Projeto é o maior da secretaria de Meio Ambiente e já apresenta resultados
Quando o assunto é água, todos querem cobrar do poder público medidas para evitar a queda no fornecimento. Isso não está errado, afinal, é o Estado quem deve coordenar ações que promovam autonomia nessa questão. Entretanto é fundamental que essas medidas envolvam população e pessoas jurídicas direta e indiretamente, seja colocando as pessoas e empresas para colaborar com projetos ou simplesmente ensinando a elas como preservar e recuperar o ecossistema, além de fazer o uso consciente do que já existe. Neste governo, o prefeito Roberto Naves deu prioridade a essa pauta e conferiu ao titular da pasta de meio ambiente, Jakson Charles, a tarefa de elaborar um grande plano para solucionar a questão. Foi assim que nasceu o Pró- -Água, o maior projeto já realizado em Anápolis para sanar problemas atuais e futuros de abastecimento.
Um dos fundamentos do projeto está nos estudos do crescimento da população da cidade nos últimos 10 anos. De acordo com o Instituto Mauro Borges, o número de ligações à rede de água tratada subiu de 90 mil para 145 mil. Em outras palavras, foi um aumento da ordem de 60%, o que deixa as autoridades preocupadas sobre a necessidade de ações que mantenham o equilíbrio entre produção e consumo. A falta d’água não é apenas um grave problema de saúde pública, mas influencia diretamente no fluxo econômico de uma região. Anápolis já vinha sofrendo um estrangulamento no setor imobiliário residencial, comercial e industrial. Novas plantas e loteamentos tinham dificuldade para obter aprovação, já que não podem ser aprovados sem a chancela da Saneago e a conseqüente instalação das redes, inclusive a pluvial. O impacto financeiro é enorme em empregos que não são gerados e no dinheiro que deixa de circular, num efeito dominó que acaba se refletindo na arrecadação de impostos e taxas.
Criado em junho de 2017, o Pró-Água foi a resposta da prefeitura para a pressão gerada pelas crises que se sucedem desde 2014. O projeto atua em várias frentes, produzindo resultados a curto, médio e longo prazo, tanto nas áreas urbanas quanto nas rurais. De acordo com o secretário de Meio Ambiente, Jakson Charles, só de árvores nativas, já foram plantadas 500 mil mudas e mais de 200 nascentes já foram recuperadas. Ele explica que isso tem um impacto invisível aos olhos da população por enquanto, mas será a salvação da cidade nos próximos 20 anos. Segundo ele, 2 terços da vida do cerrado se passa debaixo da terra, onde ocorre boa parte do ciclo da água. As árvores têm um papel crucial para manter esse ciclo funcionando. Primeiro, é delas que sai o vapor d’água que vai umedecer o ar e, mais tarde, formar as chuvas. E, quando essas chuvas retornam, os pingos são amortecidos pela vegetação, evitando a erosão. Uma vez no solo, usam o caminho formado pelas raízes das plantas para se infiltrar rumo ao lençol freático. De lá, fluem vagarosamente para as nascentes, já limpos de qualquer impureza. É por isso que os rios onde a vegetação é preservada não aumentam de volume rapidamente quando a chuva cai. Diferente do que acontece nas cidades onde tudo é coberto de cimento e asfalto. No meio urbano, basta chover para ficar tudo alagado. Não há como a água entrar na terra.
As árvores, plantadas ao longo dos córregos e nascentes tem outro papel fundamental. Evitar o assoreamento, que é quando as margens vão desbarrancando, tornando o fluxo de água cada vez mais largo e mais raso, até virar um pântano e finalmente desaparecer. Foi o que aconteceu com o córrego Extrema, que abastecia o Daia. Atualmente, apenas o córrego Caldas faz esse trabalho. Ressuscitar o Extrema é o próximo desafio do Pró-Água. O mais surpreendente é que esse reflorestamento e recuperação de brotos d’água não custou 1 centavo para os cofres municipais. Tudo foi feito em parceria com empresas que têm interesse na preservação e aumento da vazão de água na superfície da região. Base Aérea, indústrias do Daia, cervejarias, Rotary e todo o pólo universitário participam com pesquisa, doação de recursos e mão de obra. Até o Ministério Público entrou com um importante papel, convertendo multas para aqueles que desrespeitam a legislação ambiental em Termos de Ajuste de Condutas (TACs). Trocando em miúdos, os promotores fecham acordo com os infratores para atuarem diretamente nas ações do Pró-Água. Um trabalho educativo e ao mesmo tempo pragmático, cujos resultados já começam a aparecer.