima teve papel relevante na ampliação do comércio exterior do Brasil na década de 80 e, em 1985, tornou-se Secretário-Geral das Relações Exteriores. Foi embaixador do Brasil em Londres (1990-1993), Washington (1993-1999) e Roma (1999-2001), aposentando-se após 46 anos de diplomacia. Faleceu no dia 12 de julho, aos 88 anos, vítima de infecção generalizada decorrente de um problema urinário. Seu corpo foi velado em uma cerimônia restrita no Palácio do Itamaraty.

José Pereira da Silva, conhecido como Josarte, era um artista plástico próspero que, em razão dos vícios, perdeu tudo e viveu nas ruas como mendigo por mais de 10 anos. Em 1991, foi acolhido e recuperado na Missão Vida e, a partir de então, dedicou-se ao ministério missionário da instituição, acompanhando as equipes da Missão Vida por todo o Brasil, levando sua arte e seu testemunho a centenas de igrejas, espaços públicos, teatros, empresas e eventos e, ainda, como professor de artes no Centro Educacional Vida. Na Missão Vida, fez muitos amigos que se tornaram sua família. Faleceu no dia 06 de julho, aos 79 anos, vítima de um câncer diagnosticado em 2020. Seu corpo foi velado na sede da Missão Vida em Cocalzinho/GO durante um culto em ação de graças pela sua vida.
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Josarte era um amigo, um filho, um missionário e um ex-interno com quem convivi por mais de 30 anos, numa relação de amizade e carinho mútuos. Por Flecha de Lima, eu nutria uma enorme admiração, não apenas por sua atuação profissional, mas também por sua conduta pessoal irrepreensível.
Seis dias separaram as mortes destes cidadãos com histórias tão diferentes: um, célebre, o outro, simples; um, diplomata, o outro, ex-morador de rua; um, com atuação internacional; o outro, missionário e artista plástico. As diferenças são inúmeras, contudo, ambos deixaram saudades e, à sua maneira, escreveram sua trajetória com coragem, dedicação e força. Independente da notoriedade alcançada em vida, o legado de ambos não será esquecido!
Para nós, fica a lição de que devemos viver de forma que a nossa ausência seja motivo de pesar e nossa vida seja lembrada com carinho e admiração. E não se preocupe com a quantidade de pessoas que sentirão sua falta, e sim com o impacto que você teve na vida daqueles que te cercam. A Josarte e Flecha de Lima, homens extraordinários e incomparáveis, o meu apreço e reconhecimento! A nós, que continuamos aqui, fica o estímulo para uma vida que deixe saudades.
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