Poucas coisas são tão pesadas para o coração quanto a amargura e ela pode adentrar de forma sutil e quase imperceptível: uma frustração antiga, uma decepção pessoal, a ira não resolvida e enterrada viva, a traição de um amigo, um abuso ou violência. As razões podem ser graves ou simples, podemos ter consciência dela ou não. Mas, seja qual for a situação, a amargura se torna a trilha para muito sofrimento.
No livro O Pequeno Príncipe, Antoine de Saint-Exupéry narra que no seu pequeno planeta nascem e crescem os baobás, que precisam ser podados diariamente porque são grandes árvores e podem facilmente ocupar todo o espaço, sem dar lugar para que outras plantas floresçam. Creio que esta é uma boa ilustração do que pode acontecer com o coração possuído pela amargura.
Enquanto a raiva se exterioriza, a amargura aprofunda suas raízes. A raiva causa danos externos, a amargura traz prejuízos internos. Ambas são mortíferas e devem ser afastadas. Ser dominado pela ira traz sofrimento às pessoas amadas, e podem nos transformar em seres mau humorados e antissociais, como o Zangado, personagem de Branca de Neve e os Sete Anões. Ser dominado pela amargura leva-nos à melancolia, à tristeza e depressão. Perdemos o prazer de viver e, eventualmente, desejamos ferir e vingar o mal sofrido, mesmo que nem sempre tenhamos real consciência da sua origem e natureza.
A amargura cria raízes que, brotando, nos perturbam. Ela é como uma erva daninha no jardim, que quando arrancada ainda deixa seu toco na terra e floresce nas primeiras chuvas. Suas raízes insistem em sobreviver, não são fáceis de serem removidas e quando menos esperamos, a erva que julgávamos extinta estava em estado latente de vida. Ela então se renova, toma forma, cresce novamente.
A amargura também tem o poder de contaminar as pessoas ao redor. Você já conviveu com alguém dominado pelo ressentimento e a amargura? Essa pessoa se torna intragável. Dá azia em pacote de sonrisal! É tão ácida que, ao tocar o leite, o transforma em coalhada imediatamente.
Cuidado com a amargura! Cheque se o seu coração não precisa lidar com perdas e liberar perdão aos ofensores. Uma alma leve tem poder de restauração. A Bíblia afirma que “o coração alegre faz o rosto ficar bonito” e o contrário também é verdadeiro: “para o amargurado, todos os dias são maus” e até mesmo os dias de céu claro parecem nublados. Precisamos de graça para nos livrar da amargura, para voltarmos a sorrir, para voltarmos a viver. É muito arriscado andar com a mochila pesada, cheia desse entulho chamado amargura.