Projeto de artesanato sustentável transforma elementos naturais em peças de decoração e gera renda para mulheres da cidade
Por Renata Rocha
No interior de Goiás, o Cerrado não é apenas cenário: é também matéria-prima e inspiração. Em Anápolis, um grupo de mulheres está usando elementos naturais como flores, folhas e sementes para criar artigos de decoração cheios de identidade — e, ao mesmo tempo, garantir uma nova fonte de renda.
A artesã Maria Batista, presidente e uma das fundadoraS da Associação Cultural Artesanal e Social de Anápolis (A.C.A.S.A), encontrou no artesanato sustentável uma forma de unir geração de renda, preservação ambiental e fortalecimento da autoestima. Desde jovem, ela se encanta com a diversidade de formas e cores da vegetação do Cerrado — e agora faz dessas belezas sua principal ferramenta de trabalho.
“Antes, era fácil encontrar matéria-prima durante uma caminhada. Hoje, com tanta devastação, ficou mais difícil. Por isso é importante valorizar e preservar o que ainda temos”, afirma.
Os números confirmam sua preocupação. De acordo com dados da plataforma MapBiomas, o Cerrado foi o bioma mais desmatado do país em 2022, com mais de 662 mil hectares devastados — um aumento de quase 68% em relação ao ano anterior. O total já ultrapassa 1,1 milhão de hectares.
Mesmo diante desse cenário, Maria mantém o compromisso com a sustentabilidade. Ela recolhe insumos de forma consciente, sem agredir o meio ambiente, e cria peças únicas como arranjos, painéis, porta-chaves e enfeites. “Os clientes se surpreendem ao saber que não usamos nada comprado em loja, só o que a natureza nos oferece”, diz.
Além do trabalho individual, Maria se uniu à também artesã Soraia Moreno para desenvolver um projeto social com apoio do governo federal. Juntas, elas oferecem oficinas gratuitas para jovens e adultos, ensinando técnicas de produção artesanal com materiais vegetais. “O artesanato ajuda essas mulheres a conquistarem independência e autoestima. Muitas já começaram a vender suas próprias peças”, destaca Soraia, coordenadora do projeto.
As oficinas vão além do ensino técnico. Durante os encontros, as participantes aprendem sobre o valor da biodiversidade, trocam experiências, descobrem novos talentos e, principalmente, se divertem.
“É um momento de leveza, conexão com a natureza e bem-estar. Isso faz muito bem para a mente e para a vida delas”, acrescenta Maria.
Uma das participantes do projeto, Alcione Rosa, destaca que as oficinas também exploram a arte do bordado à mão, permitindo que a criatividade floresça entre agulhas e fios. “Elas aprenderam duas técnicas. Foram dias marcados por delicadeza, partilhas e reconexão com o fazer manual. O bordado é mais do que arte — é uma forma de cuidado, uma terapia que aquece o coração”, conclui.