Às vezes, certos acontecimentos ocorrem tão próximos da gente que, associado à incredulidade, soma-se certa apatia, típica de coisas difíceis de se explicar, impossíveis de se entender. O caso envolvendo o desaparecimento de seis meninos em Luziânia ilustra bem esta sensação.
Pior que nossa incredulidade, certamente é a dor e o sofrimento dos familiares envolvidos. Para relembrar rapidamente o estranho mistério, voltemos a 30 de dezembro do ano que passou, quando Diego Alves Rodrigues, 13 anos, desapareceu misteriosamente e desde então outros cinco garotos também do sexo masculino, e residentes na mesma região de Luziânia também não voltaram para casa. As mães, que nunca tinham se falado antes, se juntaram na dor, e conseguiram mobilizar a imprensa, receberam a visita de parlamentares, bateram na porta do Secretário de Segurança Pública de Goiás, Ernesto Roller, e fizeram passeata em Goiânia para atrair a atenção do Governador Alcides Rodrigues . Elas receberam apoio de deputados, senadores, da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República, Policia Federal e, principalmente, da população. Mas, até agora, continuam sem respostas.
Tão sórdido, inescrupuloso e cheio de maldade o ser humano que torna-se impossível pensar que algo de bom pudesse ter acontecido àqueles meninos. Ouvi o relato da mãe de um deles e nem mesmo ela consegue acreditar que seu filho possa estar de volta sem qualquer problema. Dostoievski dizia que compara-se, muitas vezes, a crueldade do homem à das feras, mas isso é injuriar estas últimas.
Lembro-me de um caso assombroso ocorrido no interior do Pará que envolvia crianças, magia negra e crueldade humana. Meninos, com idade entre oito e 14 anos, foram sequestrados e castrados, na cidade de Altamira, a 777 km. de Belém. Segundo o Ministério Público, os crimes que aconteceram entre 1989 e 1993 foram motivados por rituais de magia negra. As crianças encontradas, mortas ou vivas, estavam nuas, algumas com orifícios de arma de fogo, queimaduras de cigarro, olhos arrancados, pulsos cortados, órgãos sexuais extirpados cirurgicamente, sofreram abuso sexual e sevícias.
A história, queira Deus não há de repetir-se, mas alguém ainda duvida da capacidade humana de produzir tragédias?
A capacidade que estas mães mostraram ao se unirem e cobrarem das autoridades a resolução do caso, faz lembrar, também, outras mães chamadas de loucas na Argentina por cobrarem a vida de seus filhos mortos pela ditadura, aos generais da Casa Rosada.
Juntemo-nos, pois, na dor e solidariedade a estas mães.
Passado, presente, futuro!
O ano que chega, como reza a tradição, é um convite à reflexão acerca daquilo que passamos no ano anterior...