Violência e discriminação afetam diretamente o bem-estar de estudantes; especialistas pedem políticas públicas eficazes
Uma pesquisa do Ministério da Educação (MEC) revelou um dado alarmante: oito em cada dez professores da rede pública presenciaram casos de bullying em sala de aula. O levantamento ouviu mais de 395 mil docentes em 2023 e mostrou que 50% também se depararam com situações de discriminação nas escolas.
O estudo, parte do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), aponta que apenas 23% dos educadores disseram nunca ter testemunhado bullying. Já 59% relataram episódios esporádicos, 16% afirmaram que a prática ocorre com frequência e 2% convivem com o problema de forma constante.
Caso Camila
A história de Camila, nome fictício de uma aluna de 11 anos, ilustra os impactos do bullying. A menina foi forçada por colegas a ficar do lado de fora da área coberta da escola em dia de chuva. Desde então, desenvolveu crises de ansiedade e baixa autoestima. O pai relata omissão da direção escolar, que sugeriu apenas o registro de boletim de ocorrência.
Racismo escolar
O levantamento também revelou a presença significativa de discriminação nas escolas públicas. No Distrito Federal, apenas 32% dos professores disseram não ter presenciado nenhum episódio do tipo em 2023. Em Viamão (RS), um menino de 10 anos foi alvo de racismo e insultos por conta da cor da pele. A escola, segundo a família, se limitou a registrar atas sem ações corretivas.
Números preocupantes
A maior incidência de bullying ocorre no segundo ciclo do ensino fundamental. No Distrito Federal, a situação é ainda mais grave: só 12% dos professores dizem não ter vivenciado bullying em sala. No caso da discriminação, 44% relataram episódios esporádicos e 8% disseram que o problema ocorre com frequência.
Pós-pandemia
Para a especialista Luciene Tognetta, da Unesp, o cenário é consequência da crise de convivência escolar agravada pela pandemia. Segundo ela, 2023 registrou recorde de ataques a escolas e também foi o primeiro ano em que o SUS apontou mais casos de ansiedade entre crianças e adolescentes do que entre adultos.
Rede despreparada
Tognetta afirma que faltam políticas públicas estruturadas para combater o bullying e a discriminação. Algumas escolas conseguem desenvolver planos de convivência com ações como protagonismo estudantil, escuta ativa e comunicação não-violenta. No entanto, essas experiências ainda são pontuais e isoladas.
Urgência nacional
A especialista defende a criação de uma orientação nacional para promoção da cultura de paz nas escolas. Ela também alerta para o papel das redes sociais no agravamento do problema: mesmo com a proibição de celulares, muitos conflitos seguem ocorrendo no ambiente digital, como em grupos de WhatsApp.
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