Para conquistar espaço na comunidade, um Grupo Escoteiro precisa, primeiramente, interagir com ela. Não de maneira a substituir os órgãos responsáveis pela prestação de serviços públicos, mas de complementar esse trabalho, incentivando os membros dessa comunidade a fazerem algo em benefício próprio. O objetivo principal deste serviço é ajudar a formar uma nova espécie de cidadãos, usando sempre o escotismo. Assim, a presença dos escoteiros passa a ser valorizada, e o grupo passa de vizinho estranho a parte integrante e importante da vida comunitária.
Como esta comunidade jamais teria todas as suas necessidades plenamente atendidas, até por ser um organismo em permanente desenvolvimento, logo substituirá por outras, as necessidades que forem sendo satisfeitas. O grupo escoteiro – e todos que o integram – encontrarão uma nova dimensão para o espaço que lhe está reservado no desenvolvimento comunitário, acredita a União dos Escoteiros do Brasil. Nas palavras do fundador do movimento escoteiro, Sir Baden Powell “quando a eficiência se torna evidente, o interesse público é despertado e este é levado ao ponto de cooperar. Deve-se, pois, reconhecer que o esquema tem um duplo valor: o da educação da juventude e o do benefício para a comunidade”.
Partindo destes princípios, no último sábado, dia 10 de outubro, os grupos escoteiros do Distrito de Anápolis participaram do 11º Mutirão de Ação Comunitária – MutCom (2009). O evento – que é realizado em nível nacional – teve como tema “Escotismo é inclusão”. E veio para fechar o ciclo de atividades desenvolvidas, durante todo o ano, com os jovens. O MutCom 2009 aconteceu na Creche “Nossa Senhora de Nazaré”, no Jardim Guanabara. Além dos grupos escoteiros, o evento contou o apoio do grupo Focolares, e de empresas privadas.
Durante o mutirão, os jovens escoteiros colocaram em prática ensinamentos importantes que fazem parte dos preceitos do escotismo, entre eles, a solidariedade. Envolvidos com o projeto desde o início de setembro, eles arrecadaram roupas e brinquedos que foram doados para a creche e, também, distribuídos às crianças residentes no setor. “Nós estamos, realmente, surpresos com os resultados desse projeto. Temos conseguido provar que as propostas do Escotismo são passíveis de aplicação e, principalmente, envolventes”, comemorou Marcela Eugênio Ribeiro, uma das coordenadoras da atividade. “Os membros juvenis escoteiros conseguiram colocar em prática os ensinamentos de Baden Powell, quais sejam, ajudar ao próximo. Nosso objetivo foi alcançado o que é extremamente gratificante”, disse.
O balanço positivo é obra do trabalho dos voluntários que fazem o movimento escoteiro, que doam parte de seu tempo e de seus conhecimentos, para ajudar na formação das crianças e jovens.
Finalidades e princípios
O Escotismo é, antes de tudo, um movimento educacional de jovens. Voluntário e sem vínculo com partidos políticos, grupos religiosos ou filosóficos, conta com a colaboração de adultos e valoriza a participação de pessoas de todas as etnias, credos e origens sociais. Seu objetivo é complementar a formação que cada criança ou jovem recebe de sua família, de sua escola e de seu credo religioso. “Trabalhamos para que esses jovens assumam seu próprio desenvolvimento, especialmente de caráter. Promovendo atividades que visam as potencialidades físicas, intelectuais, afetivas, sociais e espirituais. Acreditamos, assim, estar criando cidadãos responsáveis, participantes e úteis em suas comunidades”, disse Eduardo de Melo do Nascimento, também coordenador do 11º Mutirão Comunitário.
Dentro dos dez artigos que compõem a Lei Escoteira estão implícitos os princípios que irão reger a vida e as atitudes de todo escoteiro, a base moral que se ajusta aos progressivos graus de maturidade do indivíduo. Segundo Eduardo, entre eles estão a honra, a lealdade, a solidariedade, a amizade, a cortesia, o respeito e a obediência. Além de o dever para com Deus – adesão a princípios espirituais e vivência ou busca da religião que os expresse, respeitando as demais. Há, também, o dever para com o próximo – lealdade ao País, em harmonia com a promoção da paz, compreensão e cooperação local, nacional e internacional, exercitadas pela Fraternidade Escoteira e participação no desenvolvimento da sociedade. Tudo isso, aliado ao reconhecimento e respeito à dignidade do homem e ao equilíbrio da natureza. E existe, ainda, o dever para consigo mesmo – responsabilidade pelo seu próprio desenvolvimento.
