À família de Rafael Teixeira e Silva Vasconcelos Ribeiro, meu ex-aluno, meu colega de profissão, apaixonado pela Anapolina, precocemente falecido
Saibam meus leitores que lecionar enche-me de prazer. Alunos, já os tenho quase na casa do milhar. Dezenas deles, médicos formados. Aprendo muito com eles, muito mais do que posso ensinar. Nesta semana perdi um destes ex-alunos, colega médico formado, pouco mais de 25 anos de idade. Morte besta, estúpida, fora de hora.
Para entender a morte é preciso saber o que é a vida e, este, é o maior problema. Não entendemos, não sabemos nada da vida. Muitos de nós, aliás, sequer vivemos direito a vida, com medo da morte. Sim, alguns a aceitam melhor, sabem conviver com a ideia de morte, mas, no geral, a tememos. A morte, com raras exceções, maltrata, dilacera, dói. A morte extemporânea, precoce, de um jovem destrói ainda mais. Amigos choram, irmãos sofrem, pais morrem juntos. Em outra oportunidade, se escrita aqui ou lido acolá, Clarice Lispector liricamente a respeito da morte diz: ´Não quero mais gostar de ninguém, porque dói, não suporto mais nenhuma morte de quem me é caro´.
A morte é menos terrível quando se é velho, quando se está cansado, mas quando atinge uma criança de vinte e poucas liras o que dizer? Negar, negar, negar. Mas, como se vimos o corpo inerte, sem vida. Odiar, talvez, afinal, que falta de clemência tirar a vida de um menino, ceifar os sonhos da noiva, fazer chorar os irmãos, dilacerar, trucidar os pais. Não se pode barganhar, pois o que todos queriam era a vida e, neste caso, o triunfo da morte é a derrota da vida. Sim, é possível deprimir-se, lamentar, até mesmo, pra alguns, esquecer. Pensemos na morte como uma penumbra extremamente lenta.
Pensamos que jovens não acreditam na morte, em verdade somos, nós, os mais velhos, que não acreditamos que jovens possam morrer. Pais não aceitam, não acreditam na morte de seus filhos.
Seneca em Cartas a Lucílio ensina: ´morremos a cada dia, a cada dia falta uma parte da vida´ e isto é perfeitamente factível quando se envelhece,quando se casa, tem filhos, netos. Mas e quando a vida nem bem começara, quando poucos sonhos se concretizaram?
Sim, a invocar Coelho Neto, podemos pensar que a morte não é uma destruição, porém, ela é um lento acabar, um lento sumir, um espaço a mais na mesa que afasta as cadeiras, mas é capaz de juntar pessoas, e o corpo que vai, que se enterra, tal como um frasco de perfume que se quebra, haverá de deixar a casa dos pais, irmãos e noiva com um doce aroma que, triste, mas, com certeza, haverá de ser desvanecido pelo tempo, ficando somente a saudade, que é a memória do coração.