Dilma e Cunha partilharam de espaços quase contíguos nos últimos cinco anos. Afinal, poucos passos separam a Câmara dos Deputados do Palácio do Planalto. Tão próximos fisicamente, tão distantes ideologicamente. Um não gosta do outro, o outro não gosta do um; não têm qualquer tipo de afinidades, em comum, contraditoriamente a rejeição. Ambos são rejeitados, embora por ´virtudes´ ou ´deslizes´ diferentes.
Muitos, este escriba entre eles, não apostavam que Cunha chegasse tão longe e, consequentemente, que Dilma se despedisse tão precocemente do Governo. Dilma errou, errou muito, não fez corretamente os deveres de casa, isolou-se com meia dúzia de maus conselheiros e governou de costas para aqueles que a elegeram, não uma, mas duas vezes. Foi ingênua politicamente. Mais do que subestimar adversários, supervalorizou novos aliados antes inimigos históricos. Está sendo julgada e condenada pelo Congresso, feudo de Cunha. Não há, no entanto, crime tipifícável em sua conduta: não roubou, não desviou recursos para contas pessoais, não foi julgada. Incompetente, política e administrativamente, sim. Mas, seriam estes, motivos justos para um impeachment? Pedaladas fiscais são praticadas nestes rincões desde muito tempo. União, estados e municípios o fazem e, ninguém nunca foi punido. Concordo, no entanto, que erros não devam ser estimulados. Devam ser corrigidos.
Cunha roubou, desviou recursos, usou até a Igreja para desviar recursos, achacou, intimidou testemunhas, enriqueceu-se ilicitamente, um verdadeiro 171. Contra si não uma, mas, seis contas declaradas no exterior. Contra si, um processo ético instaurado cerca de dois meses antes do processo de Dilma, ainda em fase de instrução. Cunha manipula, ameaça seus pares, troca os membros de Conselho de Ética. Alguns já, até, duvidam que ele seja condenado.
Se o rito seguisse a ordem natural das coisas, estaríamos falando do outono de Cunha. No entanto, quem assiste as folhas voarem em terreno seco é Dilma, enquanto a primavera com seu verde vigor ainda sorri para Cunha.
O ciclo de Dilma parece fechar-se no próximo domingo. O ciclo de Cunha teima em postergar-se. Justo dizer que Cunha foi mais competente, soube manipular com destreza seus pares e enxergou no ocaso de Dilma a esperança de continuar vicejando por estes Trópicos.
Sem Dilma em seu outono, talvez com Cunha sempre primaveril, com certeza com Temer, uma incógnita a anunciar um novo período que se inicia a partir de segunda-feira. Com este novo período é provável que o dólar caia, a Bolsa suba, frutos da esperança que uma nova estação sempre traz. É preciso, no entanto, ter cuidado com os veranicos, pois, neles se encontram as maiores tempestades.
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