Os brasileiros estão gradativamente abandonando o hábito de consumir feijão diariamente, refletindo mudanças culturais, a ascensão dos alimentos ultraprocessados e o aumento dos preços desse alimento básico. Conforme um estudo do Programa de Pós-graduação em Saúde Pública da UFMG, a tendência aponta para a redução do consumo regular de feijão, prevendo que, a partir de 2025, a maioria da população passe a consumi-lo de maneira irregular (de 1 a 4 dias por semana).
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Essa transição alimentar tem implicações significativas para a segurança alimentar e a saúde pública, conforme destacado pela pesquisa da UFMG. A não ingestão regular de feijão está associada a um aumento de 10% na probabilidade de desenvolver excesso de peso e um aumento de 20% na probabilidade de obesidade, comparado à parcela da população que o consome com alguma frequência.
O que explica a queda de consumo nos últimos anos
Mudanças culturais e o avanço dos ultraprocessados – alimentos calóricos e de baixo valor nutricional – estão no centro da redução do consumo de feijão, segundo a pesquisadora. “Na década de 1980, há a entrada das grandes transnacionais de alimentos no Brasil e o avanço da participação das mulheres no mercado de trabalho, o que causa uma modificação no perfil de consumo da população, com os ultraprocessados sendo percebidos como uma solução prática para o dia a dia”, observa a nutricionista. “Com o passar do tempo, há também uma perda de práticas culinárias, da habilidade em si de preparar os alimentos, com a tradição de receitas que passavam entre gerações que começa a se perder.”
Um terceiro fator que pesa na redução de consumo do feijão é o aumento de preços do produto, observa a especialista. Em 11 anos, entre janeiro de 2012 e janeiro de 2023, o feijão carioca acumula alta de preços de 122% e o feijão preto, de 186%, comparado a uma inflação geral de 89% no período, segundo o IPC (Índice de Preços ao Consumidor) da FGV (Fundação Getulio Vargas). Ou seja, em pouco mais de uma década, o feijão carioca dobrou de preço e o feijão preto, quase triplicou. Um dos fatores que explica esse encarecimento é a perda de espaço da produção agrícola de feijão para commodities como a soja e o milho, explica Granado.
Para Granado, para mudar esse quadro é preciso uma revalorização do feijão como um elemento da nossa cultura, um alimento símbolo e parte da identidade nacional do país. Para isso, ela sugere que seria desejável uma maior tributação dos alimentos ultraprocessados e pouco saudáveis