Nesta semana uma pessoa me perguntou se eu tomaria a vacina contra o Covid-19. Eu prontamente disse: Se eu tiver a oportunidade, claro que sim. Então essa pessoa me respondeu. – Você não tem medo? E concluiu. – Eu vi uma matéria falando que essa vacina era perigosa.
Bom, onde ela viu essa matéria, não consegui a resposta, mas minha preocupação é no entendimento de que se ela viu a matéria, outras milhares de pessoas também viram e podem estar desinformadas. E por essa e outras situações resolvi escrever um artigo sobre essa nova medicina que as pessoas estão aderindo. Com a facilidade de acesso às redes sociais, vemos quilômetros de informações com centímetros de profundidade sobre os assuntos.
Já víamos casualmente alguns profissionais da saúde reclamando de seus pares. A grande dificuldade dos médicos é que seus pacientes ficam de galho em galho. Já chegam no consultório com diagnósticos pré-estabelecidos por outros médicos e acabam precisando dar aulas numa consulta que deveria ser mais simplificada. Cada médico ou especialista tem uma forma particular em tratar determinados problemas de saúde.
Antigamente víamos que as famílias tinham seus médicos individuais. Médicos da família. Clinico geral que acompanhava várias gerações da família de uma forma íntegra e pessoal. Hoje em dia não é assim.
A grande dificuldade da área médica hoje é que houve uma grande migração. Os médicos tradicionais, que ficam em suas clínicas o dia inteiro e o paciente só tinha acesso a ele por agendamento, buscavam atualizações em suas áreas específicas em congressos e viagens para fora, agora são os médicos digitais. Alguns já formaram dentro dessa era. Médicos que gravam conteúdos para as redes sociais. Que tiram duvidas e mostram procedimentos em qualidade 4k. Médicos da nova geração e até influencias digitais.
Alguns cobravam certo valor em suas consultas e hoje precisam responder um questionamento do paciente, como se fosse uma consulta, pelo WhatsApp sem ao menos receber uma pequena taxa. Ou as vezes, dar o suporte da pós-consulta e pós-operatório sem ter aquele tempo pago.
Mas a fama online para médicos e enfermeiros traz alguns riscos e à medida que mais e mais profissionais da área médica acessam a internet para orientar o público e combater a desinformação, pode haver um risco adicional de que eles se tornem parte do problema que estão tentando combater.
Não estou falando que isso é errado ou que a tendência é piorar, não. Acho muito bom ver que esses médicos estão se adaptando em sua forma de comunicar. E inclusive, presto assessoria em comunicação para alguns. A questão maior é que quando há informação demais as dúvidas aparecem numa proporção ainda maior e na medicina as boas intenções não podem gerar maus resultados. Sempre existirá a boa e a má informação. O bom e o mau profissional.
O desafio central é dentro do entendimento de que as pessoas recorrem à internet para obter informações durante uma crise de saúde, seja ela pessoal ou uma que o mundo inteiro enfrenta. Mas as melhores e mais precisas informações nem sempre são empacotadas e otimizadas de uma maneira que atraia um público curioso em busca de certeza. Pode ser perigoso instruir as pessoas o que devem ou não fazer, sem ter esse contato pessoal e até saber dos problemas de saúde da geração passada desta pessoa.
Muitos médicos têm se tornado marcas. Transformando informações precisas em assuntos interessantes e tornando-se influenciadores, mas precisam descobrir uma maneira de fazer isso sem cair em uma armadilha ética. Pode aceitar parcerias para as contas do Instagram e do Youtube, porém é necessário garantir que esses patrocínios não pareçam recomendações médicas.
A fama online pede destreza e cuidado a um nível que a maioria das pessoas subestima. E especialmente para médicos e outras pessoas que trabalham em áreas que são alvo de desinformação, existem alguns riscos mais sérios. Você que é medico e está na internet, mas também trata pacientes reais, pode ver em primeira mão como a desinformação afeta as pessoas. Não é mesmo? Muitas delas se automedicam porque viram um conteúdo errado nas redes sociais.
Algumas empresas simplesmente roubam conteúdo de profissionais médicos nas mídias sociais e o usam para vender seus produtos. É necessário cuidado e seriedade com a informação.
Fazendo tudo de forma séria e adaptando essa nova realidade ao mundo médico acredito que os riscos valem a pena, especialmente se tivermos mais médicos online ajudando as pessoas a encontrarem as melhores informações sobre sua saúde. E sempre de forma pontual, lembrando ao paciente online que é necessário ele procurar o médico dele para complementar o assunto.