Método aplicado
Atualmente, nota-se que muitos desses princípios estão desaparecendo da vida em sociedade, na opinião de José do Nascimento Júnior, pai de dois membros juvenis do Ramo Pioneiro (entre 18 e 21 anos). Desde que ingressaram na comunidade escoteira, seus filhos “estão muito mais sociáveis, responsáveis, seguros das próprias atitudes e deixaram a timidez de lado”. Regina Célia da Silva Vieira, mãe de um membro juvenil do Ramo Sênior (entre 15 e 18 anos), concorda e diz que o filho, “agora, tem muito mais facilidade em resolver os próprios problemas”.
A partir do momento em que o jovem ingressa no Movimento Escoteiro, ele integra uma equipe ou patrulha, quando então, desenvolverá hábitos e qualidades de disciplina, tão importantes para o sucesso em qualquer momento da vida. Ele sempre terá uma função dentro desta patrulha e de seu grupo. E é no trabalho de equipe que o jovem se desenvolve individualmente, com responsabilidade, adquirindo autoconfiança. Baden Powell afirma em seu livro “Escotismo para Rapazes”, que o sucesso dessa proposta pode ser explicado, então, por seu método, que vai ao encontro dos anseios normais dos jovens e proporciona maneiras atraentes de realizar tarefas. Ao mesmo tempo em que os orienta para finalidades socialmente úteis, por meio de jogos e costumes, tradições, trabalhos manuais, explorações, excursões e acampamentos – chave de todo o sistema pedagógico – entre outros.
Números
Segundo a Organização Mundial do Movimento Escoteiro – WOSM (World Organization of the Scout Moviment) existem no mundo, hoje, mais de 25 milhões de escoteiros, entre jovens e adultos, homens e mulheres, distribuídos por, mais ou menos, 216 países e territórios. No Brasil eles são, calculadamente, 57.200 espalhados por quase mil grupos presentes em todos os estados.
Em 149 países do globo, a Organização Escoteira Nacional é internacionalmente reconhecida pela WOSM. O Escotismo existe, também, em 26 territórios principais (que têm ligação ou pertencem a outros países). São 37 os países onde o Escotismo está em fase embrionária ou em expansão, mas não possui uma organização escoteira nacional associada à WOSM. E apenas sete nações não têm escoteiros.
Filosofia de vida
Em Anápolis, localiza-se o grupo escoteiro, em funcionamento, mais antigo do Estado de Goiás. É o Grupo Escoteiro “Bernardo Sayão”, mais conhecido como GEBS, que está perto de completar 50 anos de atividades. Não é difícil encontrar, entre seus membros, pessoas, jovens e adultas com mais de 10 anos de atuação no movimento. O sênior (ramo com adolescentes entre os 15 e 18 anos) Lucas Eugênio Ribeiro é um exemplo. Ele ingressou no Escotismo há 11 anos, em 1998, quando procurava por uma alternativa para ocupar o tempo ocioso. O mesmo aconteceu com Ronaldo Antônio da Costa, Mestre do Clã Pioneiro, no Grupo Escoteiro “Bernardo Sayão”, que já contabiliza mais de 25 anos de escotismo. Ambos não conseguem imaginar suas vidas sem o movimento. E explicam que isso se concretiza, principalmente, no que diz respeito às amizades. Segundo Ronaldo, “muitas pessoas não conseguem encher os dedos de uma mão com seus amigos de verdade, quando no movimento escoteiro é preciso pedir mãos emprestadas para contá-los”.
E são, também, os amigos a maior motivação para levar a vida escoteira adiante. A União dos Escoteiros do Brasil, em pesquisa realizada no ano de 2008, mostrou que para 59% dos membros, a inserção no escotismo se deu através dos amigos.
Um pouco de história
“Quando um escoteiro se levanta de manhã lembra-se da “boa ação” que deve praticar durante este dia para com alguém”, escreveu Baden Powell (B.P.) em “Escotismo Para Rapazes”. O fundador da maior organização não governamental do mundo nasceu em Londres, Inglaterra, em 22 de fevereiro de 1857. Aos 19 anos entrou para o serviço militar, onde construiu uma sólida e premiada carreira. Aproveitando e adaptando sua experiência em vários países, entre eles, a Índia e a África do Sul, desenvolveu as bases do movimento que iria afetar a juventude do mundo inteiro.
Depois de testar seus métodos e teorias com vinte rapazes, durante o verão de 1907, B.P. lançou, em seis fascículos quinzenais, seu manual de educação e adestramento de jovens. Através da obra, as idéias percorreram o mundo e pouco mais de vinte anos depois, tinham chegado a muitos países. O Movimento Escoteiro contava, então, com dois milhões de membros.