Em entrevista ao jornalista Vander Lúcio Barbosa, o deputado federal Rubens Otoni, reeleito para o sexto mandato, destaca que o diálogo com o prefeito e o governador está aberto
– O senhor tem uma trajetória política que é respeitada e reconhecida. Dois mandatos de deputado estadual e, agora, eleito para o sexto mandato na Câmara Federal. Qual a mágica, qual a receita para ter essa cumplicidade com o eleitor?
Rubens Otoni – A primeira coisa é ter objetivo. E, desde o primeiro momento, quando entrei na política, 40 anos lá atrás, o desafio que nós tínhamos é o desafio de hoje, de resgatar a credibilidade na atividade política. Eu entrei na política para mostrar na prática e não no discurso, que a política pode ser feira de forma diferente, baseada na ética, no compromisso social, na participação popular, na defesa dos direitos da cidadania. Basta querer. E esse foi o nosso esforço ao longo dos anos. Então, essa é a nossa marca. E eu diria mais: uma outra marca do nosso trabalho que faz com que ao longo dos anos nós sejamos respeitados é, em primeiro lugar, respeitar aqueles que pensam diferente. Sempre exerci a política independente da questão da política, respeitando aqueles que governam, mesmo sendo à minha ideia, ao meu projeto. Eu sempre respeitei as pessoas e isso fez com que eu também ganhasse respeito daqueles que pensam diferente.
– Ao longo dessa trajetória que o senhor tem e construiu na política, certamente, há muitas histórias e momentos marcantes. O senhor poderia destacar algum?
Rubens Otoni – Eu chego a este sexto mandato de deputado federal com o sentimento do dever cumprido. Um sentimento de alguém que é vitorioso não só por ter tido 86.539 votos espalhados pelos 246 municípios de Goiás. É a vitória de quem saiu de onde saiu e mostrou que a política poderia ser feita fora daquele meio que tradicionalmente as pessoas faziam. Eu consegui estabelecer isso. E o que marca mais é o respeito que as pessoas têm pelo nosso trabalho, mesmo quando eu não tinha mandato. Mas, independente de ter mandato ou não, independente de, como o pessoal diz, quando a gente estava em alta e governava a cidade de Anápolis, de Goiânia ou governássemos o Brasil, eu atuei sempre da mesma forma no respeito com as pessoas, quando a gente não tinha esses espaços. Então, o que vem à memória e é minha satisfação é entrar neste sexto mandato de deputado federal e andar nas ruas e as pessoas me chamarem pelo nome e terem a liberdade de conversarem comigo, me vendo como um cidadão comum.
Como o senhor analisaria essa última eleição, onde tínhamos um cenário de um país muito dividido. No caso do senhor, ainda houve um incidente que o afastou um pouco da campanha. Foi uma das disputas mais difíceis para o senhor?
Rubens Otoni- Eu diria que foi uma campanha diferente. Foi a primeira eleição que eu tive de ficar com os pés para cima [risos], porque tive de ficar imobilizado. Mas eu diria que foi uma eleição tranquila do ponto de vista do resultado que eu buscava. Diferente do momento que estamos vivendo no país, onde estamos vivendo um momento delicado. E essa eleição foi muito importante para virarmos uma página na história de preconceito, de ódio, intolerância, porque nós não podíamos mais viver com essa realidade. Eu tenho dito que o grande desafio que a gente tem pela frente é colocar a política no lugar que ela deve estar. Política não é lugar de violência, não é lugar de ódio, de intolerância, de preconceito. Pelo contrário, a política existe para que se possa ter um espaço de diálogo, de respeito, de mediação e respeito a quem pensa diferente para buscarmos soluções e a elaboração de políticas públicas. Infelizmente nesse último período nós não vivenciamos isso. Os próprios governantes incentivavam o conflito, a intolerância. Às vezes, você chegava em um lugar e ficava constrangido em colocar a sua preferência, porque corria o risco de alguém te agredir verbalmente ou até fisicamente. Uma coisa inaceitável e que não é da índole do povo brasileiro. Nunca vivemos uma situação como essa.
– O senhor, como representante goiano e dado ao seu conhecimento e a maneira pacífica de fazer política, acredita que isso vai contribuir para ajudar Anápolis e Goiás lá em Brasília, com o novo governo?
