Lamentável dizer, mas é verdade. Vivemos no país da embromação, onde a máxima é “não deixe para amanhã, o que se pode fazer depois de amanhã”. O pior de tudo é que estamos nos habituando a isso. Já se tornou comum, irmos ao médico, seja pelo SUS, seja pelo plano mais caro que existe, e termos de esperar duas, três ou mais horas. Nem pagando a consulta à vista, somos atendidos. E quando chega a nossa vez, o médico pede cinco, seis, dez exames. A maioria dos pacientes, que não tem como fazer, fica dois, três meses tentando e, quando consegue, a doença já se agravou, ou, em muitos casos, desapareceu.
Nas repartições públicas a coisa é pior. Para se conseguir um carimbo, uma certidão ou uma simples informação, não são raras as vezes em que temos de procurar o serviço por repetidas oportunidades, falar com mil pessoas, esbarrando, invariavelmente, na famosa burocracia. Isso, quando o contribuinte não é assediado tipo assim: “Ah, isso aqui é complicado, mas se o senhor der uma gorjeta sai mais rápido”. Quem ainda não se deparou com uma situação dessas, certamente é um felizardo.
Aos exemplos da saúde e das repartições públicas, podem-se juntar muitos outros, numa demonstração de que o povo brasileiro é, mesmo, massa de manobra. Se tiver pistolão, se tiver influência política ou econômica, às vezes dá-se um jeito. Entretanto, na maioria absoluta dos casos, é o jogo de empurra que vale. E não adianta choramingar. Quem ainda não foi reclamar da conta de luz, do telefone, da água, de tudo e voltou para casa frustrado, sem resolver a situação? Quantas e quantas vezes somos enganados, relegados a segundo plano quando buscamos atendimento em setores essenciais?
Finalmente, alguém algum dia, procurou o vereador, o deputado, o senador, o prefeito, o governador em quem votou, em quem depositou a confiança, e foi atendido? Se foi, com sidere-se um grande sortudo, Porque, na maioria esmagadora das vezes, nós, os simples mortais, não passamos da primeira secretária, ou recepcionista. “Vou avisar que o senhor esteve aqui, depois telefono dando um retorno”. É assim, ou não é? Vivemos, ou não vivemos num país do faz de conta, da enganação, onde o povo é pouca coisa mais do que nada, onde o fingimento é regra geral, onde cada um quer ser mais esperto do que o outro? Principalmente se esse outro for gente simples. Um dia o povo se cansa disso.
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