Números revelados pela Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios Contínua (série iniciada em 2012) apontam que, no trimestre terminado em abril, faltou trabalho para 26 milhões de pessoas no Brasil. O levantamento do IBGE relata que a taxa composta de subutilização da força operacional desceu de 23,9% no trimestre até janeiro para 22,5% no citado período. Este levantamento engloba a taxa de desocupação e a taxa de subocupação por insuficiência de horas e a taxa da força de trabalho potencial, ou seja, pessoas que não estão em busca de emprego, mas que estariam disponíveis para trabalhar. Na soma geral, há seis milhões e 559 mil trabalhadores subocupados por insuficiência de horas trabalhadas. O indicador inclui as pessoas ocupadas com uma jornada inferior a 40 horas semanais, mas que, gostariam de trabalhar por um período maior.
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Este, se não for o maior, é um dos maiores problemas enfrentados pelos governos brasileiros ao longo de muitas décadas: encontrar trabalho para esta multidão que se acotovela nas filas onde se fazem anúncios de empregos. É um fenômeno social que se agravou nos últimos cinco anos e piorou com a pandemia da covid-19. A mecanização das lavouras e da pecuária faz com que os rurais busquem as cidades à procura de uma colocação no mercado de trabalho. Mas, esta gente chega sem nenhum conhecimento técnico, sem nenhuma formação e sem nenhuma intimidade com a informática, com os equipamentos modernos e os sistemas produtivos de nova geração. A maioria não admite “voltar para a roça” e prefere ficar no subemprego, na subocupação. Que, por sinal, engorda o bolo formado pelos urbanos que, igualmente, não se prepararam para a modernidade no decorrer do tempo.
O resultado disso é a avalanche de gente em busca de ajudas oficiais. O Auxílio Brasil é uma das principais. Só que os 400 reais que ele oferece (e, nem é para todo mundo) são insuficientes para arcar-se com as despesas do cotidiano. Resultado: cruzamentos de ruas e avenidas, em pequenas, médias e grandes cidades, apinhados de gente que vende água, jujuba, frutas, essas coisas. São os trabalhadores de rua que, por sinal, não têm qualquer amparo previdenciário em caso de necessidade. Esses homens e essas mulheres (em muitos dos casos, até crianças) não têm patrão, não têm referência, não tem qualquer amparo. Mas, encontram nas ruas o único meio de sobrevivência. Sem qualquer controle, esses grupos proliferam, principalmente com o nascimento de muitas crianças que já vêm ao mundo em meio a esta situação caótica. Perspectiva de uma vida melhor? Muito difícil.
Além disso, é uma sobrevivência, por demais, perigosa. Homens, mulheres e crianças ficam expostos aos traficantes, aos roubadores, às intempéries e a outras situações nocivas que, forçosamente, os encaminham para o submundo do crime, da prostituição e do vício. E, convém ressaltar que, muitos deles (provavelmente, a maioria) não escolheram este caminho. Essas pessoas gostariam de ter uma casa, um emprego, uma escola, uma ocupação. Infelizmente, pelo menos por enquanto, não tem sido possível. Este seria um dos temas para os candidatos a cargos políticos em outubro levarem para a cama e meditarem a respeito. Por que não?