Rubens Otoni- Não tenham dúvida. Até porque nós já vivenciamos essa experiência. O povo de Anápolis conhece, o povo de Goiás já viveu essa realidade, ou seja, eu sendo deputado federal e o Lula presidente. Foi a época em que Anápolis mais recebeu recursos do Governo Federal. Foi a época que Goiás teve mais investimentos federais, por conta dessa nossa capacidade de liderança e de respeito de trabalhar, inclusive, com aqueles que têm divergências conosco. Nós sempre trabalhamos dessa forma para ter um canal em Brasília. E é isso que vou fazer. Já tive oportunidade de conversar com o Prefeito Municipal [Roberto Naves], que não é do meu partido. Já tive oportunidade de entrar em contato com o governador do Estado [Ronaldo Caiado], que não é do meu partido, mas deixei a eles a minha disposição de trabalhar em conjunto, respeitando as diferenças e trabalhando naquilo que é possível, colocando meu mandato e aquilo que o Governo Federal puder fazer para ajudar a nossa cidade e Goiás. Foi isso que sempre fizemos e essa é a diferença do nosso trabalho.
– O senhor é um deputado municipalista, que tem um trabalho bastante capilarizado em todo o Estado. Mas, em relação a Anápolis, puxando por Anápolis, quais seria as prioridades para o Município nesse novo mandato?
Rubens Otoni- Não há dúvida que Anápolis sempre foi a nossa prioridade. Tanto é que aqui estão as maiores referências do meu trabalho como deputado federal. Temos um trabalho respeitado em todo Estado e, de fato, reconhecido como um deputado municipalista. Vocês podem andar pelos 246 municípios goianos e não existe nenhum que não tenha um projeto, uma ação, um recurso, ou seja, investimentos que nós buscamos levar com o nosso trabalho. Mas, sem dúvida, a marca maior desse trabalho está em Anápolis. E em diversas áreas. Na área da educação, quantas escolas, quantos CMEIs, o Instituto Federal, o apoio à UEG. Na área da saúde, a UPA 24 horas, quantas Unidades Básicas de Saúde espalhadas por todas as regiões da cidade, trazidas pelo nosso trabalho. Na área da infraestrutura, ajudamos a fazer a duplicação do contorno de Anápolis até Interlândia, o viaduto do DAIA, de Interlândia. A duplicação Anápolis-Brasília. A ferrovia Norte-Sul. Muitos investimentos que tiveram nosso trabalho. Então, meu objetivo é Anápolis e para isso nós precisamos de união. Por isso é que nós temos de colocar a política no seu lugar e não usar a política para pisar no outro. A política deve ser usada para somar o espaço que você tem com o dos outros e buscar o melhor para a cidade. E isso vamos fazer. Vou buscar a Câmara Municipal, a Prefeitura, todas as entidades para podermos somar forças e elaborarmos um plano de trabalho, onde possamos trabalhar ano a ano trazendo recursos e colocar Anápolis no lugar que ela merece e recuperar o espaço que sempre teve de referência econômica, política e social, no cenário não apenas de Goiás, mas do Brasil.
– Recentemente, o senhor participou de uma solenidade em que o prefeito Roberto Naves anunciou investimentos da ordem de R$ 1 bilhão. Por essa conduta, o senhor foi elogiado por se colocar à disposição. Já houve tratativas nesse sentido?
Rubens Otoni- Já me coloquei à disposição. E é preciso colocar isso de forma transparente. Eu e o prefeito estamos em lugares diferentes do ponto de vista da política. Nós [o Partido dos Trabalhadores] já disputamos com ele a eleição e poderíamos disputar novamente. Mas isso não nos impede de ajudar. E foi por isso que fiz questão de fazer uma visita ao prefeito, para mostrar essa maneira diferente do nosso trabalho, ou seja, nos colocar à disposição para servir a cidade de Anápolis. Ele me convidou para a solenidade e fiz questão de estar presente e mostrar à sociedade que há outra forma de fazer política. Você disputa espaço, mas você trabalha em prol da comunidade. Então, vou continuar assim, ano a ano trazendo investimentos, recursos e programas para Anápolis. Ainda mais agora com nossa proximidade com o Governo Federal, que terá Lula presidente, com o qual tenho um relacionamento pessoal que me permite buscar esses investimentos.
– Ainda dentro dessa linha de parceria, como o senhor pensa que se dará o relacionamento com o governador reeleito Ronaldo Caiado e o governo Lula?
