“Homem não chora”. Essa é uma frase popular muito comum e utilizada, via de regra, para conter o choro em crianças do sexo masculino. É certo que, atualmente, essa afirmação já não é tão usual na educação infantil, mas continua habitando o inconsciente coletivo dos adultos. Para muitas pessoas, excetuadas situações muito específicas, chorar é uma demonstração de fraqueza que deve ser evitada a todo custo. No entanto, a Bíblia nos traz uma visão muito diferente sobre o pranto.
Na passagem em que a mulher entra na casa do fariseu e rega os pés de Jesus com suas lágrimas e seca-os com seus cabelos há a demonstração de quebrantamento e humildade. “E se colocou atrás de Jesus, a seus pés. Chorando, começou a molhar-lhe os pés com as suas lágrimas. Depois os enxugou com seus cabelos, beijou-os e os ungiu com o perfume. (…) Então Jesus disse a ela: Seus pecados estão perdoados” (Lc 7:38 e 48 NVI).
Aquele pranto refletiu a comoção e emoção da pecadora por estar diante do Mestre. Também está registrado nos evangelhos que Jesus chorou a morte de Lázaro. “Jesus pois, quando a viu chorar, e também chorando os judeus que com ela vinham, moveu-se muito em espírito, e perturbou-se. (…) Jesus chorou. Disseram, pois, os judeus: Vede como o amava” (Jo 11:33, 35 e 36).
As lágrimas do Filho de Deus externaram o amor pelo amigo e a compaixão pelo sofrimento das irmãs do falecido. Mesmo ciente do que aconteceria em seguida, Ele não escondeu a dor provocada pela perda. E há o pranto como expressão de sensibilidade espiritual. Paulo, em sua carta aos Romanos, recomenda aos cristãos que sejam solidários com os irmãos e compartilhem suas alegrias e sofrimentos. “Alegrai-vos com os que se alegram; e chorai com os que choram” (Rm 12:15).
E, quando em oração, as lágrimas podem exprimir angústia, arrependimento ou contentamento. Ana, mulher de Elcana e mãe de Samuel, apresentou a Deus todo o seu sofrimento chorando. “Ela, pois, com amargura de alma, orou ao Senhor, e chorou abundantemente” (1Sm 1:10).
Pedro, após negar Jesus três vezes, chorou de arrependimento e tristeza. “E logo cantou o galo pela segunda vez. Então, Pedro se lembrou da palavra que Jesus lhe dissera: Antes que duas vezes cante o galo, tu me negarás três vezes. E, caindo em si, desatou a chorar” (Mc 14:72).
Seja suplicando ou agradecendo, é natural prantear na presença de Deus. Enfim, homens, mulheres, jovens, crianças podem, sim, chorar e não devem ser recriminados por isso. Pois, como disse o Mestre no Sermão da Montanha, “Bem-aventurados os que choram, pois serão consolados” (Mt 5:4). E mais: “Os que com lágrimas semeiam com júbilo ceifarão” (Sl 126:5).
Contudo, o choro não deve e não vai durar para sempre. Haverá dias em que a alegria encherá o coração e o sorriso perdurará nos lábios. E ainda melhor, chegará o dia em que “E Deus limpará de seus olhos toda a lágrima; e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas” (Ap 21:4).