O local, que foi a casa de Zeca Batista, foi adquirida por seu neto, Alderico Borges de Carvalho, que doou o imóvel para ali se implantar um local onde a memória da cidade fosse guardada
Jairo Alves Leite
A casa que abriga o Museu Histórico de Anápolis “Alderico Borges de Carvalho” foi construída no estilo colonial, no final do século XIX e ampliada em 1907, por José da Silva Baptista. Zeca Baptista veio para a freguesia de Sant’Ana das Antas em 1882, para exercer a função de professor. Ele possuía alguns conhecimentos básicos de medicina que lhe permitiu ser uma espécie de médico e o farmacêutico da população. Mantinha um comércio de secos e molhados que se localizava em uma sala na parte da frente da edificação e os outros cômodos a residência.
Juntamente com Gomes de Sousa Ramos, solicitaram e depois conseguiram através da Resolução Provincial nº 811 de 15 de dezembro de 1887, a elevação da freguesia ao status de município com a denominação de Villa de Sant’Ana das Antas.
Porém a Villa só foi instalada aos 10 de março de 1892, tendo como seu primeiro Intendente (Prefeito) José da Silva Baptista. Ele também foi deputado estadual em 1887. Em 1905 foi eleito como o segundo vice-presidente de Goiás para o mandato de 1905-1909. Mas, devido a revolta política que ficou conhecida como Revolução de 1909, Zeca Batista se torna Presidente do Estado de Goiás entre março e maio de 1909. Também foi eleito como vice-presidente para o período de 1909-1913. O Coronel Baptista residiu juntamente com sua esposa e filhos até seu falecimento, em 7 de dezembro de 1910, e sua esposa D. Francisca de Siqueira Baptista, até no início da década de 1930, quando veio falecer.

A casa foi vendida e serviu de casa paroquial. Em 1938 instalou-se a ala masculina da Escola Paroquial Dom Bosco, quando foram matriculados vários meninos e meninas. Isso dada a lotação das salas do colégio Paroquial Dom Bosco, que funcionava nas dependências do Asilo São Vicente de Paula, situado na Rua Cel. Batista esquina com a atual Av. Goiás, no lugar onde hoje se encontra o Colégio Estadual Profº Faustino (Escola Normal) e o Pe. Luiz Maria Zephyrino decidiu que os meninos passariam a estudar na antiga casa que pertenceu ao Cel. Zeca Batista. Já as meninas permaneceram nas dependências do asilo São Vicente de Paula.
Em 1944 a casa serviu novamente como casa paroquial, desta vez abrigando os frades norte-americanos vindos de Nova York, que permaneceram até o termino da construção do Convento de Sant’Ana. Posteriormente a residência foi alugada e, em 1959,. Alderico Borges de Carvalho comprou a casa do padre Conego José Trindade da Fonseca e Silva.
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Alderico Borges de Carvalho com esse ato resgata a memória de seu avô (Cel. Zeca Batista) com a intenção de instalar um museu que guardasse a memória dos pioneiros, e a história de Anápolis. Em 14 de abril de 1971, foi celebrado entre o Sr. Alderico Borges de Carvalho e a Prefeitura de Anápolis um comodato cedendo o imóvel da Rua Cel. Batista, 323 Centro, para a sede do Museu Histórico de Anápolis em um terreno de 411m², bem menor do que na época em que residia o ilustre morador. Através da Portaria nº 261 de 24 de setembro de 1971, o então prefeito Henrique Antônio Santillo instala o Museu Histórico de Anápolis, designa a Comissão Organizadora do Museu Histórico de Anápolis, que teve como presidente o Professor Jan Magalisnki, e os senhores José Teixeira e Tauny Mendes.
Na gestão do então prefeito José Batista Júnior o Museu Histórico de Anápolis fica considerado de Utilidade Pública conforme Lei Municipal nº 390 de 27 de junho de 1973. De 1971 a 1975 foram feitas pesquisas sobre a história de Anápolis e também se originou um grande número de doações para o acervo do Museu e também em suas dependências foram ministrados cursos de inglês e alemão tendo como professor Ernest Heeger.
