Não me considero velho, tampouco saudosista daqueles que consideram que tempo bom é aquele que passou. No entanto, datas de aniversário não deixam de serem datas de estimulo à memória retrograda.
No aniversário de nossa cidade, ficamos muito mais preocupados com o futuro. Nossas discussões remetem a expansão industrial, ao contorno viário, ao asfaltamento, a construção de novas escolas, hospitais e universidades. Nossos sonhos têm a forma de viadutos, arranha-céus e monumentos faraônicos.
Importante também voltar o tempo e perceber que figuras, rostos, fatos em princípio sem importância, assumem um caráter especial.
Na semana passada estava em São Paulo e fomos eu, mulher e filhos ao MASP, esta jóia da cultura brasileira. Aos domingos, existe uma feira de antiguidades sob os vãos do prédio, projetado por Lina Bo Bardi. Porém, qual não foi minha surpresa ao ser alertado por meu filho quanto a presença de alguns postais dos anos 60 e 70 mostrando a nossa Praça Bom Jesus. Como era bonita a nossa praça! Como era bem cuidada. Na foto duas lindas colegiais pareciam passear sem nenhuma preocupação com a segurança.
O que mais chamou a atenção, no entanto, foi o verso. Lê- se nitidamente o nome do destinatário, Maria Estela. Por que razão Maria Estela desfez-se daqueles postais? Desilusão, a morte do remetente, alguma tristeza com Anápolis, necessidade de alguns trocados? Qual a razão para tentarmos nos desfazer de nosso passado? É possível vender uma imagem e desfazer-se de suas lembranças?
Maria Estela tinha seus motivos para desfazer-se das lembranças de Anápolis. Eu, nós, ainda temos razoes para podermos rememorar o gosto de sorvete com coca-cola das matines do Cine Vera Cruz ou do Cine Imperial, o sacolejar malemolente do velho ônibus esverdeado do Couto Magalhães a fazer o longo percurso entre o Centro e o Colégio.
Como não lembrar do frondoso flamboyant que cortava ao meio a Avenida Contorno acima da atual sede da Prefeitura. E o que dizer dos trilhos que cortavam a Avenida Goiás na confluência do Jundiaí em direção a estação?
Assim como o ontem não devora o amanhã nos dizeres de Paul Verlaine, não vou me estender nestas reminescencias, mas que ficou uma grande curiosidade sobre os motivos de Maria Estela, ficou. Ouso dizer que sua desilusão tenha algo com o sumiço dos cães pequineses? Alguém sabe dizer-me onde posso encontrar um?
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