“Aviso. Esta loja tem dono. Estou monitorando 24 horas por dia. Se entrar sem permissão, irá apanhar ou morrer”. São os dizeres de uma placa colocada na fachada de uma loja na Avenida Silviano Brandão, no Bairro Sagrada Família, Região Leste de Belo Horizonte.
Embora seja uma nota pitoresca e o proprietário tenha afirmado que a placa é meio que uma intimidação indireta e que nunca agrediu a ninguém, nem tem a intenção de o fazer, mesmo tendo afirmado que já registrou mais de 20 invasões, a maioria seguida de pequenos furtos, a advertência virou motivo de polêmica na região.
Este episódio chama a atenção da sociedade para o dia-a-dia nas ruas do Brasil, em cidades pequenas, médias, ou, grandes. A insegurança tem assolado a população, a ponto de haver certos tipos de procedimentos que fogem ao convencional. De um lado, a ação, cada vez mais ousada, de pessoas que perambulam pelas comunidades de forma descontrolada.
Um problema social. Nem todas elas, claro, têm instinto predador, ou, intenções criminosas, notadamente para furtos e/ou roubos. Outras, deliberadamente, adotam esse comportamento, muitas das vezes com a (quase) certeza da impunidade. Além disso, desenha-se o descrédito da população com as políticas de segurança pública.
A sociedade parece desacreditar, cada vez mais, no sistema que se propõe a protegê-la. Todavia, isto não se confirma cabalmente. O comerciante autor da placa, disse que não aguenta mais ter seu estabelecimento invadido, depredado e observar os clientes se afastarem temerosos de que algo de ruim lhes aconteça com a presença dos invasores.
Na esteira desse caso de Belo Horizonte, surgem muitos outros, um deles registrado esta semana em Anápolis, o que exemplifica a sensação de impunidade. Um homem foi abordado pela polícia ao ser flagrado na direção de um carro com restrição de furto/roubo. Ao invés de se apavorar, ou, pelo menos, ficar constrangido, ele, literalmente, disse aos policiais que se tratava de “um simples furto”, que seria liberado logo na audiência de custódia e em poucas horas estaria em liberdade nas ruas. Tamanha desfaçatez chamou a atenção de todos quanto presenciaram a cena.
Isto significa, dentre outras coisas, que, o destemor dos malfeitores quanto à eficácia da lei é mais presente do que nunca. O abordado tinha a convicção de que nada lhe aconteceria. Estes fatos se repetem diária e constantemente, o que deixa os agentes da lei esmorecidos ao verem seu trabalho se tornar em vão. E, enquanto isso ocorre, a sociedade, em geral, grita por um socorro que não sabe de onde virá. Se é que virá de algum lugar.
O brasileiro, em sua essência, é vítima de um mecanismo que o submete a situações constrangedoras, a ponto de tentar resolver assuntos de natureza alheia ao seu cotidiano. Se cada comerciante tiver de colocar placas ameaçadoras para se ver livre de maus elementos e, se cada furto de veículo resultar na soltura do envolvido já na audiência de custódia, por certo, será o fim do sistema.