Naquela que é a oração mais conhecida do Cristianismo, as pessoas pedem a divindade cristã que não lhes faltem o “pão” de cada dia. Segundo a exegese do texto bíblico, o pão era o alimento de base no sustento da família. A vida dependia do pão, termo que também englobava todos os bens necessários à subsistência dos seres humanos.
Independente da fé de cada pessoa, esse período “o pão nosso de cada dia nos daí hoje…”, está presente na boca de pelo menos 60 milhões de pessoas no Brasil. Esse número vergonhoso consta no relatório produzido pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). Isso equivale a dizer que uma a cada três pessoas no país convive com algum tipo de insegurança alimentar, seja leve, quando há receio de passar fome em um futuro próximo; moderada, quando há restrição na quantidade de comida para a família; e grave, nos casos de falta de alimento na mesa. Nesse último grupo temos algo em torno de 33 milhões de pessoas, sendo que pelo menos 1/3 dessas são crianças com até 10 anos de idade.
A fome no Brasil recrudesceu nos últimos anos, resultado do agravamento da crise econômica, aliada a falta de políticas públicas de segurança alimentar e nutricional, em especial àqueles que estão expostos a alta vulnerabilidade social. O agravamento da fome no país é também fruto da enorme concentração de riquezas do Brasil, como defendeu ainda na década de 1940, o médico e pesquisador Josué de Castro, nos clássicos Geografia da Fome e Geopolítica da Fome.
Castro morreu em 1973, portanto em 2023, lembramos os 50 anos de falecimento daquele que é um dos maiores intérpretes do país, legando uma compreensão de Brasil a partir das desigualdades sociais e políticas.
Não há democracia que se sustente com o grau de desigualdade ao qual se estruturou o país, é assim, mas não precisa ser, para se ter uma ideia e numa conta de padeiro, temos um PIB (Produto Interno Bruto) de aproximadamente 7,5 trilhões de reais, dividido por 212 milhões de habitantes, daria aproximadamente R$ 11 mil reais por mês, para uma família de 4 pessoas. É o que nós produzimos de bens e serviço e que se fosse socialmente distribuído teríamos um país bem menos desigual e humanamente justo.
O Brasil é um dos maiores produtores de alimentos do mundo, porém aqui seu povo passa fome. Essa situação é criminosa, enquanto produzimos mais de 3 kg de grãos apenas, por pessoa, por dia e mesmo assim pelo menos 10 milhões de crianças vão dormir, sem ter acesso a alimentação adequada, isso é um verdadeiro escárnio, que deveria revoltar a todos e fazermos pensar em mudar essa situação. Com bem diz Carolina Maria de Jesus, “O Brasil precisa ser dirigido por uma pessoa que já passou fome. A fome também é professora. Quem passa fome aprende a pensar no próximo, e nas crianças.”
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