O envelhecimento acelerado da população brasileira é uma realidade que apresenta desafios significativos. O Censo Populacional de 2022, conduzido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revela que a sexagenária Brasília abriga 300 habitantes com 100 anos ou mais.
Entre esses centenários destaca-se Ermando Armelindo Piveta, militar reformado da Força Expedicionária Brasileira (FEB), que proporciona uma perspectiva única da história do Brasil no século passado.
Nascido em 1920, Piveta testemunhou e participou ativamente de duas grandes aventuras brasileiras do século 20: a Segunda Guerra Mundial e a construção da nova capital federal, Brasília.
Convocado para o serviço militar em 1942, integrou o 4º Regimento de Artilharia Montada do Exército e, posteriormente, embarcou no navio Almirante Alexandrino, participando da guarda do litoral brasileiro e contribuindo para o esforço de guerra.
Após a guerra, Piveta, já como segundo-tenente do Exército, teve participação crucial na construção de Brasília em 1958, transportando areia e cascalho. Sua história é uma síntese das transformações do Brasil ao longo do século, marcada por eventos históricos e mudanças significativas.
Longevidade em Números
Os centenários, como Ermano Piveta, representam 0,018% da população brasileira, totalizando 37.814 pessoas que ultrapassaram a marca de um século de vida.
Embora essa parcela possa parecer modesta diante dos mais de 203 milhões de habitantes do país, a comparação entre os Censos de 2010 e 2022 revela um aumento de 66,7% no número de “superidosos”.
O demógrafo Marcio Minamiguchi, do IBGE, destaca que, embora esses números possam ser considerados “curiosidades estatísticas”, a presença crescente de centenários está associada a um aumento nas faixas etárias dos 60, 70, 80 e 90 anos.
Desafios Culturais
A longevidade crescente na população brasileira é uma conquista a ser celebrada. No entanto, especialistas alertam para a falta de preparação da sociedade e do Estado para lidar com o envelhecimento.
A cultura que exalta a juventude ainda prevalece, e os idosos muitas vezes são marginalizados, refletindo a necessidade urgente de superar desafios impostos.
Daniella Jinkings, pesquisadora mestre pela London School of Economics and Political Science (LSE), destaca que a sociedade brasileira não está preparada para o envelhecimento.
O estigma associado à velhice, a recusa em envelhecer e a falta de reconhecimento dos idosos como sujeitos de direitos são desafios a serem enfrentados.
Desigualdades e Desafios
Apesar dos avanços legais nos direitos dos idosos, vários serviços previstos em políticas específicas ainda não saíram do papel. A falta de serviços de cuidado domiciliar, a pequena rede de centros dia para idosos e a dificuldade de integração entre políticas intersetoriais são obstáculos que precisam ser superados.
Além disso, as desigualdades territoriais acentuam a discrepância na qualidade de vida dos idosos. A expectativa de vida é maior entre aqueles com maior poder aquisitivo, evidenciando a necessidade de abordagens mais equitativas nas políticas públicas.
Impactos Sociais
As projeções demográficas indicam mudanças significativas no perfil populacional brasileiro. A expectativa é que, em 2060, para cada 100 pessoas entre 0 e 14 anos, haverá 206,2 idosos acima de 65 anos.
A redução da fecundidade e o envelhecimento populacional terão impactos diretos no mercado de trabalho e na previdência social.
O estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) prevê que a população brasileira continuará a crescer até 2030, atingindo aproximadamente 215 milhões, para depois iniciar uma diminuição.
Esse cenário impõe desafios econômicos e sociais, com implicações na competitividade industrial e na necessidade de reavaliação das políticas públicas.
Desafios Econômicos
O envelhecimento da população brasileira tem implicações diretas na economia. Com a diminuição da população em idade ativa, o mercado de trabalho e a Previdência Social enfrentarão desafios consideráveis.
A análise do Ipea destaca a importância de aumentar a produtividade do trabalho como condição fundamental para minimizar os efeitos da redução populacional na competitividade industrial.
Problemas Estruturais
O cuidado adequado dos idosos vai além da assistência social. O estudo do Ipea ressalta que a manutenção do trabalhador na atividade econômica por mais tempo requer uma abordagem abrangente.
Iniciativas como inclusão digital, capacitação continuada, saúde ocupacional, adaptações no local de trabalho e melhoria no transporte público são cruciais para garantir uma transição suave diante dessas transformações demográficas. (Vander Lúcio Barbosa, com Gilberto Costa, Agência Brasil)
Comentários 1