Aquela comissão promovia reuniões culturais, organizavam exposições filatélicas e chegaram a publicar alguns números do Jornal do Museu. No dia 26 de julho de 1975, na gestão do prefeito Jamel Cecílio, ocorreu a abertura oficial do museu para a visitação pública. Em 28 de junho de 1985, Alderico Borges de Carvalho fez a doação definitiva do imóvel à prefeitura, na primeira gestão de Anapolino de Faria, como prefeito, através de Escritura de Doação no Cartório do 3º Ofício de notas, que especifica a finalidade da doação com o fim único de instalação do Museu Histórico de Anápolis. Ficando referendado o recebimento em doação com ônus da escritura pública a prefeitura de Anápolis, conforme Lei Municipal nº 1.305 de 27 de agosto de 1985.

Através do Projeto de Lei do então vereador Dário Lisboa Sardinha, aprovado pela Câmara Municipal de Anápolis e sancionado pelo prefeito Anapolino de Faria, com tombamento em uma única Lei de nº 1824/91 de 03 de janeiro 1991, vários prédios (Cadeia Pública da 14 de julho, IML onde funcionava a Polícia Técnica da Av. Goiás, Estação Ferroviária de Anápolis na Praça Americano do Brasil, a antiga Prefeitura e Fórum da Praça Bom Jesus e Museu Histórico na Rua Cel. Batista).
O Museu possui uma exposição que mescla aspectos da casa e a história local, retratando os pioneiros, o início do arraial, a religiosidade, objetos antigos do cotidiano. Possui ainda a primeira mesa cirúrgica de Anápolis, seção, fotografias, jornais e outros documentos que retratam a história do município e do estado. Objetos auxiliam na composição de cenários de peças teatrais, documentários e filmes. Diversos pesquisadores utilizam o acervo do Museu interessados em obter dados históricos da cidade e região.
O Museu Histórico de Anápolis serviu de base de pesquisa para o filme “Hollywood no Cerrado” dos diretores Armando Bulcão e Tânia Montoro, pesquisa e roteiro de Paulo Bertram, Nena Leonardi, Victor Leonardi, Thereza Negrão, Márcia Tinholim, Jairo Alves Leite e fotografia de David Pennington. O documentário traça uma nova perspectiva sobre a ocupação do Centro-Oeste do Brasil por meio de histórias pouco conhecidas. Narrado na forma de um almanaque audiovisual, o filme retrata as transformações culturais, econômicas e midiáticas anteriores à transferência da capital do Brasil para Brasília. Animações e depoimentos revelam a história de vida de sertanejos, missionários, imigrantes europeus, sírio-libaneses, norte-americanos e de atrizes de Hollywood e da Broadway que desbravaram o velho Centro-Oeste em busca da Terra Prometida.
Curiosidades
Conta-se – e não podemos afirmar nem desmentir – que dona Belmira estava com todos os alunos em classe, desenvolvendo, normalmente, suas aulas. Em dado momento, todos os alunos ficaram de pé, em atitude de respeito. A professora mandou que se assentassem, mas as crianças continuaram de pé. Dona Belmira usou de energia e intimou-os a se assentarem. Os meninos disseram-lhe que o padre ainda não havia dado sinal para se assentarem. – Que padre? – Aquele ali do retrato. Na parede da sala de aulas havia um grande retrato de Dom Bosco. Verdade ou não, auto-sugestão coletiva, o certo é que essa história varou os anos, até se perder nos tempos e ser por muitos desconhecida. ”
“História ou Estória” contada por Haydée Jayme Ferreira em seu livro “Anápolis, sua vida, seu povo” (1979 1ª Ed. e 2011 2ª Ed.). (O autor, Jairo Alves Leite é historiador; coordenador do Museu Histórico e Estação Ferroviária de Anápolis e presidente do Instituto Jan Magalinski)