A unidade teve um papel de destaque no Município, na área educacional, com a formação de professores que atuaram não só em Anápolis mais em diversos outros municípios goianos e até de outros estados brasileiros
A história permite trazer à tona, recortes da vida em sociedade, de instituições e entidades e, claro, de pessoas, algumas delas conhecidas personalidades e outras anônimas. Esse olhar para o passado ajuda a compreender as diversas dimensões do desenvolvimento, seja na área econômica, social, política e, sem distinção de relevância, na área educacional, onde, afinal, está a maior parte de nossas vidas.
Esse resgate na história, agora, joga luz sobre uma instituição de ensino que teve um papel de destaque na história do Município: A Escola Normal de Annapolis (a grafia é assim mesmo, como era na época), que estaria completando 90 anos de fundação.
A pesquisa “A Escola Normal de Annapolis-GO: Os perfis dos alunos (1931-1937)” foi desenvolvida por Tarsio Paula dos Santos, pesquisador na área de história da educação de Anápolis e de Goiás. O trabalho faz parte do mestrado do Programa de Pós-Graduação em Educação, Linguagem e Tecnologias da Universidade Estadual de Goiás – Unidade de Anápolis, tendo como orientadora a professora Sandra Elaine Aires de Abreu, Pós – doutora em educação pela Universidade Federal de Uberlândia e docente da UEG e da UniEVANGÉLICA.
Segundo Tarsio Paula, a pesquisa teve início em 2019, no Grupo Goiano de Estudos e Pesquisas em História da Educação (GGEPHE), ligado à UniEVANGÉLICA e à UEG. A coleta de dados foi realizada no arquivo do Colégio Auxílium.
Escolas Normais
Em sua pesquisa, Tarsio Paula aponta que as Escolas Normais são instituições destinadas à formação de professores para o ensino primários (atual ensino fundamental I – 1º ao 5º ano) e possuem origem na Europa, durante o século XVIII.
“No Brasil, a primeira Escola Normal a ser criada foi a de Niterói – RJ em 1835. Em Goiás, a primeira Escola Normal foi fundada em 1884, na antiga capital, a Cidade de Goiás, sendo fechada em 1886. Foi reestabelecida em 1903, formando em 1906 os primeiros professores normalistas em Goiás”, descreve o pesquisador.
A pesquisa narra, ainda, que, nas primeiras décadas do século XX, ocorreu um movimento de expansão do ensino normal no território goiano, ou seja, outras cidades de Goiás abriram Escolas Normais, entre elas Anápolis, na década de 1930.
“A Escola Normal de Annapolis foi criada no dia 04 de abril de 1931, em reunião realizada no prédio do Grupo Escolar 24 de Outubro (Colégio Estadual Antensina Santana) com a presença de lideranças locais da época. Os principais responsáveis por essa criação foram o, então, prefeito João Luiz de Oliveira, o coronel Aquiles de Pina e o coronel Graciano Antônio da Silva”, ressalta Tarsio Paula.
Primeira direção
A reunião mencionada acima, também, elegeu a diretoria provisória da Escola, que foi, na época, composta pelo cirurgião-dentista Cristalino Bernardino da Costa como diretor; o engenheiro Júlio Masciocchio, como vice-diretor; o funcionário municipal Jarbas Jayme, como secretário e o juiz municipal Joaquim Firmo de Velasco, como tesoureiro. Além disso, houve a criação de uma comissão para a elaboração dos estatutos, formada pelo farmacêutico José Honório Ferreira; o diretor do Grupo Escolar “Alarico Torres” Verano e o prefeito municipal João Luiz de Oliveira, sob a presidência deste.
“A Escola Normal de Annapolis esteve em atividades ininterruptas de 1931 até 1937. Inicialmente, funcionava no prédio do Grupo Escolar “24 de Outubro”. Depois, após a aquisição do prédio próprio, passou para o endereço na Rua 14 de Julho, Setor Central, onde, atualmente, funciona o Colégio Auxílium”, pontua o autor da pesquisa.
