As ferramentas on line de produção de informação também são largamente utilizadas por políticos
Os blogs e sites jornalísticos no Brasil e no mundo alcançam proliferação exponencial. O Technorati, uma espécie de site rastreador, identificou em 2007 a existência de aproximadamente 115 milhões de blogs no mundo.
No Brasil, a We Are Social, em parceria com a Hootsuite, realizaram levantamento que apontou, em 2019, que 66% da população brasileira é usuária das redes sociais.
Os dados do estudo “Blogs do Brasil: Panorama 2017”, coordenado pela empresa Big Data Corp, mais de 5,5 milhões de blogs fazem parte dos 10 milhões de sites ativos no país. A política está entre os temas que lideram o setor. Mas a pesquisa apontou que menos de um por cento do total de blogs brasileiros alcança mais de 500 mil acessos mensais.
O Facebook e o You Tube, com pouco mais de 48%, são os meios preferidos de hospedagem dos blogs. Mais de 90% dos blogueiros entrevistados usam o feed RSS em suas páginas.
O site de análise da Internet chamado Alexia, criado pela Amazon, listou os endereços mais procurados pelos brasileiros. Os primeiros lugares ficaram para Google, You Tube e Facebook. Os primeiros veículos jornalísticos aparecem em quarto e quinto lugar, respectivamente Uol e globo.com.
Blogs jornalísticos
Entre os blogs políticos criados por jornalistas, é possível identificar semelhanças e diferenças em sua linha editorial. O Blog do Noblat, por exemplo, vinculado ao site da revista Veja, tem artigos críticos ao governo Jair Bolsonaro, como os que levam os títulos: “Traidores da Pátria”, “Quem é o verdadeiro Bolsonaro?” e “É dando que Bolsonaro espera receber”.
Já a jornalista Mônica Bergamo, que em outros blogs tem análises críticas a Jair Bolsonaro, tem linha mais comedida em seus textos articulados no site da Folha. Reinaldo Azevedo, com blog vinculado ao UOL, intercala artigos noticiosos com opiniões críticas ao momento político. Foi assim na postagem em vídeo de 2 de junho, compartilhada com a Band News FM, intitulada ‘O É da coisa: o ódio à democracia acordou o país para o amor à democracia”.
O blog de Mino Carta, vinculado à página da revista Carta Capital, também expõe linha editorial crítica ao Presidente da República. Seu artigo de 1º de junho, intitulado ‘Comparação impossível’, trouxe no subtítulo “O Brasil não é a Itália, e o nosso Exército de ocupação não é o grande conselho do Partido Fascista, único na ditadura sem hipocrisia”.
Mais à frente classifica Bolsonaro como “entreguista do Brasil” e, sobre a postura do Presidente em relação à pandemia, diz: “É certo que ele contribui para a hecatombe e o mundo, como de hábito, se curva”.
O jornalista Fernando Rodrigues, em seu blog Poder 360, apresenta uma cobertura profissional dos fatos políticos do país. É comum que publique notícias exclusivas dos bastidores do poder, especialmente de Brasília. Tem publicações neutras e outras críticas ao governo central.
Blogs políticos
Os políticos cada vez mais se utilizam dos blogs e sites como ferramentas estratégicas de integração com a imprensa e com seus eleitores. O presidente Jair Bolsonaro tem preferência pelo Twitter. É o canal pelo qual se comunica com seus seguidores e, em várias oportunidades, divulga atos oficiais do governo federal.
Além de dar vazão às ações e projetos do governo, Bolsonaro se utiliza do Twitter para despejar suas manifestações políticas. Como uma das postagens deste 3 de junho, que diz: “Quem promove o caos, queima a bandeira nacional e usa da violência como uma forma de “protestar” é terrorista sim! Manifestante, contra ou a favor do governo, é outra coisa.”
O canal oficial lula.com.br é utilizado pelo ex-presidente como busca de equilíbrio nos espaços do noticiário. O desgaste político que sofreu o coloca em posição menos favorável aos olhos da mídia em comparação ao período pré-condenação e prisão. Mesmo assim ainda motiva espaços importantes na mídia convencional, o que lhe permite se manter no debate político atual.
Ciro Gomes, ex-senador e ex-governador, escancara a linha editorial de campanha eleitoral em seu blog pessoal: todoscomciro.com/blog/. Entre outras postagens, fala sobre “emancipação do povo brasileiro” e associa seu nome a um “projeto nacional”. Entre seus posts também aproveita para criticar ações do presidente Bolsonaro.
O governador de Goiás, Ronaldo Caiado, reserva seu blog pessoal (ronaldocaiado.com.br/blog/) para divulgar informações sobre suas ações administrativas. Deixa de fora a opinião pessoal. Para isso utiliza-se de sua página no Twitter. Como o post do dia 28 de maio: “Confrontar não fortalece a democracia, pelo contrário, fragiliza. […] Congresso não pode ser transferido para a Avenida Paulista. Não existe democracia sem Congresso representativo. Se não está satisfeito, eleja outros em 2022”.
Papel do jornalista
O jornalista político tem vários desafios nestes tempos. O primeiro é resgatar a credibilidade profissional, atacada todos os dias por aqueles que querem uma imprensa subserviente, alienada e dominada. A polarização do debate político colocou o jornalista no centro do fogo cruzado. Sem uma imprensa livre não há democracia.
Outro desafio é superar uma concorrência imaginária com as redes sociais. É o jornalista profissional quem produz informações verdadeiras, que atendem em sua produção os princípios básicos da imparcialidade, da ética, da transparência, da segurança, da investigação e das técnicas necessárias para gerar conteúdo crível.
Mesmo sob constantes ataques, em grande parte disparados por representantes da classe política, o jornalista entende que deve ser determinado em exercer seu papel social com capacidade e dignidade. Nossos professores nos ensinam que o jornalista tem como funções informar, educar, fiscalizar e entreter.
Nestes tempos sombrios de fake news, de publicações irracionais, fanáticas e distorcidas, especialmente no âmbito político; em meio à busca das pessoas por ideias nas quais possam confiar, o jornalista é a vela que clareia o caminho da verdade, do respeito e do direito.
Nos tortuosos caminhos da política, o jornalista deve ser investigativo. Seu mister é questionar o poder, confrontá-lo, desnudá-lo, para que as pessoas conheçam como funciona. O cidadão tem o direito de acesso à informação, de saber como os governos agem, dos acertos e mazelas, para que façam seu próprio julgamento. O primeiro compromisso do jornalismo, seja na política ou em qualquer outra área, é com a verdade.