Nós, os brasileiros, temos ficado mais tempo dentro dos automóveis nos deslocamentos para casa; para a escola, para o trabalho e para o lazer. Isto, em decorrência do aumento, cada vez mais avassalador, do número de veículos em circulação. Cidade de portes, pequeno, médio (caso de Anápolis) e, principalmente, as grandes metrópoles, não têm conseguido oferecer, aos seus munícipes, alternativas inteligentes para facilitar e dar mais fluidez ao tráfego em todas as suas dimensões. E, com a provável aproximação do fim da pandemia da covid-19 que “prendeu” muita gente em casa por dois anos, no chamado trabalho remoto, ou, home-office, a tendência é de que, a partir de agora, as ruas se encham mais de carros. É matemático. Hoje, o trânsito afeta toda a população, independentemente da classe social ou renda familiar. Os automóveis são, de fato, uma das maiores invenções humanas. Mas, de certo tempo para cá, passou a ser, também, elemento complicador quando o assunto é qualidade de vida.
Assistimos o avanço do poder aquisitivo das classes mais baixas e o crescimento geométrico do número de veículos, em função do maior acesso ao crédito. A frota de automóveis, em todo o País, cresce muito mais rápido do que a população. Nos últimos 15 anos ela (a população) aumentou, em média, oito por cento, enquanto que a frota de carros cresceu quase 70 por cento, segundo o Observatório das Metrópoles. E, esse, é um dos motivos dos protestos em relação à mobilidade: os cidadãos não reclamam, somente, do preço do transporte urbano (ônibus, trem, metrô, etc.) e, sim, pelo direito de acesso à mobilidade, que é um fator muito importante em uma sociedade desigual como a brasileira.
Nas chamadas grandes cidades com São Paulo; Rio de Janeiro; Salvador; Belo Horizonte; Recife, Porto Alegre e Goiânia, a maior parte da população economicamente ativa gasta, em média, quatro horas por dia em seus deslocamentos casa/trabalho/casa. São 20 horas por semana e 80 horas por mês. Em Anápolis, cidade de porte médio, estima-se que o trabalhador, em condução própria, gaste, aproximadamente, de 30 a 40 minutos para chegar ao serviço. Se for no DAIA, ou qualquer ponto mais afastado do centro urbano, este tempo é multiplicado. Se for pelo sistema de transporte público, é mais demorado ainda. Isto é proporcional ao tamanho de cada cidade. Mas, o levantamento geral aponta que, nos últimos dez anos, em que pese a modernidade das frotas e as ações logísticas, gastamos de 30 a 40 por cento mais de tempo nesses deslocamentos diários.
E, a tendência é que esse período aumente, caso não se criem políticas de trafegabilidade e mobilidade inteligentes para facilitarem a vida da população. De que forma isso será feito, compete aos técnicos e especialistas em engenharia de trânsito definirem. A única esperança da comunidade é que os governos, em sua totalidade, apontem os caminhos para a tão falada mobilidade urbana. O quanto antes, sob pena de mergulharmos numa neurose coletiva causada pela dificuldade de lidarmos com a máquina chamada automóvel.