Era uma noite de domingo, 24 de fevereiro, quando Marlon Régis Santana de Souza, de 43 anos de idade, saía da farmácia aonde trabalhava, no Bairro São Carlos, e foi atropelado por uma caminhonete desgovernada que bateu no carro em que ele estava junto com a sua esposa. O impacto foi tão forte que Marlon foi arremessado para dentro do estabelecimento. A esposa se feriu, mas sem gravidade. O condutor, Fernando de Menezes Cordeiro, segundo foi divulgado na época, estava alcoolizado, foi preso em flagrante e liberado após pagar fiança. O caso de Marlon ganhou enorme repercussão e comoveu a população de Anápolis. Para a família e amigos, mais do que a comoção, ficou a dor e uma lacuna que nunca vai se preencher.
Em Anápolis, segundo dados da Delegacia de Investigação de Crimes de Trânsito (DICT), no ano passado, no Município, ocorreram 81 mortes decorrentes de acidentes de trânsito. Este ano (que ainda não chegou à sua metade), as mortes no trânsito já somam 30. Em 2019, o número de lesionados foi de 3.651 e, este ano, 1.947. E, de acordo com o delegado titular da DICT, Manoel Vanderic, o número de lesionados é bem maior, porque muitas ocorrências deixam de ser registradas, por vários motivos.
Porém, de acordo com Vanderic, os números não são o mais importante. Eles, apenas, chamam atenção para a grande quantidade de tragédias familiares, como a de Marlon, que vêm acontecendo pela inconsequência de pessoas que fazem uso de bebidas alcoólicas e drogas e depois pegam um carro e saem para as ruas dirigindo de uma maneira potencialmente perigosa, colocando em risco a própria vida e a de terceiros.
Para o delegado, as mortes no trânsito não podem ser encaradas como algo comum. Ele, inclusive, relata o caso de uma mãe que ao ser abordada pela Polícia Civil, para informar que um filho seu havia provocado um grave acidente, manifestou estar incomodada com a abordagem policial, ao invés de preocupar-se na tragédia causada pelo filho.
Pior, ainda, o caso do pai de um jovem vitimado em um acidente de trânsito por um rapaz que mora na residência em frente e, todos os dias, ele o vê circulando livremente e, às vezes, chegando na residência tarde, possivelmente da balada. Enquanto seu filho teve a vida ceifada precocemente. Esse pai entrou em depressão e, durante dias, passou a frequentar o cemitério, buscando conforto e respostas para a tragédia que mudou o sentido de sua vida. Isso, os números frios das estatísticas não revelam.
A DICT, desde o início deste ano, vem realizado operações para identificar e tirar de circulação motoristas embriagados que podem causar acidentes fatais. Nessas operações, em geral, realizadas durante à noite e na madrugada, cerca de 80% dos abordados estão dirigindo alcoolizados, afirmou o delegado Manoel Vanderic. Ele observa que, até pouco tempo, era notícia nacional quando um motorista era flagrado no bafômetro acusando 1.0 miligramas de álcool por litro de ar, o que, pontuou, já é quase um coma alcoólico. Hoje, tem casos frequentes de 1.15 e até 1.19 miligramas de álcool por litro de ar. Só para se ter uma ideia, o limite estabelecido pelo Conselho Nacional de Trânsito para que o condutor não seja penalizado é de 0,05 miligramas de álcool por litro de ar. Caso, entretanto, o motorista embriagado seja flagrado, ele está sujeito a multa de R$ 1.915,40, além de ficar um ano sem dirigir. Isso, sem prejuízo de outras penalizações que podem ocorrer no caso de envolvimento em um acidente com ou sem vítimas.
Apesar da pouca estrutura e das dificuldades burocráticas que envolvem as operações (quando uma prisão é efetuada, a equipe tem de se deslocar para a delegacia para os trâmites legais e isso demora de uma a duas horas), o trabalho da DICT começa a surtir efeito. “Temos observado que tem aumentado o número de pessoas utilizando meios de transporte por aplicativos, como o Uber”, destaca Vanderic, reforçando que qualquer pessoa pode ser uma vítima, ter alguém da família ou um amigo vitimado em um acidente e, certamente, ninguém quer passar por essa dor e as suas terríveis consequências.
Parceria visa ampliar conscientização à população sobre os acidentes de trânsito
O delegado Manoel Vanderic esteve no Jornal CONTEXTO, recentemente, em reunião com o diretor geral da empresa, Vander Lúcio Barbosa. Na oportunidade, eles discutiram uma parceria com vistas a promover ações de conscientização da população sobre a questão da embriaguez ao volante, os acidentes de trânsito e as suas consequências na vida das pessoas e da sociedade.
Por meio desta parceria, o CONTEXTO, tanto o impresso quanto o Portal, estarão publicando matérias, artigos e editoriais que tenham esse direcionamento. Além disso, a intenção é levar este debate aos segmentos organizados da sociedade, a fim de que o assunto possa, efetivamente, sensibilizar uma parcela maior da população.
Para o Vander Lúcio Barbosa, é uma parceria importante, com uma instituição de credibilidade que é a Polícia Civil, a qual tem desempenhado ações importantes e de resultado prático no combate dos crimes envolvendo acidentes de trânsito. E, conforme disse, é importante também somar esforços na sociedade, para que a DCIT possa ter um apoio maior para continuar desenvolver as suas operações, prestando um relevante serviço para Anápolis.
