Por Vander Lúcio Barbosa
As últimas estatísticas oficiais apontam que a população de idosos no Brasil cresce muito acima da média mundial. É o resultado de melhor qualidade de vida e de avanços na medicina específica para esta parcela da comunidade.
Um dos grandes problemas, entretanto, é a falta de planejamento, o que gera impasses de difícil solução, como o crescimento do número de pessoas em asilos e a falta de uma poupança para garantir-se uma boa velhice.
Isto configura uma bomba relógio de efeitos incalculáveis para o sistema de assistência social. Um dos principais gargalos é o aumento no número de idosos desamparados pela família. Os asilos e abrigos públicos estão lotados e a demanda por vagas entre pessoas de mais de 60, 70 anos não para de crescer. São dados do Ministério do Desenvolvimento Social.
Do outro lado da linha, ou seja, entre os mais favorecidos, o problema é a falta de poupança e planejamento. Segundo o Banco Mundial, os brasileiros de todas as idades são pouco precavidos, parecem ocupados demais com seus problemas no presente e não estão se preparando para a velhice. De todos, somente 11 por cento declaram fazer economia para o futuro, contra uma média global de 21 por cento.
Dados do IBGE coletados entre 2012 e 2018, mostram que a população de idosos no País cresceu 19,5% (foi de 25,4 milhões para mais de 30,2 milhões de pessoas). No mesmo período, o número de homens e mulheres com 60 anos ou mais nos albergues públicos aumentou 33% (foi de 45,8 mil para 60,8 mil).
Contando com os alojamentos particulares, chega-se a 100 mil. O abandono dos idosos por familiares é superior à expectativa de vida. O Brasil não tem qualquer projeto eficaz para reforçar os cuidados prolongados e a assistência na velhice.
O segmento da população que mais cresce atualmente é o acima dos 80 anos. E, se, atualmente, 14 por cento da população é considerada idosa, daqui a 30 anos esse percentual será de 30 por cento. É a drástica redução da força produtiva e uma forte elevação dos custos assistenciais. Sem se contar o enfraquecimento dos laços familiares na nova sociedade.
A família, agora, não é mais aquela tradicional que sempre destacava alguém para cuidar dos mais velhos. Ao mesmo tempo, falta um Estado que compense essa deficiência com políticas públicas que protejam os desamparados. Essas políticas são necessárias para atenderem a uma população que envelhece mal, num País em crise e com cortes nas despesas em educação e saúde. Uma pena.
Para que os idosos brasileiros de hoje e do futuro tenham melhor qualidade de vida, é preciso se instalar de verdade as garantias de direitos em questões como saúde, trabalho, assistência social, educação, cultura, esporte, habitação e meios de transportes. No Brasil, esses direitos são regulamentados pela Política Nacional do Idoso, bem como o Estatuto do Idoso, sancionados em 1994 e em 2003, respectivamente.
De resto, então, o que se pode extrair é que, da forma em que se encontra, a política de atendimento à velhice não pode ficar. Sob pena de os jovens e adultos de hoje, sofrerem consequências mais graves, ainda, lá na frente. Inclusive os políticos, inclusive os governantes de agora. Eles, também, ficarão idosos. O tempo não para.