Servidores do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) têm sofrido ameaças de grileiros em uma extensa área rural de cerca de 1,5 mil hectares em Santo Antônio do Descoberto (GO), a apenas 42 km de Brasília.
A equipe avalia se o território pode ser demarcado e titulado como remanescente quilombola. Para os descendentes, o local é conhecido como “Antinha dos Pretos”. Pesquisadores também suspeitam que a região seja rica em minérios, o que aumenta o interesse de terceiros.
Ameaças e medidas de segurança
Em documento enviado à Agência Brasil, o Incra informou que “a etapa do estudo antropológico tem sido marcada por fortes ameaças contra os servidores do Incra-DF e Entorno”. O órgão apontou que os responsáveis pelas intimidações podem incluir pessoas e grupos, inclusive políticos, interessados na área. Para garantir a segurança, o Incra acionou instituições do sistema de justiça e forças de segurança, acompanhando o processo por meio da Câmara Nacional de Conciliação Agrária.
Disputa judicial histórica
A comunidade quilombola iniciou o processo de reconhecimento ao solicitar o autorreconhecimento à Fundação Cultural Palmares. O certificado foi publicado em 1º de agosto de 2025. Dois dias antes, uma decisão judicial determinou a desocupação de 32 imóveis da região. A disputa começou na década de 1940, quando moradores pediram a regularização da terra. A comunidade alega que documentos apresentados por terceiros seriam falsos. Em 5 de agosto, o ministro Edson Fachin, do STF, suspendeu a ordem de desocupação, transferindo o caso para a Justiça Federal.

Impacto na comunidade
Pelo menos 10 casas foram destruídas por homens a serviço de beneficiários da decisão judicial. Membros da comunidade citam fazendeiros da região que tentaram tomar posse dos imóveis. Francisco Porfírio, presidente da associação de moradores, relatou que a derrubada foi traumática e que a justiça será acionada para indenização.
Para lideranças como Jair da Silva Moreira, de 58 anos, a decisão trouxe algum alívio, mas o medo persiste. A comunidade, composta por cerca de 400 pessoas, mantém tradições e atividades agrícolas, como o cultivo de milho, feijão, banana, cana e produção de rapadura. Para os moradores, a terra representa não apenas sustento, mas a história viva de seus antepassados.

Apesar das ameaças e da presença de pessoas armadas, os quilombolas mantêm esperança. “Essas águas são limpas. A gente pode beber. Nossos filhos e netos também viverão aqui. A gente ainda tem muito medo, mas agora também alguma esperança”, afirmou Jair Moreira, refletindo a importância da preservação do território ancestral e da cultura local.
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