Abro meu e-mail e vejo que me pedem um artigo sobre Anápolis. Simples, eu vivo de escrever, basicamente. Eu vivo aqui, em Anápolis. Mas o fato é que me encomendam um artigo sobre Anápolis e aí descubro que em tantos anos vivendo, vendo e fazendo acontecer muitas coisas nesta cidade, eu nunca tinha feito isto antes.
Fato também é que pensei em dar as minhas impressões mais íntimas e não um perfil “oficial”, como alguém que veste uma roupa bonita para parecer bonito. As pessoas têm lados belos e toscos. E as impressões que se têm sobre uma cidade, sobre alguém, enfim, as impressões que ficam em um caso de amor são repletas de sensações e perfis diferentes. Nem tudo é sempre belo. Deparei-me, portanto, com a indagação: o que eu sinto sobre Anápolis e o que Anápolis me causa?
“Quando eu cheguei por aqui eu nada entendi”, como o baiano quando desceu em Sampa. E não entendi mesmo. Porque não queria e porque, ainda que quisesse, não conseguiria. Anápolis guarda mistérios difíceis de serem solucionados para quem traz consigo uma visão diferente, mais amplificada e solta de uma cidade. Aqui, vive-se a cidade e as suas pessoas intensamente. Para o bem ou para o mal, mas vive-se. Deixei Copacabana e fui morar no Bairro Maracanã, Rua Guimarães Natal. Isto há quase 15 anos. E foi um difícil começo.
Aprendi a me conformar a viver em Anápolis para, rapidamente, aprender a amar. Daí a começar a defender esta cidade e seus valores e talentos, me lançar ao desafio de ser um anapolino (ou anapolitano, como diz meu sempre querido Érides Guimarães) foi um pulo. Hoje saio no tapa com os anapolinos que gostam de falar mal daqui.
Aliás, agora explico o título do artigo. Uma das primeiras modas anapolinas que aprendi foi que é chique falar mal de Anápolis. Se estiver em outra cidade então é obrigatório. “O anapolino é um bairrista às avessas”, sentenciou meu pai a mim com uma semana que eu estava aqui com ele e eu nunca esqueci desta atestação. Ele estava e está certo. Porque há ainda quem goste e ache-se na obrigação pessoal de falar mal de Anápolis. Uma demonstração de amor às avessas. Estranha e tacanha atitude, eu pontuo.
De todos os mistérios anapolinos que me projetei a desvendar, este é um que eu nunca consegui encontrar sentido ou solução. Para mim e para tantos que vem de fora ou a vêem ao longe, Anápolis é uma filial do paraíso no sentido lato. Próspera, acolhedora e gentil a quem chega disposto a chegar bem. Quem fala mal de Anápolis não mereceria extrair o bem que ela,a cidade, faz a todos nós.
Hoje eu sei: Anápolis estende a mão a quem vem de braços abertos até ela.
Parabéns, minha cidade. E obrigado por tudo até aqui.
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