Cristão há pelo menos trinta e oito anos, nasci num lar de pai Católico Romano e mãe Presbiteriana mas me decidi cristão numa decisão pessoal e intransferível somente aos 18 anos. Tenho ao longo dessa pequena jornada aprendido muitas lições, e tenho aprendido a esquecer muito do que aprendi. Somos trabalhados para confiar muito da nossa memória, mas me ocorre que o esquecimento, às vezes, é um grande presente que nos damos. Por exemplo: No princípio da minha caminhada acreditava que “ser cristão é antes de tudo não fumar, não beber e não jogar”. Vocês podem acrescentar mais uns “nãos”. Até descobrir que o cachorro lá da casa era um ótimo exemplo desse cristianismo pois não bebia, não fumava e não jogava… O bispo anglicano Robinson Cavalcanti, já falecido, me disse, nessa mesma linha, que Hitler poderia ter sido um excelente cristão pois além de não se dar a tais “vícios”, ele ainda era vegetariano (kkkkkk). Uma pena. Esse “ser cristão” definido pelo “não-ser” é um equívoco e não retrata a verdade de Jesus Cristo.
Fui percebendo que era preciso definir o cristianismo pelo “ser”, e não pelo “não-ser”. É claro que o exemplo veio do próprio Jesus que nos disse para sermos humildes, bondosos, mansos, sedentos de justiça, misericordiosos, limpos de coração, pacificadores. Tudo no afirmativo. Um rabino (sacerdote do judaísmo) dizia que “quando o aluno está pronto o mestre aparece”. E apareceram, mestres e mestras além de muita gente generosa.
Acredito ter sido o escritor José Saramago quem citou, “somos feitos de papel, do papel dos livros que lemos”. Para mim verdade incontestável nos vários caminhos percorridos. Como “caminhos são para jornadas não para destinos”, alguns foram mais longos, outros mais curtos, mas ambos foram passando e eu, me construindo. Dos muitos que vieram me instruir pelas folhas dos livros, o padre Tcheco, Tomás Halik merece ser citado. Foi ele quem me ensinou o que segue abaixo.
“DEUS É UMA POSSIBILIDADE, UMA OFERTA, UM CONVITE E DESAFIO”
Palavras grandes como “Deus” ou “vida eterna” designam realidades sobre as quais não podemos fazer afirmações simples como se elas existem ou não, pois elas não são evidentes da mesma maneira como o são coisas intramundanas. Podemos falar sobre elas no modo da Esperança: que elas podem existir, que nós as vivenciamos não como uma “ocorrência” ou como uma “necessidade”, mas como possibilidade, como oferta, como convite e desafio. (…) a presença de Deus na nossa vida depende do espaço que a nossa liberdade lhe oferece na forma de fé e esperança.
Deus permanece um Deus tão misterioso e oculto, que continua válida a declaração de Pascal: “Existe luz o suficiente para aqueles que desejam ver a Deus com toda a sua alma, e existe escuridão o suficiente para aqueles que nutrem o desejo contrário”.
Por fim, não digo que consegui ser melhor cristão, ainda, mas uma coisa faço, e sugiro aos (as) leitores (as): “nos esquecendo das coisas que para trás ficam prossigamos para o alvo, para o pleno conhecimento de Jesus Cristo” sendo bondosos, mansos, limpos de coração, pacificadores. Que Deus nos ajude!