A instituição anapolina de formação de professores primários de 1931 adotava o sistema de coeducação. Rapazes e moças estudavam no mesmo espaço de sala de aula e era organizada pelo Regulamento da Escola Normal de Goiás, via Decreto n. 658, de 28 de janeiro de 1931.
Em conformidade com as diretrizes do Estado, a escola oferecia o ensino secundário (equivalente ao ensino médio) e dois cursos: o Complementar e o Normal. O curso Complementar tinha a duração de dois anos e o objetivo de preparar os alunos para o curso Normal. Por sua vez, o curso Normal tinha a duração de quatro anos e o objetivo de preparar os futuros professores para o ensino primário.
Primeira colação
A primeira colação de grau da escola – assinala a pesquisa – aconteceu em 18 de dezembro de 1931. Foram comtemplados com o diploma de normalistas os seguintes alunos: Hegesipo de Campos Meirelles; Adélia de Faria e Benedicto de Almeida. Em 1932, colaram grau as alunas América Verano, Belchiorina do Couto Dafico e Maria Caiado Fleury.
No ano seguinte, 1933, mais quatro normalistas eram formados: Francisca Miguel; Adalgisa Batista Arantes, José Crispim Borges e Sebastião Santana Ramos. Em 1934 e 1935, foi diplomado, apenas, um aluno nos respectivos anos: Romeu Roque Ramos e Waldeberto Batista Arantes. Já em 1936, os normalistas formados foram Absalão Mendonça Lopes; Clarisse Nominato; Helena Mendonça Lopes, José Abdalla Israel e Maria Miotto. No último ano de funcionamento da Escola Normal de Annapolis, colaram grau as alunas Esther Silva, Griseldes Baptista, Maria C. Fleury e Wanda Campos.
Tarsio Paula descreve em sua pesquisa que, em 28 de fevereiro de 1937, na reunião da congregação da Escola Normal anapolina, por iniciativa do coronel Aquiles de Pina, alegando precariedades financeiras, foi decidida a entrega da administração e da direção da escola ao Instituto das Filhas de Maria Auxiliadoras ou Salesianas de Dom Bosco. “No ano seguinte, em 24 de fevereiro, foi fundada em Anápolis, a Escola Normal “Nossa Senhora Auxiliadora”, o primeiro educandário feminino de ensino secundário da Cidade, o que era um anseio das elites tradicionais de Anápolis naquele período, pois, muitos não concordavam com o sistema de coeducação. Assim, findou-se a trajetória da Escola Normal de Annapolis”, destaca o historiador.
“Do ponto de vista educacional, pode-se dizer que a extinta Escola Normal de Annapolis foi um importante estabelecimento para a formação moral e patriótica dos jovens anapolinos em grande parte da década de 1930, sendo, também, um marco importante para a história da educação de Anápolis e de Goiás”, ressalta o pesquisador, acrescentando alguns nomes que passaram pelo referido educandário, como a professora Francisca Miguel, primeira mulher eleita vereadora da Cidade; Anapolino de Faria, ex-prefeito de Anápolis; Humberto Crispim Borges, historiador; Ursulino Tavares Leão, escritor; Hegesipo de Campos Meireles, fundador do curso de ciências econômicas da PUC – Goiás; entre muitos outros.
“Assim sendo, conhecer a história dessa instituição, que nesse ano de 2021 completa 90 anos de fundação, é jogar luz sobre aspectos da história local, possibilitando entender, um pouco, a cultura escolar de Anápolis na década de 1930 e quais as especificidades e os perfis dos professores formados na cidade. Pode-se dizer que a Escola Normal de Annapolis, comprimiu um papel de importância na área da educação não só para a Cidade, mas também para a região ao redor, tendo em vista a presença de vários alunos oriundos de outras localidades, tais como Pirenópolis; Luziânia; Itaberaí; Campinas (Goiânia); Cidade de Goiás; Formosa; Santa Cruz, Catalão, e outros estados como Minas Gerais e São Paulo”, conclui o pesquisador Tarsio Paula dos Santos.