Rubens Otoni- Já falei com o governador e ele já demonstrou abertura para uma boa convivência. É uma pessoa madura, experiente, que sabe que o resultado da eleição tem que ficar na apuração. Eu costumo dizer que na democracia quem ganha tem o desafio de governar e quem perdeu tem o desafio de se preparar para a outra eleição. Então, já me coloquei à disposição para fazer essa ligação em prol de Goiás.
– Dentro dessa ótica, a gente pode dizer que o senhor vai além de ser um deputado federal, mas se coloca como uma espécie de embaixador de Anápolis e de Goiás junto ao Governo Federal?
Rubens Otoni- Quero trabalhar neste sentido, de cumprir um papel ainda maior do que o papel de um deputado federal. De poder exercer a oportunidade que nós temos de fazer política servindo a Anápolis e servindo a Goiás. E, ao servimos o Estado, isso também se reflete em nossa cidade. Então, quero fazer uma política positiva e propositiva, de união de forças e respeitando quem pensa diferente. Sem preocupação de fazer algum alinhamento político-partidário. Cada um tem as suas preferências, mas nós temos condições de trabalhar naquilo que são os interesses maiores da população.
– O Partido dos Trabalhadores tem uma forte representatividade em Anápolis. É um partido atuante. Agora, a reeleição do senhor e de seu irmão, Antônio Gomide, para deputado estadual, acena que o grupo está forte. Isso já abre um cenário para as próximas eleições municipais?
Rubens Otoni- Isso é natural, porque a população sente saudade do tempo que o PT governou o Município. Foi uma época que Anápolis foi mais valorizada, mais respeitada. Foi um momento onde tivemos maior desenvolvimento econômico. Anápolis foi uma referência política não só no cenário estadual, mas nacional. Então, as pessoas têm saudade desse momento. Então, também, é natural que se pense o Partido dos Trabalhadores disputando as eleições para a Prefeitura de Anápolis e, certamente caminharemos para isso. O nome do deputado estadual Antônio Gomide é um nome natural. A população lembra pelo trabalho que já foi realizado. O próprio resultado dessa eleição passada sinaliza essa possibilidade, porque o PT, o único partido organizado aqui da cidade que conseguiu eleger um deputado estadual e um federal. Então, tem representação no Brasil e na Assembleia Legislativa. Isso mostra que é um partido credenciado e que tem raízes no Município. Inclusive, para fazer as parcerias que no passado deram resultados tão positivos.
– Tivemos essa semana a diplomação de Lula e Alckmin, eleitos presidente e vice. O senhor acha que podemos ter um ambiente de calmaria. Qual a visão para o presente e o futuro?
Rubens Otoni- Essa calmaria depende sempre do governante. Porque como liderança maior ele acaba dando o tom para o restante da população. Quando um governante incentiva a violência e o ódio, o preconceito e a intolerância, a população ou parte dela tem a tendência de seguir esse caminho. E o que eu vejo para o próximo período? Eu vejo um período de entendimento. Na diplomação, o nosso presidente, o Lula, disse várias vezes que essa vitória não foi uma vitória individual, uma vitória do PT. Foi a vitória das pessoas e de uma sociedade que defendia a democracia. E é nesse sentido que vejo o futuro governo de Lula. Um governo que vai recuperar o diálogo, o entendimento, o respeito daqueles que pensam diferente e criar um ambiente que permite às pessoas se manifestarem. O que não se fazia porque as pessoas estavam sendo coagidas, agredidas física e verbalmente por conta de posicionamentos.
– Finalizando, duas vezes deputado e, agora, eleito e preparando para a posse no sexto mandato de deputado federal. Ainda dá um frio na barriga?
Rubens Otoni- O momento é um momento único. E, apesar de todo esse tempo de trabalho, de dedicação, de esforço de resgatar a verdadeira política, eu diria a vocês que esse é o momento mais desafiador, porque nós queremos virar essa página de intolerância e preconceito, de violência e de ódio. E isso exige muita calma. Porque o natural seria revidar, responder coisas que foram questionadas. Mas, mais do que nunca, nós precisamos buscar o nosso intuito de servir as pessoas, a nossa comunidade e servir ao nosso país. E, com essa atitude, resgatar o verdadeiro sentido de fazer política.