Se o que está acontecendo nos morros do Rio de Janeiro não for uma guerra urbana, para não dizer guerra civil, não se sabe mais o que vem a ser isto. E, o pior é que o destemor dos grupos armados, financiados pelo dinheiro sujo do tráfico e da contravenção, está cada vez mais ousado, cada vez mais potente, cada vez mais eficiente. Agora deram para derrubar avião da polícia. Era só o que faltava.
O País assiste, estupefato, coisas que somente via em filmes de ficção, ou, quem sabe, via satélite do Oriente Médio, nas guerras como as do Iraque, do Afeganistão, conflitos entre judeus e palestinos. Agora não… Com qualidade cinematográfica, ao vivo e a cores, vemos gente matando gente, brasileiros matando brasileiros, numa guerra sem pé nem cabeça. E quando se pergunta às autoridades que deveriam cuidar da segurança do povo, o porquê de tudo isso, a resposta é, quase sempre, a mesma, carrega de evasivas, apontando para o futuro, para daqui a algum tempo a resolução do angustiante problema.
Aborda-se, nesse artigo, a questão do Rio de Janeiro, apenas para servir de parâmetro. Nas outras regiões do País não tem sido diferente. Temos um sistema de segurança arcaico, que não resolve nada. Cadeias superlotadas, policiais insatisfeitos, prateleiras dos juízes abarrotadas de processos, leis que não garantem nada, criminosos soltos nas ruas. Esse é o retrato do Brasil.
E, o que antes acontecia somente nas grandes cidades, hoje grassa para o restante da Nação como uma onda avassaladora, uma espécie de tsunami do mal, matando pessoas, ferindo a dignidade, a cidadania de todos os brasileiros. Os casos de sequestros, assassinatos, latrocínios e outros delitos hediondos, já não nos assustam mais quando são mostrados na TV, nas páginas de jornais ou quando são relatados nas emissoras de rádio. Aliás, já existem (e não são poucos) programas exclusivos somente para noticiarem a violência brasileira. Uma vergonha que atravessa mares, continentes e vai horrorizar a população mundial.
É claro que tudo isso se configura em uma tragédia que muitos dos nossos governantes teimam em não admitir. Acreditam que “a situação está sob controle”, conforme gostam de dizer. Mas os frios números não mentem. Mata-se mais no Brasil do que em todas as guerras reunidas pelo mundo afora, incluindo as guerras étnicas da Ásia e da África. O morticínio brasileiro, na maioria das vezes sem uma explicação plausível, é incomparável. Banaliza-se a vida, desrespeita-se a morte. Milhares morrem sem uma causa. Outros milhares passam para a triste relação dos excluídos, vão engrossar as estatísticas dos mutilados, dos tetraplégicos, dos sofridos. Sem se contar, ainda, os milhares de órfãos, as milhares de viúvas que essa guerra insana promove diária e constantemente. Está na hora (se já não se passou dela) de, povo e autoridades no Brasil, darem um basta a tudo isso. Sob pena de sucumbirmos à barbárie, sermos vistos como uma nação marcada pela violência, pela brutalidade, coisa somente presenciadas séculos atrás, quando da presença dos bárbaros na face da terra. Mas, até para aqueles, encontrou-se uma solução. Não é possível que, para o caso do Brasil, não se encontre uma.
Passado, presente, futuro!
O ano que chega, como reza a tradição, é um convite à reflexão acerca daquilo que passamos no ano anterior...