Existem várias versões, lendas e fábulas a respeito do surgimento do panetone. Algumas delas bem românticas como a história de um jovem milanês membro da família Atellini, que se apaixonou pela linda filha do padeiro, chamado Toni que, por sua vez, não aprovava o namoro. Para impressionar o padeiro, o rapaz disfarçou-se de ajudante e, passados alguns dias de trabalho, inventou um maravilhoso pão, naturalmente fermentado e com frutas, de extrema delicadeza e de sabor especial. O sucesso foi tanto que todos iam à padaria para comerem o pão de Toni.
Em História da Culinária retiro que a real história do panetone, no entanto, se perdeu no tempo. E o que podemos encontrar, hoje, são apenas muitas lendas, nada provado. Uma delas diz que o panetone foi feito, pela primeira vez, no século III D.C. Teria a forma de um pão grande e era fabricado
com uma massa conservada pronta, modelada e, depois, posta para assar. História um tanto quanto sem graça.
Nada que se compare, no entanto, à história do panetone candango. Conta a história que um escroque vivia das sobras das mesas palacianas. Um governador necessitado de acumular riquezas, contratou um padeiro reconhecido nas artes de fazer um panetone com recheio especial. Chamava os fornecedores do Palácio governamental que traziam todo tipo de iguarias capazes de rechear um pão, notadamente algumas cédulas que, besuntadas de chocolate, eram fornecidas aos comensais do palácio. Alguns desses comensais, satisfeitos com tão generosas porções de pão, ainda se davam ao displante de cometerem grosserias, tais como levar os panetones nos bolsos dos paletós, em bolsas caríssimas e até em sacolas de supermercado. Certa vez, um desses gulosos foi flagrado levando o panetone entre as meias. Outro, ainda mais abusado, recheou as cuecas com o pão inchado e doce. Flagrado, disse que levaria aquela deliciosa iguaria para ser distribuída às crianças carentes que residiam próximo à sua casa.
Conta-se, ainda, que sempre ao final da distribuição do acepipe, os comensais se reuniam para agradecerem por tão nobre dádiva. O sucesso do panetone candango é tamanho que ao longo dos anos vem ganhando adeptos entre governantes, tribunos e outras figuras da corte. Existe, inclusive, destinado a pouquíssimos privilegiados, um panetone da sorte, envolto em um ramo de arrudas.
E pensar que só os italianos concebiam fábulas.
Passado, presente, futuro!
O ano que chega, como reza a tradição, é um convite à reflexão acerca daquilo que passamos no ano anterior...