Acabo de passar por várias cidades na região da antiga Ásia Menor: Ankara, Éfeso, Esmirna, Bursa etc. Nessas regiões o apóstolo Paulo fez as suas preleções e morou por um bom tempo deixando um legado histórico enorme. As ruínas de Éfeso (cidade do filósofo Heráclito), por exemplo, ainda nos deixam ver como era a vida dos seus moradores antes do I século da era cristã. Templos, banhos públicos, residências, teatros, bibliotecas (como a de Celso, construída na Anatólia em homenagem ao antigo senador romano Tibério), nos dão uma imagem humana fantásticas dos tempos de glória de, dentre outros, Grécia e Roma Antiga. Ali também fica a cidade de Mileto, a cidade do filósofo, matemático, engenheiro Tales de Mileto, e de outros como Anaxímenes e Anaximandro, que como ele marcaram a história do pensamento humano.
Divertir-se para escapar do tédio tem os seus riscos
Eu vi e anotei muita coisa que não sabia, como o fato de que ainda existem pinturas rupestres no interior das igrejas trogloditas na região da capadócia (Igrejas nas cavernas). Me emocionei pela grandeza do Museu de Santa Sofia, que já foi igreja Ortodoxa, Igreja Católica, Mesquita, já serviu de espaço para a coroação de imperadores de Roma Oriental, e hoje é um museu dessas grandes religiões monoteístas advindas todas do patriarca Abraão – Em tempo, o nome Sofia não vem de alguma mulher santa da Igreja Ortodoxa ou Católica, mas, veio do grego Sophia e pode significar “sabedoria”, ou, “santidade”, ou, “o Verbo” à “sagrada sabedoria de Deus”. Mas o que me chamou a atenção é que da multidão de todos os povos do mundo que lá estavam a fazer turismo uma coisa era patente: divertir-se e escapar do tédio, por meio dos programas de entretenimento que são vendidos juntos com visitas às cidades históricas, incluindo os belos passeios de balão da capadócia, são prioridade, são os primeiros itens “nas tabelas de valores vigentes”. Ninguém, precisa me dizer que não querer, ou, não achar legítimo isso, é puritanismo fanático, mas, como nos alerta o escritor Mario Vargas Llosa, “transformar em valor supremo essa propensão natural a divertir-se tem consequências inesperadas”. Enumeramos algumas dessas consequências de que o escritor fala: banalização da cultura; generalização da frivolidade (na porta do campo de concentração/extermínio de Auschwitz, onde foram exterminados milhares de inocentes pelos nazistas na II Grande Guerra, uma jovem europeia e seu namorado fizeram várias poses de caras e caretas para expor no Face e Instagram); e no campo da informação a priorização e proliferação irresponsável da bisbilhotice.
Os indivíduos dessa nossa era, agindo socialmente, se munem de seus smartphones, buscam a melhor pose, fazem selfs, entram num jogo de fazer imagem/apagar imagem que não tem fim, postam tudo que podem, mas, não acrescentam nada na vida daqueles que os seguem ou compartilham as mesmas imagens nas redes digitais. Precisamos mudar a ordem das coisas e fazer com que a informação deixe de ser apenas instrumento de diversão e se transforme em conhecimento que pode, e deve ser trabalhado racionalmente, se transformando em sabedoria. Se assim não for, viveremos cada vez mais num mundo onde o conhecimento e a cultura serão, infelizmente preteridos em favor da imagem, da diversão, do volúvel, e onde as poses substituirão as certezas e a verdade só valerá se aparecer em alguma tela.